3) ESQUIZOFRENIA
3.1) Definição
A esquizofrenia
constitui-se no mais grave dos distúrbios mentais, atingindo cerca de 1%
da população, constituindo-se na principal causa de internações psiquiátricas.
É uma doença crônica que se caracteriza por distúrbios do pensamento,
com idéias de perseguição e perda das conexões lógicas, que também
se manifestam na linguagem:
-
da percepção, na
forma de alucinações auditivas e visuais;
-
dos sentimentos,
com embotamento emocional e incongruência entre afeto, pensamento e ação;
-
do comportamento
motor, apresentando rigidez dos movimentos, estereotipia motor e agitação,
ou pelo contrário, imobilidade e da volição, com perda da força de
vontade.
Como exemplo da perda
das conexões lógicas, observemos a seguinte sequência de pensamentos:
(A): " Está quente hoje." (B): "Eu me pergunto o que tem
para jantar hoje a noite. (C): "Eu ainda não paguei meu imposto de
renda." A este tipo de sequência de pensamento não se pode aplicar
a sequência lógica e clara como de um indivíduo normal. O pensamento
para o normal seguiria uma lógica: (A): "Está quente na aula,
hoje". (B): "Queria que a janela estivesse aberta". (C):
"Queria que esta conferência tivesse acabado". As associações
entre A, B e C fazem o padrão de pensamento perceptível e lógico.
Os episódios
esquizofrênicos dividem-se entre os períodos dos surtos, nos quais
manifestam-se os sintomas positivos da doença, como as alucinações e
delírios, e sua fase crônica, caracterizada pela predominância dos seus
aspectos negativos, como o embotamento afetivo e perda da volição. Nesta
fase há ausência de prejuízos das demais funções psicológicas.
A esquizofrenia foi
caracterizada em finais do século XIX pelo psiquiatra alemão E.
Kraeplin, que enfatizou seu início na juventude, assim como seu curso
persistente, com progressiva deterioração da capacidade mental,
chamando-a de "dementia praecox". E. Bleuler enfocou os
acentuados distúrbios de várias funções psicológicas verificadas nos
surtos agudos da demência precoce, principalmente a fragmentação entre
o pensamento e as emoções, que o levaram a rebatizar essa condição mórbida
com o nome de esquizofrenia, adotado desde então. As classificações
modernas, como o DSM-IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental
Disorders) levam em conta tanto as manifestações das fases ativas, como
o sua fase crônica com progressiva deterioração mental como critérios
para definir a esquizofrenia. No DSM-IV a esquizofrenia é definida nas
suas características essenciais com presença de sintomas psicóticos
(delírios, alucinações, dissociação do pensamento, comportamento
catatônico, afetividade embotada). Durante a fase ativa da doença, há
descuido nas relações sociais, como de trabalho, amigos, escola, nas
relações familiares e nos cuidados pessoais, com duração de no mínimo
seis meses. É essencial que se descarte o envolvimento de fatores orgânicos,
como doenças que apresentem sintomas similares de psicose, assim como
fazer o diagnóstico diferencial entre distúrbios de humor associado a
sintomas psicóticos ou distúrbio esquizoafetivo. Este último, tem duração,
história familiar e evolução diferentes. De acordo com o predomínio de
um ou outro sintoma, a esquizofrenia é subdividida em diferentes tipos :
-
Residual -
anteriormente chamada de esquizofrenia simples, estão presentes os
sinais negativos da doença: afastamento e inadequação social,
comportamento excêntrico, inadequação afetiva e pensamento ilógico.
Há ausência dos sintomas positivos e pruridos de outras formas de
esquizofrenia. Não são observados sintomas catatônicos, delírios
ou alucinações, tornando-a por isso o tipo de mais difícil diagnóstico.
O quadro progride durante anos, levando lentamente à destruição da
personalidade. Os indivíduos afetados demonstram, em sua fase
inicial, uma falta de consideração para com seus familiares e amigos
e indiferente negligência às obrigações sociais, podendo
demonstrar alguma amabilidade superficial para com os estranhos, mas
todos os sentimentos profundos parecem inexistir.
-
Desorganizada -
chamada antes de hebrefênica, caracterizada pela incoerência,
desagregação do pensamento e da conduta, afeto incongruente ou
embotado. Os atingidos, por esta forma de esquizofrenia, apresentam os
mesmos sintomas negativos da forma residual, mas apresentam maior
desordem do pensamento que aqueles, tornando-se muitas vezes indivíduos
sem destino e objetivos, num estado de devaneio permanente. Não
conseguem concentrar-se numa leitura ou num trabalho, a menos que
sejam supervisionados e dirigidos a cada passo. Sentem-se atraídos
por idéias pseudocientíficas ou pseudofilosóficas e consideram-se
capazes de realizar grandes descobertas e invenções, sem que isto
seja acompanhado de nenhuma atividade ou qualquer tentativa de
realizar suas pretensões.
-
Catatônica -
apresenta alterações na psicomotricidade, como estupor, rigidez,
excitação, negativismo e posturas bizarras. As características
associadas são : estereotipias, maneirismos, mutismo e flexibilidade
cérea. O estupor é caracterizado por um bloqueio transitório de
certos movimentos até imobilização total do enfermo numa postura
fixa. O negativismo se manifesta sob a forma de recusa de alimentos,
sujar a roupa ou cama com urina e fezes, resistência a toda ordem,
como para se vestir ou lavar-se. Os estados de imobilidade transitória
duram desde alguns minutos até várias horas e podem vir acompanhados
de medo ou alucinações, mas geralmente não têm nenhum conteúdo ou
motivação psicológica. A grande variedade de estereotipia de
movimentos engloba de simples comportamentos motores até complicadas
hipercinesias de caráter altamente simbólico.
-
Paranóide -
marcada pelos delírios, freqüentemente de natureza persecutória e
pelas alucinações auditivas. As características associadas são
ansiedade, violência e alterações das interações sociais. É o
tipo mais homogêneo e menos variável. Os delírios primários são
seguidos por interpretações delirantes, constituindo-se nos
principais sintomas e, com as alucinações, podem estabilizar-se como
o único distúrbio de uma psicose crônica por muitos anos.
-
Indiferenciada -
com sintomas que não podem ser classificados nas categorias
anteriores ou quando preenchem simultaneamente os critérios para mais
de um tipo
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