Revista de Psicofisiologia, 1(1), 1997 |
3.2) Etiologia
É demonstrado por várias pesquisas que fatores sociais e genéticos interagem no estabelecimento da esquizofrenia. Estudos efetuados com pares de gêmeos monozigóticos e dizigóticos indicaram uma concordância no aparecimento da doença de 50% para os pares monozigóticos e de 10 a 15% para os gêmeos dizigóticos. Portanto, se a causa fosse puramente devida a fatores genéticos, a concordância seria de 100% para os pares monozigóticos, mas o índice de 50% implica, de qualquer forma, uma forte influência de fatores genéticos no aparecimento da doença. Estudos recentes parecem indicar certas disfunções de movimentos oculares, detectados durante movimentos de perseguição lenta, como marcadores biológicos para a esquizofrenia, pelo fato que estes movimentos sacádicos ocorrem em cerca de 70% dos esquizofrênicos em contraste com cerca de 8% da população normal. Além disso, aparece em cerca de 45% dos parentes não esquizofrênicos de primeiro grau. Constata-se que alguns pacientes esquizofrênicos sem a manifestação desses traços possuem pais que os apresentam, isso levou à formulação de um modelo chamado traço latente que propõe que a transmissão genética deste traço pode produzir a esquizofrenia, os distúrbios oculares ou ambos. Acredita-se que o traço latente pode representar um processo patológico que pode acometer determinados sítios cerebrais. Mais recentemente, passaram a estudar as doenças mentais com o uso das técnicas da genética molecular, em busca de seus fatores causais. Em 1987 localizou-se o gene do distúrbio bipolar no cromossomo 11, um outro gene, este no cromossomo 5, foi associado à esquizofrenia, indicando de modo claro a natureza monogênica dos distúrbios mentais, porém tais achados não foram confirmados por estudos subsequentes. Há evidências, ainda, da interação dos fatores ambientais e socioculturais, como as interferências da vida intra-uterina, na forma de infecções viróticas, desnutrição acentuada nas primeiras semanas da gravidez, levando à uma má formação do sistema nervoso numa fase crítica, aumentando a incidência da esquizofrenia. Possivelmente, um fator genético aumenta a vulnerabilidade do sistema nervoso central exposto a agentes externos. Os fatores socioculturais parecem mais influenciar as manifestações da esquizofrenia do que em sua gênese propriamente dita. A doença é descrita em todas as camadas sócio-econômicas e culturas estudadas, encontrando um maior número de esquizofrênicos entre as camadas mais baixas da população, devido ao "estresse" a que são submetidos essas pessoas, pois verifica-se, comumente, que as situações de "estresse" precedem a um surto, assim como agravam o quadro sintomático. Há evidências que a esquizofrenia seja precipitada por fatores que provocam uma disfunção no sistema límbico anterior e no lobo frontal, principalmente do hemisfério esquerdo, tornando certas pessoas suscetíveis à doença, devido a uma predisposição genética que levaria a uma organização peculiar do sistema límbico e equilíbrio inter-hemisférico. Tais indivíduos, que podem ter traços de personalidade esquizóides ou psicóticos, que teriam algum valor adaptativo em determinadas circunstâncias, seriam susceptíveis à esquizofrenia se submetidas à situações estressantes, que poderiam ser : trauma perinatal, infecção com vírus neurotópicos, drogas, estresse psicossocial, dentre outros. O esquizofrênico sofreria duma disfunção do hemisfério esquerdo, assim como um déficit na comunicação inter-hemisférica, levando-o a utilizar de modo excessivo, o hemisfério esquerdo, mal-funcionante, que interpreta erroneamente as informações vindas do hemisfério direito, o que daria origem às alucinações auditivas e idéias delirantes. As áreas do sistema límbico que parecem estar mais implicadas na esquizofrenia são, entre outras, o pólo do lobo temporal e o córtex pré-frontal no subcórtex. Destacam-se o núcleo accumbens, a área tegmentar ventral do mesencéfalo, a amígdala, o hipocampo e o tálamo, o qual estaria relacionado com as alterações perceptuais a as demais estruturas afetivas e motivacionais . Atualmente têm-se duas hipóteses que procuram explicar a fenômeno da esquizofrenia: a dopaminérgica e a serotoninérgica sendo a primeira a mais aceita e difundida. A seguir, as hipóteses propostas para a esquizofrenia. |