Revista de Psicofisiologia, 2(1), 1998

Ontogenia: do nascimento à velhice

6.4) O envelhecimento físico de órgãos e sistemas

Não há uma ordem de decadência nos diversos órgãos. O que sofrerá mais ou menos vai depender da qualidade de vida da pessoa. Passaremos a descrever como o processo de envelhecimento nos diversos sistemas orgânicos atinge em especial naqueles que não retardam o envelhecimento por não tomarem medidas preventivas.

a) Sistema nervoso.

As células ganglionares do sistema nervoso central são pós-mitóticas, isto é, elas perderam sua capacidade de dividir-se. O cérebro pode perder durante o envelhecimento 54% dos neurônios no córtex superior, 30% na região do putâmen, 25% no cerebelo. Admite-se que a perda diária de neurônio é da ordem de 50.000 a 100.000 perfazendo até os 80 anos a uma perda de 300.000 até 3 bilhões de células, o que é pouco face aos 200 bilhões estimados hoje existir. A perda da função destes processos de atrofia é pequena relativamente, pois, os neurônios que sobram assumem de forma compensatória. Porém, há pesquisas que correlacionam a demência de Alzheimer com uma perda acentuada de neurônios ( ANDRADE, 1988). É importante dizer que um cérebro normal tem cerca de 199 bilhões de células nervosas ( WERNECK, 1991).

b) Sistema circulatório

Devido ao processo de esclerose, é exigido um maior desempenho do coração, a isso ele reage com hipertrofia. Também com o aumento do colágeno, ocorre um enriquecimento dos tecidos das válvulas.

Nos vasos arteriais ocorre com o aumento da idade o enriquecimento e a diminuição da elasticidade, o engrossamento e serpenteamento das paredes.

As veias mostram menores alterações, os capilares reduz na quantidade e altera a parede.

c) A pele

Por causa da diminuição da atividade de mitose a pele pode se tornar enrugada, frouxa. A pele se torna fina porque a derme, camada inferior, sofre uma perda de colágeno e mucopolisacarideos que leva a uma perda de 10-15% de água.

d) A musculatura, cartilagem e ossos

A diminuição da força muscular e da massa muscular serve como manifestação de envelhecimento. A involução ocorre de forma mais lenta que a diminuição da força. Há uma correlação entre a diminuição da massa muscular e a diminuição dos hormônios sexuais.

As cartilagens e ossos sofrem acentuados processos de envelhecimento. Observa-se alterações dos mucopolissacarideos que provoca a perda de água e conseqüente calcificação. O teor do colágeno diminui levando a atrofia do tecido ósseo, osteoporose, que se tornam cada vez mais frágeis, porosos e quebradiços.

e) Capacidade de apropriar-se do meio através dos sentidos

A redução da capacidade dos órgãos dos sentidos também está ligada a atrofia, redução das células ganglionares. As papilas gustativas, por exemplo, do número originalmente disponível, uma pessoa de 75 anos em média só possui 36%.

São características as dificuldades de audição no sentido da diminuição da amplitude de freqüência ouvidas, esta perda aumenta com a idade e é maior nos homens que nas mulheres. Isso se deve a atrofia das células ciliadas na cóclea, que foram agredidas traumaticamente. Sabe-se que o maior dano não é com a idade mas com o meio urbano: um velho de 80 anos nas savanas africanas ouve tão bem quanto um jovem de 18 anos em Nova York (Schafer, 1977). A deficiência para sons agudos é de significância psicológica, pois são as freqüências mais altas que desempenham um papel importante na compreensão das conversas quando várias pessoas estão falando. O uso do aparelho de surdez, embora estigmatizado é indicado para que não haja um isolamento do idoso.

Na visão temos vários aspectos: a sensibilidade a luz diminui com o ofuscamento e as diferenças entre várias cores não são bem notadas. A esclerose do cristalino compromete sua capacidade para ver detalhes e de perto. O uso de óculos pode corrigir esta deficiência. Nota-se uma redução da elasticidade da pupila reduzindo a quantidade de luz que chega ao fundo do olho. Uma compensação seria o aumento de nível de luminosidade. A sensibilidade ao ofuscamento aumenta, o olho exposto demora mais a voltar a ver com acuidade normal.

f) Capacidade de análise e síntese dos vários estímulos; capacidade de compreender e utilizar-se dos arquivos de aprendizagem e memória

Relacionadas com o sistema nervoso central e com aspectos psicológicos , o idoso, em geral, demora-se mais a decidir-se do que os jovens. A fragilidade do seu organismo e suas falsas percepções vai condicionando comportamentos medrosos. O uso de óculos e aparelhos de surdez servem de auxílio para os sentidos. O uso de sapatos adequados e talvez uma bengala poderá ser útil contra eventuais acidentes.

As mudanças específicas do sistema nervoso provoca esquecimento, confusão, disfunção da capacidade intelectual, da coordenação motora, do equilíbrio e postura. O idoso deverá organizar sua vida de tal forma que essas mudanças não proporcionem frustrações demasiadas. O uso de agendas, lembretes podem ou melhor servir para auxiliar a adaptação.

O homem envelhece na dependência do corpo, da mente e da sociedade. Envelhece em moldes mentais em função do alicerce genético e envelhece também morbidamente em função de outros fatores biológicos como agressões traumáticas, diminuição das forças físicas e outras. Assim, o velho, condenado à fragilidade, à dependência e ao desajuste social, torna-se vítima de problemas de ajustamento.

O envelhecimento patológico é caracterizado por alterações maiores que o limite considerado normal para determinada idade, com tendência à evolução mais rápida que o fisiológico.

Os elementos que modificam a psicologia e provocam situações conflitivas nos velhos são classificados em sócio-econômicos, psicológicos e físicos.

Os elementos sócio-econômicos e os derivados de urbanização e industrialização, de isolamento social e de confinamento em asilos provocam sentimentos de desvalorização e desprestígio.

A aposentadoria e o medo de perder o emprego podem ocasionar reações de desajuste e a perda da autoridade origina comportamentos de auto-afirmação.

Destacam-se entre os elementos psicológicos da velhice a impaciência, a irritabilidade, o ressentimento e a depressão do humor.

Os estados carenciais, neoplasia cerebral-primária, alcoolismo, doença de Parkinson, arteriosclerose, traumatismos, doença de Alzheimer, múltiplos infartos, endócrinopatias, colagionose, acidente vascular cerebral, doença cerebral difusa, meningites são algumas causas da demência.