Revista de Psicofisiologia, 2(1), 1998

Ontogenia: do nascimento à velhice

6.8) Expectativa de vida

Sábios, filósofos e escritores situam geralmente o apogeu do indivíduo no meio de sua vida. Hipócrates situava o apogeu do homem aos 56 anos. Aristóteles acreditava que a perfeição do corpo se completa aos 35 anos e a da alma aos 50. Segundo Dante, chega-se à velhice aos 45 anos.

Hoje, nas sociedades industriais, os trabalhadores geralmente se aposentam aos 65 anos, se não morrerem antes, como no caso do Brasil. Aqui, a expectativa de vida média é de 65 anos ao nascer, segundo o IBGE (1991). Mas há os dois casos extremos a se considerar. Uma pessoa de nível sócio-econômico mais elevado pode viver até 80 anos, ou mais. Já a expectativa de vida do homem do nordeste, de classes menos favorecidas é de 58 anos, igual á da Índia ou de qualquer país africano.

Quando foi lançado no Brasil, em 1990, o livro "A velhice" da escritora francesa Simone de Beauvoir, não causou polêmica nem suscitou o interesse que teria atraído se fosse publicado hoje, apenas quatro anos depois. Considerada "o mais importante ensaio contemporâneo sobre as condições de vida dos idosos" chegava a um país predominantemente de jovens.

Hoje, o Brasil é um país que toma consciência que envelhecimento da sua população se dá a passos largos. Segundo dados do IBGE (1991), analisados pelo médico Renato Veras em sua tese de doutorado, defendida na Universidade de Londres, a população brasileira vai crescer cinco vezes como um todo, entre os anos 1950 e 2025, mas vai se multiplicar por 15 a população de mais de 60 anos, nesse mesmo período. E mais: o Brasil será, naquele mesmo ano, o sexto país mundial em população idosa, com 33,1 milhões de pessoas de mais de 60 anos. Superado apenas pela China, Índia, a antiga URSS, EUA e Japão. Hoje com apenas 8% da população brasileira no ano 2025, 15% da população terá mais de 60 anos.

O crescimento da população de terceira idade é explicado por especialistas em estudos de demografia pela queda da taxa de fecundidade, aliada à queda da taxa de mortalidade, conseqüência do avanço da medicina que, além de combater as epidemias que ceifavam vidas jovens, controla melhor doenças crônicas e degenerativas.

Há uma diferença significativa entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos no que diz respeito a estrutura etária de suas populações. Enquanto os países jovens que se desenvolverem têm que investir em saúde e educação dos jovens, os "países velhos" enfrentam problemas da necessidade da assistência, amparo à velhice e melhoria da qualidade de vida na velhice, evitando a senilidade. Essa diferença, por um lado, é o reflexo mediato das condições sócio-econômicas, por outro lado, indica a situação geral de vida do país ou região, num circuito intimamente vinculado.