Revista de Psicofisiologia, 2(1), 1998

Panorama do sono e dos sonhos

6 - O SONO DO RECÉM-NASCIDO

Numerosas teorias do sono afirmam que o recém-nascido (homem ou mamífero) apresenta somente o sono paradoxal. "De acordo com essas noções, o sono do recém-nascido funciona segundo mecanismo neurofisiológico distinto dos adultos".15

Segundo Reimão16, ao examinarmos o sono em recém-nascidos devemos considerar 4 aspectos: 1) O estado da maturação neurológica: desenvolvimento do ciclo vigília-sono em recém-nascidos prematuros e a termo; 2) O registro polissonográfico; 3) As características bioelétricas e comportamentais; 4) A importância da monitoração do sono na detecção e prognóstico da patologia neonatal.

Os recém-nascidos são seres com alto potencial evolutivo, e a maturidade do ciclo vigília-sono depende da evolução do circuito neuronal córtico-subcortical ponte encefálica. Um dos fatores importantes na comunicação é a mielinização, que começa na vida intra-uterina e pode durar até a terceira década de vida. A seqüência da maturação é: sistemas nervosos periférico, central, aferente e eferente.

Gatos e ratos recém-nascidos mostram um comportamento particular: apresentam o sono agitado com sacudidelas dos membros, o tônus sísmico, ausência do tônus muscular permanente. Estas ativações esporádicas parecem necessárias para desenvolverem a capacidade motora, quando vierem a ser utilizadas. Este tipo de sono no recém-nascido humano chama-se "agitado". Pequenas agitações aparecem também, como exceção, no sono paradoxal do homem adulto. Daí proporem que o sono do recém-nascido nesta fase seria todo ele paradoxal. Mas só a partir da terceira semana depois do nascimento o sono do bebê, de acordo com o EEG, começa adquirir algumas características do sono dos adultos.15

Lesões dos núcleos da rafe e do cerúleo não ocasionaram modificações do sono do recém-nascido. Já num animal de três semanas, reduz o tempo do sono lento no caso das lesões da rafe, e causa abolição do sono paradoxal no caso do complexo cerúleo. Concluiu-se então que os mecanismos do sono do recém-nascido ocorrem na ausência dos núcleos da rafe anterior, sendo portanto medulares1.

No estado fetal, os mecanismos nervosos difusos, sobretudo medulares, seriam responsáveis por uma motilidade espontânea à base de sacudidelas. À medida que as estruturas cerebrais superiores se desenvolvem no recém-nascido, os núcleos da rafe e do cerúleo ultrapassariam o controle difuso. A soma desses dois mecanismos leva em conta efetivamente as proporções respectivas, mantendo bem conhecidas, o sono sísmico depois o sono paradoxal e enfim, do sono lento no curso do desenvolvimento.1, 16

Os ciclos do sono do recém-nascido são mais curtos, acordando a cada 2 horas, e não tem a mesma função do adulto. O bebê passa várias vezes pelo ciclo completo do sono, mas não tem o correspondente ao estágio do sonho. Mesmo na vida intra-uterina, possui o chamado "sono agitado". Esse tipo de sono ocorre até os três meses de vida.

O bebê não pode sonhar com coisas que ainda não viveu. Mas durante o "sono agitado", correspondente ao sonho do adulto, ele está também aprendendo, isto é, herdando, geneticamente, o desenvolvimento nervoso dos seus antepassados. 1, 15, 16