Revista de Psicofisiologia, 1(1), 1997 |
2.3) Dor do membro fantasmaOs pacientes se queixam amargamente, vários meses após a amputação, de ainda sentirem uma dor excessivamente forte no membro já amputado. Infelizmente, alguns aspectos sensoriais do membro desaparecido acabam por dominar a vida de muitos amputados. Existe uma tendência perigosa em classificar os doentes de acordo com a presumível origem da dor. A atitude mais razoável que o cientista pode adotar é ficar na expectativa, sem aderir a uma particular escola de diagnóstico ou de terapêutica, e descrever os fenômenos tais como são vistos no homem e no animal. Em cerca de cinco a dez porcento dos amputados, a dor é intensa e pode agravar-se com os anos. Pode ser ocasional ou contínua, e é descrita como contraturante, lancinante, ardente ou esmagadora. Pode começar imediatamente depois da amputação, ou às vezes aparece semanas, meses e mesmo anos mais tarde. Sente-se em pontos precisos do membro fantasma. Uma queixa comum, por exemplo, é que a mão fantasma se sente como que crispada, com os dedos dobrados sobre o polegar e cravados na palma da mão. Outras regiões do corpo podem tornar-se sensíveis e o simples toque destas novas "zonas-gatilho" é suficiente para provocar espasmos dolorosos intensos no membro fantasma. Além disso, a dor é muitas vezes causada por impulsos viscerais resultantes da micção e da defecação. Mesmo perturbações emotivas podem aumentar novamente a dor. Pior ainda, os métodos cirúrgicos convencionais muitas vezes não conseguem dar alívio permanente. A dor do membro fantasma é caracterizada por quatro propriedades principais:
Sobre os mecanismos causais dessa dor, dados coletados, indicam que a dor do membro fantasma não pode ser explicada satisfatoriamente por qualquer mecanismo único, tal como irritação de um nervo periférico, atividades anormais do simpático ou psicopatologia. Todos, de alguma forma, contribuem para a dor. Uma resposta mais satisfatória, de como isso acontece, é que influxos anormais traumáticos ou não, podem modificar a atividade no próprio sistema nervoso central, de forma que padrões anormais de impulsos nervosos são desencadeados por influxos aferentes cutâneos e eferentes simpáticos, modulados pela atividade central. |