Revista de Psicofisiologia, 2(1), 1998

Panorama do sono e dos sonhos

7 - A VARIAÇÃO E A INTEGRAÇÃO DO SONO COM A IDADE

Os padrões de sono mudam no decorrer da vida. No período neonatal, o sono REM representa mais de 50% do tempo total de sono. Além disso, os recém-nascidos passam diretamente da vigília para o sono MOR. Aos 4 meses de idade, o padrão de sono alterou-se tanto, que a percentagem total de sono MOR cai para menos de 40% e o começo do sono ocorre com um período inicial de sono NMOR.

Os episódios de sono MOR, tornam-se mais longos, enquanto o sono predominantemente delta (estágios 3 e 4) ocupam menos tempo no segundo ciclo, podendo desaparecer nos últimos ciclos, sendo substituídos pelo estágio 2. Em adultos, o sono noturno é composto de quatro a seis ciclos infradianos de aproximadamente 90 minutos. Os primeiros ciclos da noite são mais longos do que os do final.

Em boas condições de sono médio de oito horas, 75% do total correspondem ao sono lento, distribuídos assim:3 1) 5% estágio 1, 2) 50% estágio 2, 3) 16% estágios 3 e 4 e 4) 29% sono MOR.

No idoso há mais dificuldades de previsões porque há muita variação individual.

O sono de ondas lentas é máximo na infância, tanto quantitativamente quanto qualitativamente, tendendo a decrescer de forma importante em adultos idosos; que "(...)em torno dos 60 anos encontra-se bastante diminuído, desaparecendo completamente com o avanço da idade. Feinberg sugere que o declínio do sono de ondas lentas em relação à idade pode corresponder, paralelamente, à perda de densidade sináptica cortical." 5

O percentual do sono MOR mantém-se preservados em idosos hígidos, havendo uma correlação positiva com a manutenção da função intelectual, declinando muito em casos de disfunção cerebral orgânica. Os despertares transitórios podem ocorrer independentemente de causas conhecidas, porém geralmente estão correlacionados com distúrbios do sono, dentre os quais as agitações musculares noturnas e distúrbios respiratórios do sono, prevalecentes no idoso, que aos 60 anos é 80% maior do que aos 20 anos. No entanto, em pacientes sem distúrbios de sono, não há aumento de despertares até a idade de 60 anos (Pimentel - Souza et al, 1996).17

A modificação mais notável, que surge com o envelhecimento, é o aparecimento de breves momentos de ativação motora, em conseqüência da interrupção do sono. Os distúrbios do sono poderiam ser o resultado de uma série de fatores diferentes das alterações físicas e relacionados com aspectos dos comportamentos individuais e sociais. Esses fatores incluem o estresse e as capacidades individuais de controlá-lo, a inatividade física, o ambiente que o indivíduo escolhe para dormir, os hábitos de sono, as solicitações sociais e, em último lugar, os reforçadores de comportamento "enfermo".

Atualmente sabe-se que a atividade elétrica cerebral durante o sono está relacionada a mudanças hormonais e até mesmo à divisão celular: este é um traço permanente, embora muito mais pronunciado na infância que na velhice. Mas, interferências no sono com a idade auxiliam a compreender a dificuldade de dormir do paciente idoso. Algumas das alterações mencionadas se relacionam a mudanças estruturais do sistema nervoso central. As vias neuroquímicas podem sofrer modificações com a idade, podendo haver, por exemplo, rarefação do "locus ceruleus", podendo ser conseqüências de um sono de má qualidade, fragmentado. Tendo em conta que as vias noradrenérgicas partem daí, compreende-se o déficit da capacidade de alerta e, também, o aparecimento de distúrbios no sono MOR. Tais fibras alcançam os pequenos vasos cerebrais, devendo-se considerar, os transtornos da microcirculação e da permeabilidade do fluxo sangüíneo cerebral e do metabolismo, e perda de células na formação reticular. Entretanto, os idosos, que mantêm seus sonos MOR, há uma compensação por propiciar maior densidade de contatos sinápticos, uma vez que estes neurônios crescem durante o sonho. Mas realmente a degradação física só foi constatada se acentuar nas condições de vida atual do 1º Mundo, por se manterem mais tempo em atividade de trabalho ou lazer, só entre 80 e 85 anos, segundo pesquisa de Ajuriaguerra na Clínica Belair na Suíça. Daí a importância de se cultivar algum trabalho na velhice.

Há dúvidas se a necessidade de sono total e profundo realmente diminui com a idade, ou se o que ocorre é uma perda da qualidade de sono, que influi na capacidade para dormir. O aumento de cochilos observado por Ciampi16 permite supor que se encontra aí uma tentativa de compensação, mas que de fato não recupera a perda da qualidade do sono, que se tornou interrompido, muitas vezes até por razões sociais.