Revista de Psicofisiologia, 1(1), 1997

A dor e o controle do sofrimento (I)

6) ASPECTOS CULTURAIS DA DOR

As representações no imaginário de cada cultura contam uma história particular a respeito dos universais com que se defronta o ser ao longo de sua passagem histórica pela Terra. Cada uma destas histórias particulares, sejam mitos, lendas, ou a própria forma de se conhecer e se falar a respeito da experiência, ou seja, algo como a ciência, é vivida por cada grupo de indivíduos ou comunidades culturais enquanto padrão e referência para interpretar significativamente a experiência, modulando a consciência e a ação.

A percepção e o significado da dor enquanto experiência universal do ser humano também é modulada pela cultura. Até poucas décadas atrás existia uma nítida diferença entre dois modos predominantes de Filosofia no mundo, o Ocidental e o Oriental - quase opostos ou aparentemente contraditórios - de construir um saber sobre a vida, o de ser e das prescrições para uma vida melhor.

De forma geral, no modo oriental, os organismos vivos são compreendidos como possuindo vários corpos, um deles físico e, os demais - variando em número segunda cada cultura, energéticos, conformando um todo indissociável não apenas em relação a si mesmo mas também em relação ao ambiente e ao universo.

Mas essa indissociabilidade não significa, para essas visões de mundo, que todos os corpos tenham uma mesma importância e/ou significado. Normalmente o mundo e o corpo físico, são entendidos como pertencendo à dimensão apenas "ilusória" da existência, devendo ser superados enquanto objeto de apego dos sentidos.

Tal perspectiva reforça os sujeitos a buscarem o equilíbrio entre diversos corpos energéticos e o corpo físico, sendo que a dor seria resultante do desequilíbrio entre eles, ou entre o ser como um todo e o seu meio. Assim, a dor é vista como um dos componentes de um todo - e não isoladamente. Cerca de 71% dos pontos sobre os cerca de 361 da acumputura oriental forma comprovados fisiologicamente na ciência ocidental, sendo os casos de insucesso ligados mais a partes distantes e os de sucessos quando se processaram substituir a teoria energética dos meridianos pelos campos mais próximos das raízes periféricas dos nervos. Considerando que esta última é baseada na confiabilidade e aquela na intuição e estados perceptuais é preciso muita cautela para interpretar o significado dos fatos por serem linguagens diferentes e muitas vezes não comparáveis, a saber, estamos tratando de coisas e de confiabilidade diferentes.