Mais antigo hominídeo encontrado
na África
A descoberta de um crânio no Chade (África Central) promete revolucionar o que se sabe sobre os ancestrais do homem moderno. Com idade entre seis e sete milhões de anos, o fóssil pertence ao mais antigo hominídeo conhecido até agora -- o mais velho de que se tinha notícia é três milhões de anos mais novo. A descoberta mostra que a divergência evolutiva que separou a linhagem humana da dos chimpanzés aconteceu muito antes do que se supunha, e pode derrubar a crença de que haveria um único 'elo perdido' a separá-las.
A nova espécie de hominídeo recebeu o nome científico Sahelanthropus tchadensis. O fóssil -- que, acredita-se, é de um indivíduo do sexo masculino -- foi apelidado de Toumai (nome africano dado às crianças que nascem antes do período de seca). A descoberta, relatada em 11 de julho na revista Nature, foi feita pela Missão Paleoantropológica Franco-Chadiana (MPFT), equipe internacional liderada por Michel Brunet, pesquisador da Universidade de Poitiers (França).
Em vermelho, área em que
se situa o deserto
de Djurab, onde foi desenterrado
o fóssil
Toumai abre caminho para que informações sobre um período praticamente desconhecido sejam esclarecidas. Há dez milhões de anos, o mundo era dominado pelos macacos. Pouco se sabe sobre o intervalo entre essa época e o aparecimento, há cinco milhões de anos, dos primeiros vestígios de hominídeos (primatas da família humana com características distintas das de chimpanzés e outros grandes macacos). Entre esses dois marcos, algum evento evolutivo provocou a divergência entre a linhagem humana e a dos chimpanzés.
Acreditava-se que haveria um único ancestral comum que separasse os homens dos macacos -- o chamado elo perdido. A idade e as características de Toumai, porém, sugerem que é improvável que uma evolução linear tenha levado à emergência do homem moderno. "É possível que o fóssil seja uma espécie de parente dos humanos mais recentes que tenha desenvolvido características semelhantes às nossas de modo paralelo", afirmou Bernard Wood, pesquisador da George Washington University (EUA), que comentou o achado na Nature. "Toumai nos dá uma primeira pista sobre o grupo de primatas extintos que são a conexão entre nosso pequeno galho e o resto da Árvore da Vida."
Além do crânio, foram
recolhidos também, entre jul/01 e fev/02, dois
fragmentos de mandíbula e
três dentes isolados que, acredita-se, são
de pelo menos cinco diferentes indivíduos
da nova espécie descoberta
A caixa craniana de Toumai lembra a de um macaco, mas a face e os dentes, principalmente os caninos, são pequenos como os de um humano. A proeminência na região das sobrancelhas também o aproxima dos humanos, pois essa característica só é identificada no nosso gênero, Homo. No entanto, isso não garante que o fóssil seja nosso ancestral direto.
A descoberta de Toumai
no Chade também indica que há pelo menos 6 milhões
de anos os hominídeos se distribuíam por todo o continente
africano. O mais antigo membro conhecido até agora desse grupo,
o Australopithecus africanus, foi encontrado em 1925 na África
do Sul. Na avaliação de Henry Gee, editor de paleontologia
da Nature, "Toumai talvez seja a mais importante descoberta de fóssil
na memória viva, rivalizando com a do primeiro 'homem-macaco' (o
A.
africanus)".