Revista de Psicofisiologia, 1(1), 1997 |
3.5.4) Córtex Frontal
As perturbações dos processos mentais envolvidos na coordenação do pensamento e afeto são os aspectos centrais a serem considerados na expressão da doença, de acordo com Kraeplin e Bleuler que consideravam os delírios e alucinações como aspectos secundários, tem-se buscado uma associação de distúrbios do córtex pré-frontal com a esquizofrenia, constata-se que fenomenologicamente os sintomas são similares aos dos pacientes com dano no córtex pré-frontal, além disso, estudos com imagens computadorizadas e do metabolismo da glicose em áreas frontais, assim como da PET têm mostrado evidências diretas da redução da atividade do córtex frontal em pacientes esquizofrênicos, verifica-se uma redução do fluxo sangüíneo e do metabolismo regional, tanto em condições de repouso quanto em várias situações de ativação cortical, obtida por meio de estimulação sensorial ou cognitiva, o córtex pré-frontal possui importantes funções cognitivas, essencial para a formulação de planos de ação dirigidos e metas projetadas no futuro, bem como para a supervisão e controle destes programas de ação, também é importante para a regulação das emoções por instruções simbólicas, inclusive verbais, todas acham-se gravemente perturbadas na esquizofrenia, os estudos com o PET e o SPECT têm revelado déficit no funcionamento do córtex pré-frontal de pacientes esquizofrênicos, principalmente durante execução de tarefas que demandam a ativação desta região, como por exemplo a atenção seletiva, o esquizofrênico não se habitua aos estímulos ambientais que em geral são ignorados pelas pessoas normais, esses estudos também revelaram sinais de hiperfuncionalidade subcortical, sobretudo nos gânglios da base, há indicações que alterações patológicas nos lobos frontais podem estar associadas com a supersensibilidade de receptores DA no sistema mesolímbico e nigroestriatal, a densidade de receptores D2 e a concentração de dopamina no córtex frontal é extremamente baixa em comparação com o número destes receptores nos sistemas mesolímbico e nigroestriatal, a hiperatividade dopaminérgica poderia ser um mecanismo compensatório para a disfunção mesocortical, indicando uma possível associação da hipofrontalidade com os sintomas negativos e da hiperfunção subcortical com os sintomas positivos da doença. Distúrbios no funcionamento de um circuito córtico-estriado-talâmico pode estar subjacente ao aparecimento da doença, este modelo baseia-se no fato que as projeções córtico-estriatais parecem ser essencialmente glutamatérgicas e têm influência excitatória sobre os neurônios estriatais que se projetam para o tálamo, estes que são inibitórios possivelmente gabaérgicos, este modelo considera que a esquizofrenia resulta da hiperestimulação do córtex pré-frontal, decorrente de um defeito em um filtro sensorial localizado no tálamo, normalmente o córtex é capaz de proteger-se de uma eventual sobrecarga de informações provenientes do meio ambiente, através do controle que exerce sobre o tálamo, estrutura para a qual são canalizados todos os impulsos sensoriais. Neste contexto, o tálamo pode ser visto como um filtro sensorial, sob controle do córtex pré-frontal, isto ocorrendo através de um circuito de retroalimentação negativa, representado pela via córtico-estriatal, glutamatérgica, que ao estimular as vias estriado-talâmicas, gabaérgicas, intensifica os mecanismos inibitórios do filtro talâmico. Através de um via dopaminérgica, a substância nigra inibe o estriado reduzindo o funcionamento das vias gabaérgicas que se projetam no tálamo. Por isso, a via nigro-estriatal opõe-se à influência excitatória do córtex sobre o estriado, então um aumento do tono dopaminérgico ou uma redução do tono glutamatérgico córtico-estriatal resultariam numa diminuição do funcionamento do filtro talâmico, com o conseqüente incremento do fluxo de informações para o córtex cerebral, tem-se demonstrado que lesões no córtex pré-frontal ou da via córtico-estriatal promovem desinibição comportamental em macacos e ratos, acredita-se que a ação psicotomimética de drogas alucinogênicas possa ser o resultado, seja duma redução da transmissão glutamatérgica, seja do aumento da influência dopaminérgica sobre o estriado. A esquizofrenia pode ser vista como uma síndrome induzida por um desequilíbrio de neurotransmissores num sistema regulado em feedback, onde o glutamato e a dopamina desempenham um papel crucial, controlando o processamento do fluxo de informações provenientes do meio para o córtex cerebral, via tálamo. A liberação de dopamina pelo área temporal ventral inibe a inibição do tálamo, que tem como consequência a excessiva estimulação no córtex (excesso de informação), provocando os delírios. |