Revista de Psicofisiologia, 2(1), 1998

8.2. Parassônias: nas quais o distúrbio principal é um evento anormal, geralmente de origem orgânica, que ocorre durante o sono, das quais abordaremos só algumas:

Sonilóquio (falar durante o sono): é bastante comum em crianças e adultos. Constatou-se, em laboratórios de sono, a sua ocorrência em todos os estágios do sono. A fala comumente envolve umas poucas palavras difíceis de distinguir. Os episódios de sonilóquia, às vezes, acompanham terrores noturnos e sonambulismo.

Pesadelo: o distúrbio de sonhos ansiosos, ou pesadelos, consiste em sonhos com amedrontamento, dos quais se pode despertar assustado. O despertar repetitivo associado ao pesadelo pode representar dificuldade em voltar a dormir.

Terror Noturno: está associado ao fato de acordar aterrorizado. Não existe, em geral, lembrança de qualquer sonho, mas ocasionalmente poderá haver o aparecimento de uma única imagem assustadora. Esse distúrbio é caracterizado por episódios recorrentes de despertar repentino, em geral durante o período de movimento ocular não rápido (NMOR). Esse episódio pode ser dramático, com a possível ocorrência de um grito de pânico. A pessoa em geral senta-se na cama exibindo sinais de intensa ansiedade e manifestações autonômicas, por exemplo, taquicardia, respiração e pulsação rápidas, pupilas dilatadas, sudorese etc, podendo estar confusa, desorientada e não responsiva à manifestações de tranqüilização. É possível que os terrores noturnos possam representar uma anormalidade neurológica precursora, pois naqueles casos em que os terrores noturnos se iniciam na adolescência e início da idade adulta, podem evidenciar-se mais tarde como o primeiro sintoma da epilepsia do lobo temporal.

Sonambulismo: consiste em uma seqüência de comportamentos complexos que iniciam no primeiro terço da noite, durante o sono NMOR (estágios 3 e 4) e freqüentemente, mas nem sempre, progridem, sem plena consciência ou posterior recordação do episódio, a ponto de deixar o leito e perambular. A pessoa levanta-se da cama e às vezes executa atos motores, caminha, veste-se, vai ao banheiro, conversa, grita e até dirige. O comportamento ocasionalmente termina por um despertar com vários minutos de confusão; mais comumente, o indivíduo pode voltar a dormir sem qualquer lembrança do evento de sonambulismo. O sonambulismo comumente inicia entre 6 e 12 anos de idade, mas pode ser visto em adolescentes e adultos jovens. Os episódios não devem ser considerados puramente psicogênicos, embora não haja dúvidas de que períodos de estresse estejam associados a um aumento do sonambulismo nos indivíduos afetados. A condição de sonambulismo é potencialmente perigosa devido à possibilidade de dano acidental, por isto outra pessoa que presencia deve acompanhá-la para evitar acidentes, sem procurar acordá-lo.