Revista de Psicofisiologia, 2(1), 1998

Reações autonômicas e hormonais

5.1) As bases fisiológicas das doenças psicossomáticas

O organismo humano é dotado de mecanismos próprios que lhe permitem manter as condições necessárias à sobrevivência estáticas ou constantes. Essa condição recebe o nome de homestasia. O hipotálamo e o sistema nervoso autônomo parassimpático são as principais estruturas que auxiliam na adaptação do organismo e na manutenção das condições homeostáticas. Mas, diante do agente estressor em situações ameaçadoras, como a exposição prolongada em um ambiente causador de tensão física ou psicológica, a reação vem através do sistema nervoso autônomo simpático e do endócrino, promovendo automaticamente no organismo reações diversas que vão contribuir para sua sobrevivência preparando-o para lutar ou fugir.

O sitema nervoso simpático recebe estimulação tão logo o perigo se apresente. Alguns efeitos da sua ativação sobre o organismo são inibição do fluxo de saliva, constrição dos vasos periféricos, aumento da freqüência cardíaca com conseqüente irrigação dos músculos e do cérebro em detrimento da irrigação das vísceras, dilatação dos bronquíolos, inibição da contração da bexiga, dilatação pupilar etc. Há um aumento da atividade celular tanto a nível físico como mental para suprir o organismo de uma maior quantidade de energia.

No caso de estresse físico, a função mais importante se dá a nível de restauração tecidual e no caso de estresse emocional se dá a nível de formação de novas sinapses e reestruturação de antigas no sentido de se compreender a nova situação. No entanto, essa compreensão não depende somente de estruturas cerebrais, mas inclui a subjetividade do indivíduo. A significação afetiva da situação tem grande influencia na reação do organismo diante de um agente estressor. Nesse sentido, as áreas límbicas participam da criação desse significado e possibilitam formular soluções e respostas que sejam adequadas ao momento.

Normalmente, é o estresse físico que ativa o sistema nervoso simpático provocando essas reações, às quais deu-se o nome de reação simpática ao estresse. No entanto, estados emocionais também podem ativar o sistema nervoso simpático, como por exemplo, situações de raiva, que podem desencadear descarga simpática maciça e as reações acima citadas, e que recebem o nome de reação simpática de alarme. Reações fisiológicas idênticas foram registradas em situações reais que se acredita serem causadoras de estresse, como correr em alta velocidade, pular de grande altura, prestar exames etc. No entanto, a constância da reação varia de caso para caso.

Excessiva secreção hormonal, principalmente de corticosteróides, pode gerar e agravar doenças como úlceras, hipertensão, doenças cardíacas etc. Segundo Selye, danos no coração, fígado, vasos sangüíneos, ossos e pele podem ocorrer por excessiva secreção de hormônios supra-renais e podem ser intensificados em situações de estresse. A medula da supra renal, em resposta à descarga simpática, secreta catecolaminas, noradrenalina (Nad), adrenalina (Ad) e outras, que são liberadas em situações emergenciais e de estresse e que prolongam os efeitos simpáticos através de sua ação no plasma sanguineo. As catecolaminas ativam a glicogenólise e a gliconeogênese hepática, inibindo a síntese de insulina e estimulando a síntese de glucagon.

A descarga de corticosteróides é estimulada por um outro hormônio, o adrenocorticotrófico (ACTH), descarregado pela glândula pituitária ou hipófise que ativa o córtex adrenal, que secreta corticosteróides, sendo o mais importante deles os glicocorticóides. O cortisol é o componente mais importante dos glicocorticóides e seu efeito principal é aumentar a taxa de glicose sangüínea através de vários mecanismos, como a lise do glicogênio, dos lípides e das proteínas, provocando hiperglicemia, diabete por tornar a insulina inativa, osteoporose por destruir a matriz óssea etc. O cortisol também desencadeia processo anti-inflamatório, evitando formação de cápsulas fibrosas em torno de agentes agressores, propiciando maior vulnerabilidade ao organismo.

O hipotálamo é o centro controlador da descarga de ACTH na corrente sangüínea, sendo este inibido pelo aumento de cortisol plasmático numa ação de "feed-back" negativo. O sistema límbico, no entanto, controla ou instrui o hipotálamo na descarga de ACTH, e parece ser ativado pela dor ou outras formas de estresse biológico, permitindo ao indivíduo viver estressado com altos níveis de cortisol, daí um grande desgaste. Estas atividades límbicas são mais provocadas por situações que envolvem novidades, imprevisibilidade, frustração do comportamento adequado etc.