Revista de Psicofisiologia, 2(1), 1998

Reações autonômicas e hormonais

6.1) Distúrbios Psicossexuais

A função sexual no homem e na mulher depende de um estado de motivação sexual, ou estado de desejo. No ciclo de respostas sexuais completo, em ambos os sexos, existem quatro fases de respostas sexuais fisiológicas que podem ser englobadas em intumescência e detumescência, sendo em ordem de acontecimento, excitação, platô, orgasmo e resolução.

Esse ciclo é mediado por um delicado inter-relacionamento entre o sistema nervoso simpático e o sistema nervoso parassimpático. A vasocongestão, que produz excitação sexual, é grandemente mediada pela descarga parassimpática (colinérgica). Por outro lado, orgasmo é quase que inteiramente mediado pelo simpático. No entanto, a emissão do sêmen envolve uma combinação balanceada da estimulação de ambos os sistemas, simpático e parassimpático.

Sabemos que diante de situações de estresse o organismo utiliza-se de todas as suas reservas energéticas disponíveis, que são direcionadas unicamente para a manutenção da vida, enquanto que o suprimento energético de atividades consideradas secundárias no momento é negligenciado. O sistema nervoso simpático sobrepõe-se ao sistema nervoso parassimpático e o resultado é a vasoconstrição sangüínea, que influencia diretamente a atividade sexual, pois diminui consideravelmente a irrigação dos órgãos genitais, a intumescência. O aumento da atividade da supra-renal também vai influenciar a atividade das glândulas sexuais, tornando-as menos ativas. A elevada produção de ACTH é priorizada em detrimento de hormônios menos urgentes, como os sexuais.

Em casos de disfunções psicossexuais, o organismo não consegue acompanhar as mudanças psicofisiológicas necessárias para o desempenho do ciclo de respostas sexuais completo e a inibição de uma ou mais fases vai caracterizar esse tipo de disfunção. As respostas podem ser inibidas por influências corticais, por hormônios, por mecanismos vasculares e podem ser acompanhadas de vários sentimentos. Geralmente, dimensões tanto subjetivas como objetivas são perturbadoras.

Outros fatores psíquicos intervenientes incluem raiva do parceiro, medo das genitálias do parceiro ou intimidação, culpa seguida de experiência sexual proibida mas prazerosa, depressão, ansiedade, situações de vida estressantes, idade, ignorância de comportamentos sexuais normais, mitos sexuais, sentimentos de frustração, vergonha, tabus sexuais, sexo sob circunstância estressante, discussões freqüentes entre o casal etc.

Sintomas somáticos normalmente acompanham os fatores psicológicos perturbadores, como dores de cabeça e queixas em relação a pelve, e podem juntamente com eles influenciar a tentativa de uma nova experiência sexual. Na maioria dos casos, fatores psicológicos estão intimamente ligados à disfunção.