Revista de Psicofisiologia, 2(1), 1998

Sobrevôo: da ontogênese, passando pela infância e se detendo na velhice

2.4) Influência social

Pode-se observar grandes influências sociais no desenvolvimento humano. Segundo Goleman (1995), a herança genética pode ser mudada pelo convívio social. Por exemplo, uma criança que nasce com uma superexcitabilidade na amígdala apresentará um temperamento tímido. Através de experiências, foi comprovado que pode se domar essa superexcitação da amígdala com experiências específicas. O que faz a diferença são as lições e respostas emocionais que as crianças aprendem enquanto crescem. Para a criança tímida, o que importa no inicio, é como ela é tratada pelos pais, e como aprende a lidar com a sua timidez natural. Os pais que arquitetam graduais experiências encorajadoras para os filhos proporcionam-lhes o que pode ser um corretivo de seu medo, para toda a vida.

Então, o papel dos pais deve ser o de possibilitar uma abertura para a criança ampliar o seu esquema dando os limites necessários, para a criança não se perder, pois se estes limites não são estabelecidos, a criança pode se identificar com grupos sociais indesejados pelos pais. Isto é o que ocorre com adolescentes que se juntam às gangues de marginais, ou drogados, para construir a sua identidade.

A violência cresce como uma epidemia, espalha-se por todo o pais e leva o pânico às famílias brasileiras. Pessoas que já passaram por um trauma devastador talvez, jamais voltem a ser as mesmas. As crueldades humanas gravam na memória de suas vítimas um modelo que encara com medo qualquer coisa vagamente semelhante ao próprio ataque.

Mas, essas fortes lembranças emocionais, os padrões de pensamento e reação que elas disparam podem mudar com o tempo. Parece que esse reaprendizado emocional é possibilitado pelo córtex pré-frontal esquerdo da cognição, que funciona como uma alternativa racional das exigências da angústia detonada, seja pelo córtex frontal direito ou sistema límbico. Davidson, em Goleman (95), constatou que as pessoas que tinham mais atividade no córtex pré-frontal esquerdo superavam mais rapidamente o medo adquirido. LeDoux e Morgan, em Goleman (95) comprovaram esta interação em ratos. Essa descoberta e outras iguais oferecem a promessa de que as mudanças cerebrais que ocorrem diante a um trauma, não são indeléveis, e que as pessoas podem recuperar-se mesmo das mais angustiantes cicatrizes emocionais. As respostas emocionais são inevitáveis, mas cabe ao córtex racional oferecer opções para dar uma vazão a elas.

É interessante colocar, que as crianças superam um trauma muito mais facilmente do que um adulto, pois elas conseguem reconstruir a história traumática várias vezes, num ambiente de segurança, em companhia de um terapeuta em quem se confia. Os adultos também podem se recuperar de um trauma dessa maneira, mas eles já possuem uma certa dificuldade em relembrar aqueles momentos tão marcantes para a sua vida.

A socialização apresenta pontos positivos e negativos no desenvolvimento humano. Quando uma pessoa é socializada, ela é ensinada pelos pais a andar, falar, como se comportar etc. Neste caso, a socialização serve para ampliar as habilidades humanas, pois, como é sabido, os genes do homem são 98% idênticos aos do chimpanzé, por isto, o que conta na diferenciação dos seres, é a influência do meio ambiente na maturação. Crianças humanas, que foram educadas até a última infância por animais selvagens, adquiriram o comportamento desses animais, não aprenderam a falar e tinham as áreas da fala e do desenvolvimento mental imaturadas (Malson). Mas, ao mesmo tempo que a socialização possibilita um desenvolvimento humano, ela pode reprimir o indivíduo e o levá-lo para caminhos indesejados.