Revista de Psicofisiologia, 2(1), 2000 |
2) SONO E VIGÍLIA Portanto, o ritmo endógeno é autônomo, capaz de oscilar por si mesmo. Se o organismo for isolado e colocado sob condições constantes artificiais, o período do ritmo biológico desvia-se ligeiramente daquele fornecido pelo meio ambiente, mostrando que o ritmo tem sua própria periodicidade. O ritmo circadiano é sincronizado com a periodicidade das 24 horas do dia através dos sincronizadores de tempo externos. O mais potente destes sincronizadores é o ciclo dia-noite, mas hoje no mundo moderno há muita interferência com a iluminação artificial, luz-escuro. Outros importantes fatores sincronizadores são: as condições sociais, barulho e temperatura. O primeiro substrato anatômico e funcional do ritmo biológico a ser identificado foi o núcleo supra-quiasmático, que se localiza na base do cérebro. Posteriormente evidenciaram-se a presença de outros relógios biológicos. Ao se extrair o núcleo supra-quiasmático em animais e em humanos submetidos ao isolamento tem se demonstrado a dessincronização de dois grupos de funções rítmicas; um grupo que acompanha o ciclo sono-vigília e o outro acoplado ao ritmo circadiano da temperatura corporal. Por exemplo, em um indivíduo em condições constantes de isolamento, seus ritmos circadianos mudam de 24 horas para uma média de 25 horas. Entretanto, funções vegetativas como a temperatura corporal e a secreção de cortisol não seguem um ciclo de 32 horas, que parece estar localizado nos núcleos ventromediais e na área lateral hipotalâmicos (Cipolla-Neto et al, 1988). Hoje em dia, milhões de pessoas estão sujeitas a mudanças rápidas nos indicadores ambientais que mostram a passagem de tempo, ou por estarem viajando cruzando meridianos ou por trabalharem, em horários de turnos. As conseqüências médicas destas mudanças podem ser classificadas em: os produzidos de forma transitória e os produzidos de forma crônica. Alguns distúrbios transitórios do sono e da vigília podem estar associados a mudanças abruptas dos sincronizadores exógenos, por exemplo: uma viagem transmeridiana. A síndrome de mudança rápida do fuso horário se caracteriza por sonolência diurna, insônia com dificuldade de dormir no novo horário e queda do desempenho nas diversas tarefas mentais e físicas. Se estas mudanças ocorrem de forma sistemática, os sintomas se agravariam a ponto de ter risco de várias doenças como distúrbios neurológicos, sonolência excessiva e/ou insônia, problemas cardiovasculares e gastrintestinais. |