Revista de Psicofisiologia, 1(1), 1997 |
3.5.3) Modulação multimediadas no
sistema mesolímbico
Estudos morfológicos de cérebros de pacientes esquizofrênicos não detectaram anormalidades óbvias nas regiões que são ricas em corpos celulares dopaminérgicos ou em regiões ricas em terminais dopaminérgicos. Por outro lado, estudos com imagem cerebral têm revelado consistentes alterações estruturais do cérebro, tais como dilatação ventricular e adelgaçamento cortical, de forma a tornar-se cada vez mais forte a tendência a considerar a esquizofrenia como uma doença neurológica associada a distúrbios do desenvolvimento cerebral. Estes estudos morfológicos mostram também que existem anormalidades de morfologia neuronal, compactação celular, atrofia ou perda neuronal em várias regiões límbicas, particularmente aquelas localizadas no lobo temporal, tais como giro parahipocampal, a formação hipocampal e a amígdala. Como estas alterações predominam no hemisfério esquerdo dos cérebros de pacientes esquizofrênicos, acredita-se que a esquizofrenia possa ser o resultado de uma lateralização anormal da função cerebral. O que parece faltar, portanto, é uma forma de ligar a hiperatividade dopaminérgica com a patologia límbica. Estudos anatômicos em animais experimentais, associados a observações neuroquímicas de cérebros de esquizofrênicos, têm sugerido uma possibilidade de tal conexão, que aliás constitui-se no ponto de partida para a hipótese defendida por J.A. Gray e colaboradores, referente à base neural dos sintomas esquizofrênicos. Estruturalmente, a conexão relevante à projeção da formação hipocampal, a partir de uma região denominada subículo, ao estriado ventral. Os corpos celulares dos quais ela se origina são neurônios piramidais localizados no subículo ventral. Estas células recebem impulsos sinápticos de neurônios que são imunoreativos à CCK, estudos indicam que a CCK causa despolarização, acompanhada por um marcado aumento da excitabilidade de neurônios piramidais, sugerindo que ela atua como um neurotransmissor excitatório. Foi demonstrado que a concentração deste neuropetídeo está reduzida no lobo temporal de cérebro de esquizofrênicos. Assim, é possível que como resultado desta deficiência exista no cérebro do esquizofrênico uma perda do "drive" excitatório nas projeções subículo-accumbens. Os neurônios hipocampais projetam-se no núcleo accumbens, fazendo sinapses com neurônios gabaérgicos que são inibitórios. Este último grupo de neurônios também recebe uma projeção dopaminérgica do núcleo A10, portanto, tanto as projeções do subículo quanto as projeções dopaminérgicas convergem sobre o mesmo neurônio gabaérgico no núcleo accumbens. É provável que a projeção subicular seja excitatória e tenha como neurotransmissor o aminoácido glutamato. Como a grande maioria das evidências aponta a dopamina como neurotransmissor inibitório, é provável que os neurônios dopaminérgicos atuem sobre esses neurônios gabaérgicos antagonizando os impulso excitatórios que neles chegam, evidências indicam que a transmissão dopaminérgica aumentada no núcleo accumbens reduz os efeitos da estimulação da via subículo-accumbens, e que este efeito inibitório intra-accumbens promovido pela dopamina é mediado por receptores D2 da dopamina e não por receptores D1. Portanto, a esquizofrenia pode ser o resultado da interrupção na interação normal entre : um input glutamatérgico excitatório proveniente do hipocampo e um input dopaminérgico inibitório com origem no núcleo A10, ambos incidindo sobre os mesmos neurônios gabaérgicos do núcleo accumbens. |