Revista de Psicofisiologia, 2(1), 2000

O Sono, destacando o sonho, o ritmo biológico e a insônia

4.5) Tratamento
    Adormecer descansa o corpo, alivia os problemas emocionais, mas para o cérebro, é um período de intensa atividade. Durante as diversas etapas do sono, o cérebro desliga certos circuitos que funcionam mais durante o período em que está acordada e, ao mesmo tempo, liga outros neurônios que vão zelar pelo organismo durante o repouso. O processo pode ser comparado a um mergulho em que o nadador vai lentamente explorando regiões cada vez mais profundas. Cada profundidade corresponde a um estágio do sono sadio.

    Terapias que misturam técnicas de relaxamento, técnicas psicoterápicas e comportamentais e administração de hipnóticos podem curar quase 90% dos casos de insônia. Dados revelaram que as mulheres são mais decididas que os homens quando se trata de procurar um médico, alguns homens acham que é demonstração de coragem pessoal enfrentar noites mal dormidas.

- Medidas terapêuticas gerais: O que fazer? Aconselhar o paciente a:
-evitar de cochilar ou dormir durante o dia,
-aumentar a atividade física durante o dia e evitá-la antes de se deitar,
-restringir café, cigarro, bebidas alcoólicas, principalmente nas horas próximas de se deitar,
-regularizar o horário de ir para cama,
-evitar situações mentalmente estimulantes pouco antes de dormir,
-comer pouco à noite e somente alimentos leves,
-aprender a relaxar,
-um banho quente ajuda também,
-levantar pela manhã em horário regular ajuda a estabilizar o ritmo circadiano,
-a temperatura do dormitório e a roupa de dormir devem ser agradáveis,
-música suave e relação sexual facilita o aparecimento do sono,
-técnicas psicoterápicas e terapias comportamentais ajudam no sentido de reduzir seus temores em relação à insônia e desviar sua atenção dela, como por exemplo: hipnose, o relaxamento muscular progressivo, o condicionamento clássico e a biorretroalimentação.

    Após detalhado exame médico, se constatada a necessidade temporária, pode-se administrar hipnóticos, em doses terapêuticas, para pacientes com insônia. Cloridrato é um sonífero que tem efeitos colaterais graves se for administrado em altas doses. Anti-histamínicos são usados para alergias, provocam sonolência e têm muitos efeitos colaterais. Antidepressivos em doses muito baixas induzem bem o sono, principalmente daqueles que têm insônia de infância e sono não restaurador. Podem causar boca seca, prisão de ventre, aceleração do pulso, problemas urinários e impotência. Tranqüilizantes e soníferos são praticamente a mesma coisa. Os tranqüilizantes ajudam relaxar e a diminuir a ansiedade. Aspirina funciona como sonífero, mas tende a diluir o sangue e demora quatro horas para atuar.

    Hipnóticos barbitúricos apresentam as seguintes características: elevada toxidade em altas dosagens, estimulam o sistema microssomal hepático, acelerando o metabolismo de outros produtos, provoca dependência e com 10 a 20 dias ocorre o desenvolvimento de tolerância ao seu efeito.

    Características dos benzodiazepínicos: não associados a outros depressores do sistema nervoso central não são letais, não estimulam o sistema microssomal hepático, dificilmente levam à dependência física, quando usados sob controle e são eficazes por curto prazo. Em pacientes idosos, devido a uma diminuição da eficiência funcional do sistema microssomal hepático, responsável pela degradação dos benzodiazepínicos, têm um efeito potencializado.

    Quando utilizamos um hipnótico, desejamos um efeito temporário, restrito normalmente ao período noturno. O hipnótico ter  uma duração mais prolongada quando sua distribuição e inativação forem lentas

    Na insônia transitória, ou de curta duração, deve-se administrar, por até três dias, pequena dose de um hipnótico de eliminação rápida. Para a insônia de longa duração, após avaliação exaustiva do ponto de vista médico-psiquátrico deve-se administrar hipnóticos específicos.

    Os hipnóticos de curta ação diminuem o atraso do sono, o tempo de vigília após o início do sono, o tempo total de vigília e o número de despertares. Há um aumento do tempo total de sono. Ocorre a diminuição do estágio um e aumento do estágio dois. O sono MOR sofre poucas modificações. A duração dos estágios três e quatro diminuem.

    Os hipnóticos são contra-indicados nos seguintes casos: pacientes com apnéia do sono e alcoólatras. Hipnóticos que deprimem o sistema nervoso central potencializam o efeito do álcool e gestantes.

    Por terem efeitos colaterais mais amenos e eficazes, apresentaremos uma visão mais detalhada a respeito dos benzodiazepínicos. Os benzodiazepínicos não atuam nos mecanismos diretamente responsáveis pelo sono. Induzem e mantêm o sono provavelmente porque provocam a redução da tensão emocional e do hiperalerta, possibilitando a atuação dos mecanismos fisiológicos indutores do sono. Os benzodiazepínicos interagem com o neurotransmissor GABA, inibitório. Eles potencializam os efeitos do GABA e são inativos na ausência deste. Os benzodiazepínicos exercem uma ação depressora mais seletiva sobre o sistema nervoso central. Não interferem com a excitabilidade da membrana neuronal, nem diminuem a transmissão excitatória. Não interferindo diretamente com a liberação de transmissores excitatórios, nem diminuindo a resposta a esses transmissores, seus efeitos se restringem a potencializar a transmissão inibitória do neuro-transmissor GABA.

    O mecanismo de ação dos benzodiazepínicos não está completamente esclarecido. Cada um de seus diversos efeitos pode decorrer de uma mesma ação unitária em diferentes sistemas ou, com menor probabilidade, de ação diferencial em receptores específicos para cada efeito. São efeitos típicos dos benzodiazepínicos: sedativo-hipnótico, tranqüilizante-ansiolítico, relaxante muscular, anticonvulsivante, indutor de amnésia. A maioria dos benzodiazepínicos são bem absorvidos pelo trato gastrointestinal e atravessam a barreira hematocerebral com relativa facilidade. Ao chegar na corrente sangüínea a maioria dos benzodiazepínicos liga-se extensamente a proteínas plasmáticas e teciduais. Os benzodiazepínicos são amplamente distribuídos aos diversos fluidos e tecidos biológicos. A velocidade da distribuição depende da perfusão tecidual, da ligação a proteínas e das características físico-químicas de cada droga. É essencial considerar não só o composto original do benzodiazepínico, mas seus metabólicos ativos.

    Drogas com efeito prolongado se acumulam e são mais propensas a determinar efeitos residuais, como sonolência e prejuízo do desempenho na manhã seguinte. Entretanto, podem exercer um efeito ansiolítico potencialmente benéfico para pacientes ansiosos com insônia. Pode também contribuir para que os efeitos das drogas cessem lentamente após sua retirada, atenuando os efeitos rebote observados após a interrupção abrupta de hipnóticos de ação curta. Permitem a utilização de um esquema de administração intermitente.

    Os benzodiazepínicos de efeito prolongado diminuem acentuadamente os estágios três, quatro, e MOR e aumentam a duração do estágio dois. Há um aumento de atividade delta durante o estágio dois, resultando na manutenção da quantidade total de ondas lentas durante o tempo total de sono.

    Os benzodiazepínicos interferem principalmente na velocidade de desempenho em tarefas envolvendo repetição de atos simples, aprendizado e memória de longa duração.

    Pode ocorrer dependência física após uso prolongado ou doses muito elevadas. Quando há interrupção abrupta do uso dos benzodiazepínicos há sintomas de abstinência mais graves do que quando a interrupção é gradual. O rebote do sono MOR consiste em aumento significativo dessa fase do sono em relação à sua linha de base após a suspensão de uma droga que diminui acentuadamente esse estágio do sono.

    Os benzodiazepínicos podem estar associados a fenômenos de "toxicidade comportamental", as chamadas reações paradoxais. Os principais tipos de reação paradoxal são depressão, distúrbios do comportamento, hostilidade, agressão e ira. Há atitudes que podem facilitar o combate à insônia, por exemplo: reduzir o tempo de sono, não forçar a dormir sem sono, não ter medo da insônia etc.

    Segundo o Instituto Americano de Saúde, o uso contínuo de sonífero é condenado porque provoca amnésia parcial, depressão e, em alguns casos, dependência física.