Revista de Psicofisiologia, 2(1), 1998

Panorama do sono e dos sonhos

3 - A IMPORTÂNCIA DOS SONHOS

Desde épocas remotas, o homem vem se questionando a respeito do sonho. A própria Bíblia, está permeada, tanto no Velho como no Novo Testamento, de histórias onde um "ser" aparece na noite para indicar caminhos, quebrar grilhões, trazer soluções, "mesmo os povos primitivos costumavam descer ao recôndito de suas cavernas e dormir sobre os túmulos dos antepassados ou sobre as peles de animais oferecidos em sacrifícios, na esperança de conseguir curas através dos sonhos"8.

Em 1862, Alfred Maury faz as primeiras tentativas para explicar as causa do conteúdo mental dos sonhos. Este médico francês propôs, que os sonhos aparecem como atos reflexos a estímulos sensoriais à sua volta.

Mais tarde Sigmund Freud o propôs como útil no tratamento de enfermidades nervosas. Freud distinguia dois componentes principais dos sonhos, o conteúdo manifesto (expresso pelo paciente) e o conteúdo latente, que era inferido por Freud de acordo com a simbologia cunhada por ele mesmo. Foi o primeiro a se interessar em que momento os sonhos surgem.

Esses pioneiros tratavam o estudo dos sonhos sem que houvesse um interesse na relação que existe entre eles e o estado funcional do cérebro. Foram influenciados pela ideologia cartesiana, divorciando a mente do cérebro, e não dispunham de uma tecnologia que permitisse explorar o funcionamento cerebral.

Em 1929 Berger desenvolveu o método do eletroencefalograma (EEG), tornando possível o registro da atividade elétrica cerebral no homem. Isto permitiu estabelecer uma relação direta entre os estados de consciência e atividade eletrofisiológica do cérebro.

Em 1953, Aserinsky e Kleitman verificaram melhor que o sono de ondas lentas é interrompido periodicamente por episódios de atividade rápida no EEG, que se acompanham de Movimento Oculares Rápidos. O descobrimento do sono MOR no homem favoreceu o conhecimento da estrutura mental dos sonhos, sua relação com um estado fisiológico cerebral e com diversas mudanças periféricas. A partir do estudo dos sonhos por estudos poligráficos no homem, tem-se conseguido determinar que seus diversos componentes, vegetativos, emocionais e mentais e evocam memórias sensoriais.

Ainda hoje, várias linhas tentam desvendar o grande enigma dos sonhos. Temos vertentes pragmáticas, esotéricas, filosóficas e trabalhos de caráter mais científico, que estão sendo desenvolvidos em laboratórios de todo o mundo. Em especial Patrícia Garfield vai nos mostrar a importância do sonhar e nos conscientizar de como podemos "utilizar" nossos sonhos no aprimoramento de nossa criatividade. É importante esclarecer que ao citarmos o verbo "utilizar" estamos nos referindo a um mecanismo apontado pela autora, que nos torna possível aumentar ou desenvolver o estado consciente durante os sonhos.8

Através de um trabalho de observação realizado com os sonhadores "senoi", a autora acima afirma que os sonhos não são um evento que ocorrem de maneira desvinculada com a realidade do sonhador. Na verdade, as alterações vivenciadas durante o sonhar podem ser remetidas para o comportamento real, que por sua vez também estará influenciando o sonhar, gerando assim o que a autora chamou de "um ciclo de amadurecimento positivo". Ela levanta três pontos relevantes no controle dos sonhos:

  1. Estarmos motivados para um ato criativo.

  2. Termos colhido informações relevantes.

  3. Já termos feito esforços iniciais no sentido de sintetizar nosso material.