Revista de Psicofisiologia, 1(1), 1997

A dor e o controle do sofrimento (II)

8) ANESTESIA EXÓGENA

A palavra ANESTESIA traduz um estado de insensibilidade geral que pode levar a inconsciência, ao pé da letra, significa perda dos sentidos; pode ser produzida através da ingestão de drogas ou pode ser sintoma determinante de moléstia.

A principal diferença entre os termos ANESTESIA e ANALGESIA é que nesta última ocorre inibição da sensibilidade dolorosa sem perda da consciência.

Métodos anestésicos podem ser reduzidos a apenas analgésicos, dependendo do tipo de técnicas, doses e/ou concentrações das drogas utilizadas.

Os narcóticos e outros tipos de anestésicos, em alguns casos, produzem efeitos secundários, principalmente se administrados em doses muito altas, provocando adormecimento de uma parte do corpo ou inconsciência, enjôos e dificuldade respiratória causada por depressão no centro respiratório da formação reticular. Em muitos partos a anestesia geral provoca dificuldades respiratórias como efeito secundário, por isso deve-se dar preferência para as anestesias local ou peridural. Por esse motivo, a manutenção de boas condições respiratórias é necessária para êxito de qualquer procedimento anestésico. Uma anestesia deve ser sempre precedida da medicação pré-anestésica que tem por finalidade: sedação, analgesia, redução do metabolismo basal e redução do consumo de oxigênio, bloqueio do sistema nervoso parassimpático a fim de que secreções salivares e brônquicas sejam reduzidas para não produzir asfixia, diminuição de quantidade de anestésicos administrados durante o ato cirúrgico, combate de determinadas reações alérgicas, etc. As ações descritas a cima explicam porque, logo após a ingestão de drogas, o paciente sente sono, boca seca e o pulso mais rápido, tornando-se mais calmo.

A profundidade da anestesia pode ser avaliada através de uma série de sinais que são pesquisados e registrados a curtos intervalos de tempo. Os principais são : reflexo palpebral, ciliar e corneano, movimentação dos olhos, profundidade, ritmo e freqüência dos movimentos respiratórios,comportamento da pressão arterial e do pulso, tônus muscular e óxido nitroso.

Entre os métodos de aplicação de anestesia, o mais utilizado é por via endovenosa, através de drogas como propanida, quetanina (neurolépticos, diazepínicos) e analgésicos potentes; contudo os tiobarbituratos são mais utilizados por uma série de vantagens, mas principalmente porque permitem uma indução anestésica agradável. O paciente passa por um estado de inconsciência rápida, mas suave, sem desconforto, nem mal estar. A anestesia por via retal é pouco utilizada atualmente. A anestesia por via inalatória pode ser conseguida através do emprego de agentes gasosos, ou líquidos voláteis como o éter e o tridotileno. O éter como anestésico tem caído em desuso porque é de difícil dosificação e seu uso em excesso o torna perigoso para o organismo.

A anestesia pode ser dividida em dois tipos: a geral ou sistêmica, e a loco-regional ou parcial.

A anestesia geral tem efeito sobre todo o corpo, deixando o paciente com total insensibilidade e inconsciente.

A anestesia loco-regional pode ser dividida em local, limitada a pequenas áreas; e regional, quando atinge porções maiores do corpo. Como qualquer droga, os anestésicos locais são difundidos do local da injeção pela circulação sanguínea e passam a agir em todo o organismo de maneira subliminar.

Os anestésicos locais do grupo de tidotileno, que são a maioria empregados bloqueiam o canal de sódio. Para a redução da velocidade de absorção , muitas vezes associam-se ao anestésico local drogas vasopressoras como a adrenalina, que atua retendo por maior tempo o agente, na zona anestesiada, e prolongando a ação de seus efeitos. Os anestésicos locais mais empregados são: a xilocaína , a marcaína , a lidocaína, a tetracaína e a novocaína. Os principais tipos de anestesia regional são: a raqueanestesia, anestesia peridural, o bloqueio dos plexos nervosos e a anestesia endovenosa regional.

A raqueanestesia consiste no bloqueio de raízes nervosas por drogas anestésicas (anestesias locais) introduzidas no espaço subaracnóideo; colocado aí, o agente difunde-se pelo líquido cefalorraquidiano e produz interrupção nervosa, tanto sensitiva quanto motora. A anestesia regional bloqueia o impulso quando este atinge o interneurônio.

A anestesia peridural é conseguida pela introdução da solução anestésica no espaço peridural (ao redor da dura-máter) e pode ser executada desde a região do pescoço até a sacra. Pela introdução de um catéter no espaço peridural, anestesia pode ser mantida durante horas ou dias. Sua eficiência tem se revelado no tratamento de dores que não são aliviadas pelos analgésicos comuns. A anestesia endovenosa regional constitui outro exemplo de anestesia regional e consiste na introdução de um anestésico local na veia de um membro, inferior ou superior, previamente exanguinado e garroteado com faixa de borracha. Desse modo, a droga difunde-se por toda a região situada distalmente do garrote, e assim mantendo a anestesia pelo tempo que durar o garroteamento. Neste caso, o potencial de ação não é transmitido. Esse tipo de anestesia permite a realização de diversos tipos de operações naquelas regiões como , por exemplo, redução de fraturas e amputações.