Revista de Psicofisiologia, 1(1), 1997

A dor e o controle do sofrimento (I)

7) HIPNOSE

A hipnose é um fenômeno psicossomático complexo que abrange tanto os elementos fisiológicos quanto os psicológicos.

Distante de ser uma arte de ilusionismo, entretenimento ou demonstração de "força pessoal", a hipnose é um recurso científico, baseado nos mais rigorosos alicerces neurofisiológicos e psicológicos. O estado hipnótico escapa a uma definição precisa, mas podemos conceituá-lo como um estado artificialmente induzido, guardando alguma semelhança com o sono, porém sempre fisiologicamente distinto do mesmo. Acarreta modificações sensoriais e motoras, alterações da atenção, da memória, gera respostas diferentes do estado psíquico normal e provoca o aumento da labilidade dos processos regulados pelo sistema nervoso autônomo, batimentos cardíacos, pressão arterial, respiração, digestão, etc.

Na hipnose o foco inicial é excitatório, mas a nossa palavra que se repete, sempre monótona, rítmica, débil e persistente, com o paciente colocado em ambiente neutro, livre de estimulações secundárias, em posição confortável e relaxamento corporal, provoca uma onda inibitória que parece se estender aos centros corticais mais altos. E leva em conseqüência a uma diminuição da sensação de realidade e alteração da consciência e do esquema corporal; ela pode até mesmo ser queimada ou golpeada, sem acusar sentimento de dor.

Apesar do aspecto ainda misterioso da natureza da hipnose, várias das suas características são importantes para a compreensão da contribuição dos fatores psicológicos na dor. O processo hipnótico tem, não só um efeito de placebo, mas também um outro adicional que aumenta ainda mais o limiar à dor e o limiar à sua tolerância. Isto porque a hipnose tem se mostrado resistente à naloxona, o que faz suspeitar da existência de centros controladores dos mecanismos analgésicos que não envolvem os peptídeos opióides.

É importante ressaltar ainda que nem todas as pessoas podem ser hipnotizadas.

Contudo, todo aquele que já tenha observado o comportamento de indivíduos hipnotizados, verifica-se tratar de um fenômeno muito interessante sob hipnose, as pessoas suportam, no decurso de demonstrações ou experiências, graus de dor que, naturalmente, as fariam gritar ou fugir. Têm sido feitas grandes intervenções cirúrgicas em todas as partes do corpo de pacientes hipnotizados. Inumeráveis artigos descrevem estas operações e citam intermináveis testemunhos assegurando que a hipnose é eficaz no alívio de dores clínicas intensas, como por exemplo a dor do membro fantasma. A hipnose também permite reduzir a quantidade de medicamentos necessários para uma analgesia satisfatória.