Revista de Psicofisiologia, 2(1), 2000

O Sono, destacando o sonho, o ritmo biológico e a insônia

3.2) Parassonias: são definidas como transtornos que não são anormalidades dos processos responsáveis pelos estados de sono e vigília por si, mas sim problemas orgânicos indesejáveis que ocorrem predominantemente durante o sono.

  •  Síndrome de apnéia do sono: é definida como uma cessação da passagem de ar pelas vias aéreas superiores, com duração de pelo menos 10 segundos. As hipopnéias de sono quando ocorre uma diminuição da passagem de fluxo aéreo pelas vias superiores. Devido a similaridade e da mesma classificação das apnéias, é empregado o termo "apnéia do sono" referindo-se às duas condições. As apnéias do sono podem levar tanto à queixa de insônia como a sonolência excessiva.

  • Transtornos dos movimentos periódicos dos membros, repetitivos, altamente estereotipados, em especial dos membros inferiores e que ocorrem predominantemente durante o sono. Os movimentos geralmente são acompanhados por despertares que podem ser breves ou prolongados, a queixa do paciente tanto pode ser de insônia intermediária, sono pouco reparadora ou sonolência excessiva.

  • Síndrome de pernas inquietas caracteriza-se por sensações desagradáveis nas pernas, geralmente antes do início do sono, levando a pessoa a uma necessidade incontrolável de mexê-las.

  • Narcolepsia é sonolência excessiva associada a cataplexia, perda súbita da tensão muscular, e outros fenômenos do sono MOR como alucinações hipnagógicas, experiências de percepção vívida ocorrendo na transição sono/vigília acompanhada por intenso medo, às vezes com a impressão da presença de terceiros no ambiente. A pessoa não consegue evitar o sono e adormece seja quando dirigindo, conversando ou em outras situações quaisquer.

  • Hipersonia idiopática tem origem presumivelmente em alguma disfunção do SNC, caracterizando-se por sonolência excessiva diurna, com cochilos prolongados e quase sempre reparadores, sendo que o sono noturno em geral é longo, sem queixa de despertares à noite. Muitos pacientes, apresentam grande dificuldade para despertar pela manhã, ficando confusos e apresentando atitudes agressivas. A sonolência excessiva aumenta diversos riscos de acidentes graves, podendo surgir transtornos psicológicos que levam a sérias dificuldades no relacionamento pessoal e profissional.

  • Transtorno comportamental de sono MOR caracteriza-se por ausência de atonia muscular em sono MOR com atividades motores elaboradas associadas. Os pacientes apresentam os mais variados comportamentos, por vezes violentos, com ferimentos que podem ser severos e até mesmo chegar à agressão física do(a) companheiro(a). Quando despertados, os pacientes relatam sonhos, na maioria dos casos apavorantes.

  • Sonambulismo consiste numa seqüência de comportamentos complexos como: sentar-se na cama, olhos abertos, pouco contato com o ambiente. A pessoa pode levantar e caminhar até o banheiro. Amnésia ao despertar. Surge a partir dos estágios 3 e 4, no primeiro terço da noite. Podem durar de menos de um minuto a mais de 30 minutos. Admite-se que o sonambulismo se inicie mais freqüentemente no infância entre 5 e 10 anos de idade, podendo ocorrer em qualquer idade.

  • Terror noturno geralmente se inicia em pré-escolares e pode ocorrer por toda a infância. Ocorre em menor percentagem em adultos, por isso nossa caracterização será feita com criança. Os episódios de terror noturno geralmente ocorrem no primeiro terço da noite e se manifestam de maneira alarmante. A criança, que estava dormindo calmamente, senta-se de maneira abrupta no leito e grita intensamente. Quando despertada, durante este episódio, a criança não recorda o ocorrido. Nos casos em que há lembrança de algum conteúdo, este geralmente não é complexo, mas sim fragmentado, por exemplo: a imagem de alguém estranho entrando no quarto. Estes episódios duram geralmente menos de 30 segundos, podendo chegar a 20 min. Após os mesmos, a criança volta a dormir calmamente.

  • Bruxismo: o bruxismo caracteriza-se por um ranger de dentes durante o sono por contrações rítmicas do músculo masséter e de outros músculos da região oral. O ranger de dentes durante o sono pede ocorrer em qualquer idade, mas atinge seu pico na infância e adolescência. Dos 3 aos 10 anos de idade observamos que cerca de 1/3 das crianças apresentam este comportamento de maneira esporádica. O bruxismo ocorre primariamente no estágio 2 e nos transições entre estágios. Quando se inicia a partir dos estágios 3 e 4 pode ser o ritmo alfa entremeado com traços de estágios profundos.

  • Pesadelo: é um episódio em que ocorre mais no sono NMOR, onde não há relaxamento muscular suficiente, ou no sonho, demonstrando ansiedade. No sono MOR surge geralmente a partir do terço final da noite e pede seguir-se de despertar completo. Podem ser encontrados durante os cochilos diurnos que durem mais de uma hora. Caso ocorram com freqüência, podem, como complicação, levar à fobia do sono, ou provocar interrupções repetidas do sono MOR, insônia de manter o sono, acarretando problemas no sono regular e nas emoções. Os pesadelos transitórios e situacionais ocorrem em qualquer idade e virtualmente em todas as pessoas. Ocorre mais na primeira década de vida.

  • Sonilóquio: sonilóquio é a emissão de fala ou outro som durante o sono, sem que exista noção crítica, subjetiva e simultânea do evento. As características do sonilóquio podem variar desde sonos ininteligíveis, palavras isoladas, frases incoerentes, até o enunciar claro de sentenças. Geralmente dura 1 minuto e ocorre esporadicamente. O conteúdo dos sonilóquios, quando ocorrem durante os estágios NMOR, refere-se mais a acontecimentos recentes, reais e da vida diária, enquanto que nos sono MOR faz alusão a acontecimentos mais afetivos. Em crianças os sonilóquios são normais e passageiros.

  • Enurese é caracterizada pela micção, iniciando-se geralmente no sono profundo NMOR, em um indivíduos que já deveria ter adquirido controle vesical voluntário durante a vigília. A micção durante o sono após os três anos de idade é considerada enurese.

  • Epilepsia se caracteriza por ser uma doença neurológica onde uma descarga elétrica de grande amplitude é capaz de levar excessiva excitação às células nervosas, saltando os circuitos neuronais. O sono interfere na epilepsia e vice-versa. Os estágios NMOR são um período apropriado para o desencadeamento de crises porque há um grande aumento amplitude das ondas cerebrais, propiciando crises convulsivantes, que ocorrem geralmente no estágio dois da fase NMOR. As drogas anti-epiléticas tendem a produzir uma diminuição no número de crises e podem até reorganizar o sono destes indivíduos. Sugerem-se algumas técnicas para auxiliar nesta prevenção: evitar dormir fora de hora, evitar dormir uma hora além do seu horário normal, não dar cochiladas sobretudo prolongadas, evitar tomar café ou chá à noite etc.