Revista de Psicofisiologia, 2(1), 1998

Reações autonômicas e hormonais

6.2) Perturbações Cardiovasculares e Respiratórias

Friedman e Rosenman desenvolveram estudos ligando variáveis psicológicas causais e ocorrência de doença coronariana. Eles afirmavam um padrão de comportamento, denominado tipo A, distingue pessoas propensas a esta doença tendo valor prognóstico para o seu desenvolvimento e suas complicações. O padrão de comportamento tipo A caracteriza-se por agressividade, competitividade, ambição, aspiração ao sucesso, inquietação, impaciência, dedicação ao trabalho, um senso subjetivo de urgência de tempo, aspereza na fala e nos gestos e tendência a hostilidade.

Estudos têm demonstrado que homens que exibem esse padrão tendem a ter níveis plasmáticos de triglicerídeos e colesterol elevados, uma resposta hiperinsulinêmica à glicose, com tendência à diabete, e aumento da secreção diurna de noradrenalina. As pessoas de tipo A extremo apresentam um aumento no nível sérico de corticotropina, uma diminuição no nível sérico de hormônios de crescimento e coagulação acelerada. Homens jovens de tipo A, frente a tarefas cognitivas e perceptivo-motoras desafiadoras, apresentam resposta de batimento cardíaco e pressão sangüínea mais acentuada que as pessoas do tipo B, que não apresentam os comportamentos característicos do tipo A.

Não há muitas dúvidas de que a doença coronariana tenha causa multifatorial e de que os fatores psicológicos e sociais representem um conjunto de variáveis causais responsáveis que interagem de maneira complexa e ainda desconhecida com fatores biológicos e químicos. Fatores psicológicos podem predispor e precipitar distúrbios de frequência e ritmo cardíaco. Influências emocionais são proeminentes nas arritmias mais comuns – taquicardia sinusal, taquicardia atrial paroxística e batimento ectópicos atriais e ventriculares e arritmias ventriculares, incluindo fibrilação ventricular, mediadas pelo aumento da atividade simpática. Arritmia cardíaca letal, fibrilação ou paralisia ventricular são causas possíveis de morte súbita em resposta a um estímulo emocional opressivo ou ao desespero.

A ativação simultânea das respostas luta-fuga e conservação-afastamento pode provocar arritmias letais, especialmente em pessoas com doença coronariana.

O estresse pode influenciar no surgimento de arteriosclerose, uma vez que, quando o nível de estresse é alto, há liberação de colesterol, o que pode levar ao "entupimento" de artérias.

A hipertensão essencial ou idiopática, elevação da pressão sangüínea sistólica e/ou diastólica acima do limite arbitrariamente admitido – 160mmHg sistólico e 95mmHg diastólico, é uma perturbação da homeostase por múltiplas causas.

Estudos fornecem considerável apoio ao papel de fatores psicossocias ou estresse no desenvolvimento de alguns tipos de hipertensão essencial. O aumento da atividade do sistema nervoso simpático e elevação da produção de renina estão entre os supostos mecanismos patogênicos mediadores. Interações complexas de fatores genéticos de aprendizagem, de personalidade, dietéticos, comportamentais e ambientais, conduzem à elevação patológica persistente da pressão sangüínea nos seres humanos.

Fatores psicológicos também podem desempenhar papel importante na predisposição, iniciação e sustentação de algumas doenças pulmonares. Acredita-se que a asma brônquica é uma doença na qual interagem os fatores psicológicos, imunológicos, fisiológicos e infecciosos. Esta interação pode predispor, iniciar e manter a doença.