Unidade Evolutiva Significante - Evolutive Significant Unit (ESU) |
O
conceito de ESU surgiu da necessidade cada vez maior de se preservar a
biodiversidade contra as crescentes taxas de extinção e perdas de áreas não
perturbadas, associadas a triste realidade da escassez de recursos disponíveis
para a manutenção e conservação. Os conceitos biológicos, mesmo os mais
antigos, são freqüentemente de difícil definição e enfrentam problemas
quando aplicados à tremenda diversidade de organismos existente. Uma das definições
mais discutidas e que se encontra ainda difícil de prever um consenso é o
conceito de espécie. Atualmente existem várias definições mais ou menos
conflitantes para o conceito de espécie. Cada nova definição resolve alguns
problemas e cria outros, muitas vezes inéditos.
Mas
porque a falta de uma definição precisa para espécie tem a ver com a conservação?
Tem uma tremenda influência porque: como é possível decidir se devemos
preservar determinada população de organismos se não somos capazes de dizer
com certa segurança se estamos tratando com organismos endêmicos
ou membros de uma espécie de distribuição ampla? Uma solução para este
problema foi sugerida por Ryder (1986). Ele propôs que fosse criado uma unidade
que nos permitisse discernir entre diferentes populações aquelas que possuem
um patrimônio
genético único daquelas que são simplesmente uma parte pouco
diferente do conjunto total formado pela espécie. Esta foi chamada de Unidade
Evolutiva Significativa ou ESU (Evolutionary Significant Unit).
O
conceito de ESU foi desenvolvido para propiciar uma base racional para a
priorização de taxa para esforços de conservação, uma vez que os recursos são
limitados e que a taxonomia existente não reflete adequadamente a diversidade
genética (Avise, 1989). Se usada adequadamente a determinação de ESUs pode
facilitar aos orgãos gerenciadores de biodiversidade a tomada de decisões em
relação a questões conservacionitas. Alguns órgãos como o “U.S.
Endangered Species Act” (ESA), o “National Marine Fishery Service” (NMFS),
ambos norte-americanos e o “Australian Endangered Species Protection Act”
australiano consideram de alguma forma as ESUs (Waples, 1998; Fraser &
Bernatchez, 2001). A razão maior para definir as ESUs é garantir que a herança
evolutiva seja reconhecida e protegida e que o potencial evolutivo inerente aos
conjuntos de ESUs seja mantido (Moritz, 1994).
Assim,
a ESU é uma ferramenta inestimável para evitar a perda da diversidade genética.
Entretanto, a ESU permanece pobremente definida, tanto conceitualmente quanto
operacionalmente. (...) Mesmo que todos estejam chegar a um mesmo fim, á visível
que as diferenças operacionais variam de acordo com o contexto biológico e
legislativo (Moritz, 1994). Seu conceito tem sido trabalhado ao longo do tempo
por uma série de autores desde Ryder (1986) que apesar de ter criado uma boa
definição e ter dado o pontapé inicial no assunto, ele não ofereceu muitas
sugestões para sua aplicação.
Aqui
estão algumas das modificações sofridas pelo conceito ao longo do tempo:
Autor(s) |
Critério para definir as ESUs |
Ryder
(1986) |
|
Waples
(1991) |
Uma
população ou grupo de populações que: 1.
é substancialmente isolada reprodutivamente de outra unidade
populacional coespecífica
2.
representa um componente importante do legado evolutivo da espécie |
Dizon
et al (1992) |
Populações
ou grupos de populações que demonstram divergência significativa nas freqüências
alélicas. |
Avise
(1994) |
Conjuntos
de populações derivadas de filogenias genéticas consistentes |
Moritz
(1994) |
Populações
que: 1.
possuem monofilia
recíproca para alelos de mtDNA 2.
demonstram divergência significativa de freqüência alélica em loci
nuclear |
Vogler
& DeSalle (1994) |
Grupos
que são diagnosticados por caracteres de agupamentos de indivíduos ou
populações que o excluem de outro agupamentos ou populações |
Crandall
et al (2000) |
Abandonar
o termo ESU por um conceito de espécie mais holistico, consistindo de
populações com variados níveis de fluxo gênico, envolvendo deriva genética e seleção |
Moritz
& Bernatchez (2001) |
Uma
linhagem demonstrativamente com fluxo gênco altamente restrito de outras
linhagens também incluídas no nível organizacional mais elevado
(linhagem) das espécies |
“O
reconhecimento das ESUs é primariamente relevante para manejo a longo prazo,
definindo prioridades para conservação e estratégias de assentamento, uma vez
que a curto prazo pode ser prudente evitar tranlocar indivíduos entre ESUs.”
(Moritz, 1994)
Unidades de Manejo MUs (Management Unit)
MUs
(Management Unit) são reconhecidas como populações com divergencia
significativa das freqüências alélicas em loci nuclear ou mitocondrial
independente da distinção filogenética dos alelos. A distinção entre ESUs e
MUs é muito importante, porque afeta os meios na qual a evidência genética é
obtida e interpretada (Moritz, 1994). Pode-se considerar que as MUs são
comparativamente mais recentes que as ESUs e que uma ESU pode incluír uma ou várias
MUs.
ESUs |
Diz
respeito a estrutura histórica da população |
Filogenia
de mtDNA |
Necessidades
de conservação a longo prazo |
MUs |
Estrutura
corrente da população |
Freqüência
alélica |
Questões
de manejo a curto prazo |
É
claro que para que possamos definir ESUs ou MUs devemos fazê-lo com consciência
do tipo de análise deve ser feita, o que ela significa e que tipo de conclusões
podemos tirar das inferências evolutivas. A identificação de ESUs e MUs é
suscetível a erros devido a amostragem insuficiente - que pode levar ao
reconhecimento de falsas ESUs - amostragem de poucos nucleotídeos ou poucos
loci nucleares que poderiam levar a falhas (Moritz, 1994). Os cuidados devem ser
tomados com seriedade, porque a extinção não nos permitirá uma “réplica”
do experimento. A extinção não tem volta.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
Avise,
J. C. 1989. Arole for molecular genetics in the recognition and conservation of
endangered species. Trends in Ecology and
Evolution. 4: 279-281.
Crandall,
K. A. et al. 2000. Considering
evolutionary process in conservation biology. Trends
in Ecology & Evolution. v.15. 7: 290-295.
Dimmick,
W. W. et al. 1999. The importance of
systematic biology in defining units of conservation. Conservation Biolology. v.13. 3: 653-660.
Fraser,
D. J. Bernatchez, L. 2001. Adaptative evolutionary conservation: towards a
unified concept for defining conservation units. Molecular
Ecology. 10: 2741-2752.
Hedrick,
P. W. 2001. Conservation genetics: where are we now? Trends in Ecology & Evolution. v.16. 11: 629-636.
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C. 1994. Defining ‘Evolutionary Significant Units’ for consrvation. Trends in Ecology & Evolution. v.9. 10: 373-375.
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S. J. 1994. A role for molecular genetics in biological conservation. Proc.
Natl. Acad. Sci. v. 91: 5748-5755.
Paetkau,
D. 1999. Using genetics to identify intraspecific conservation units: a critique
of current methods. Conservation
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Waples,
R. 1998. Evolutionary Significant Units, distinct population segments, and the
Endangered Species Act: Reply to Pennok and Dimmick. Conservation Biolology. v.12. 3: 718-721.