Revista de Psicofisiologia, 1(1), 1997 |
7.1) A Aplicação da Teoria do PortãoA teoria do portão permitiu integrar as dimensões sensoriais, afetivas e cognitivas, da dor; proporcionando uma compreensão de vários fenômenos antes inexplicáveis. De acordo com Melzack e Casey, as três categorias de atividades (seleção e modulação de influxo sensitivo, motivação ou afeto negativo, e processos neocorticais) "atuam umas sobre as outras para fornecer uma "informação perceptiva" relativa ao sítio, à amplitude e as propriedades temporoespaciais do estímulo nociceptivo, uma "tendência" (motivação) à fuga ou ao ataque e uma informação cognitiva repousam na análise da multímoda, da experiência anterior e da probabilidade de sucesso das diferentes estratégias de respostas. Estas 3 formas de atividades poderiam, pois influenciar os mecanismos motores responsáveis por esquemas ("patterns") complexos de reações manifestas, características da dor". A dor da lesão de nervos periféricos talvez pode ser explicada, através da teoria do portão, pela somação excessiva das fibras que convergem para as células T; e pela degenerescência das fibras nervosas. E a explicação, também de acordo com a teoria do portão, para a persistência dessa dor durante vários anos depois da agressão, talvez esteja relacionada ao fato de que a perda de todo tipo de fibra abre a portar à dor patológica. Quando não há queixa de dor após a lesão de nervos periféricos, sugere-se que o organismo solicitaria uma espécie de mecanismo de compensação : fibras descendentes inibitórias seriam ativadas para conservarem abaixo do nível crítico necessário para surgir dor em caso de descargas excessivas das células T. Dor fantasma : "A perda excessiva de fibras poderia ser origem de descargas centrais tão maciças que nenhuma inibição descendente lograria controlar". A quantidade de fibras preservadas é relevante para que haja descargas, e quando se amputa algum membro, por exemplo, todas as fibras não são, necessariamente, reativadas.Também os fatores genéticos são considerados para explicar as influências noradrenérgicas sobre as fibras lesadas. Segundo o mecanismo do portão, as células diferenciadas possuem propriedades fisiológicas anormais (o que explica o fato de nem todos doentes sofrerem com este tipo de dor) e as influências inibidoras não são suficientes para impedir a somação dos influxos. É como se o "portão ficasse aberto", criando condições necessárias para o aparecimento da somação, das latências, da irradiação dolorosa e das outras características das síndromes patológicas da dor. A teoria do portão também oferece explicação para a dor espontânea e somação temporo-espacial. Uma maneira para explicar a dor espontânea seria o fato de que a convergência dos impulsos nervosos nas células T contribuiria para o débito total, e na falta de um inibidor que opere depois da descarga inicial das células. T, estímulos sucessivos produziriam cada vez mais e intensamente impulsos dolorosos. Outra forma de explicar é através da lógica entre a perda das fibras periféricas e o tempo de percepção e reação. Com o número reduzido de fibras periféricas, as células T podem demandar mais tempo para atingir o nível de descarga necessária para desencadear dor. Por isso a percepção da dor e sua conseqüente reação aparecerem depois da lesão. "Além das influências sensitivas que atuam no controle do portão, existe também uma influência tônica, inibitória cerebral ". Quando a lesão reduz o débito descendente normal dos impulsos para o sistema de controle do portão, isto contribui para a sua abertura. Estes métodos que utilizam da teoria do portão para controle da dor evidenciam que existe vários fatores desde a lesão à percepção e reação à dor. Processos psicológicos podem ter um influência sobre a percepção da dor e a reação consecutiva, atuando no mecanismo espinhal do portão. Algumas atividades psicológicas podem fechar ou abrir o portão. Além dos processos psicológicos, fatores genéticos também podem explicar porque pessoas sentem mais ou menos dor. A teoria do portão
tem mostrado que muitas técnicas antigas para diminuir a dor não são só
superstições, têm fundamentos fisiológicos e psicológicos. Ela se
aplica aos casos de cognição, tal qual o tratamento pré-natal e assistência
psicológica à doentes. Ao reduzir a ansiedade ou angústia dos
pacientes, é possível que ele distraia sua atenção e pare de
concentrar-se na dor ou lesão. Baseado na atenção distração, também
podemos explicar porque a dor noturna é mais intensa, na noite o ambiente
de distração é bem menor. Também através da teoria do DO-IN : Quando é possível estabelecer um "clima" tranqüilo (psicologicamente) reduzem-se os influxos de fibras finas. O contrário acontece se um clima de intranqüilidade, insegurança, angústia, prevalecer; isto provocará a entrada de influxos proporcionando a somação e suscitando dor. Sabemos que as lesões no sistema central também produzem irradiação dolorosa; e a dor de uma "ferida" que não existe mais (mecanismo pela alteração neuronal. A hipnose pode provocar analgesia pela inibição das fibras finas ou excitação das fibras grossas; não se pode afirmar ser um ou outro, talvez ocorra os dois em níveis diferentes. A sugestão hipnóticas ajuda os doentes a adquirirem controle sobre certos tipos de dor lambálgica, oncológica e fantasma. Ela proporciona o relaxamento de diversos grupos musculares e atuam como reforço do ego. A hipnose desvia a concentração da pessoa na dor, para partes saudáveis, para o exercício de recuperar-se. Tais fatores contribuem para fechar o portão. É certo que a dor é muito mais que apenas reflexo biológico. Existe uma infinita espécie de fatores, ambientes, estados emocionais, cognitivos e psicológicos, que podem atuar com estimuladores ou inibidores da dor. A teoria do portão nos deu uma visão das várias maneiras existentes para minimizar ou abolir a dor. Que na vida saudável está relacionada com o saber sobre nós mesmos. É preciso conhecer nosso mecanismo corporal, orgânico e psíquico, para podermos usufruir de todas as facilidades do nosso corpo e ambiente, e vivermos cada dia melhor. |