Resumo: Este trabalho consta de duas partes: 1) PERTURBAÇÃO
DO RUÍDO NO HOMEM DORMINDO: A maioria das pessoas dorme de olhos
fechados e na penumbra. Em decorrência perde-se a percepção
visual, suprimindo mais de 90% das informações recebidas
e um sistema de segurança de prevenção de ataque de
surpresa. No sono, a audição, o segundo sentido em quantidade
de informação, assume o controle para detectar qualquer sinal
de perigo, mantendo seus canais abertos numa abertura angular total de
360o em torno do nicho individual. A perturbação
pelo ruído é uma das mais críticas, porque o silêncio
se faz necessário para o sono ocorrer na melhor qualidade, que garante
as mais nobres funções, a pouco tempo desconhecidas. Caso
contrário, mesmo dormindo, o organismo começa reagir gradualmente
com seu alerta, e o indivíduo tende a acordar. A partir do valor
médio de 30 dB(A), aparecem reações perturbadoras
das vísceras, no EEG e da estrutura do sono. O ruído aumenta
a duração dos estágios superficiais do sono, quase
inúteis, enquanto o tempo total e os estágios necessários,
MOR e estágios 3 e 4, se reduzem consideravelmente. O despertar
costuma ocorrer mais devido aos picos de ruído, de 8 a 19 dB(A)
sobre o nível de fundo. Quando o ruído do fundo atinge 65
dB(A), os reflexos protetores do ouvido médio parecem funcionar,
anulando em parte função da audição e introduzindo
insegurança pela diminuição da vigília auditiva,
evidenciada pela maior demora para se pegar no sono. A situação
insalubre na cidade e em hospitais de Belo Horizonte é mostrada
como exemplo corrente do 3o Mundo industrializado e urbanizado.
A poluição sonora, consciente ou inconscientemente, piora
significativamente a qualidade absoluta do sono, acarretando piores desempenhos
físico, mental e psicológico. 2) PERTURBAÇÃO
DO RUÍDO NO HOMEM ACORDADO: Milhões de cidadãos
passivos do 3º Mundo estão ficando perturbados física,
mental e psicologicamente, além de surdos, perdendo a capacidade
intelectual. Comprometem-se o raciocínio, a comunicação
oral, a educação, o bem-estar e a sobrevida, limitando as
potencialidades humanas. O próprio desenvolvimento sócio-econômico
da sociedade é afetado pela incapacidade de compreender e reagir
contra seus acusticamente poluídos meios urbanos, industriais e
de lazer, piorados pela alta densidade populacional. Durante duas revoluções
industriais aceleraram-se a degradação dos ambientes sonoros
nas áreas residenciais e no trabalho e a contaminação
do ruído se propagou pelo mundo. Os países do 1º Mundo
sofreram primeiro este impacto e perceberam pela queda na produtividade
e pelo aumento de acidentes, e mudaram de rumo durante a terceira revolução
industrial, quando houve a invasão mais profunda e difusa do meio
urbano pelos veículos automotores. Hoje seus governos estão
interessados em evitar maiores danos à saúde dos homens,
adotando atitude a fim de prepará-los melhor, intelectual e psicologicamente,
para competirem na ponta da globalização. Seus cidadãos
se tornaram mais conscientes e exigem melhor qualidade de vida. No entanto,
em grande parte do 3º Mundo, industrializado ou urbanizado mais tardiamente,
o ruído ambiental continua excedendo, enquanto alguns países
procuram ultrapassar atabalhoadamente as revoluções industriais
perdidas, tornando seus ambientes sonoros insalubres pelo uso intensivo
de equipamentos ultrapassados e barulhentos. Estes povos se mostram incapazes
de queimar etapas com tecnologia limpa e mais moderna para ingressarem
diretamente na nova era pós-industrial. Assim, continuam perdendo
o "bonde da história". Belo Horizonte é examinada como uma
cidade do 3o. Mundo emergente, industrializada e urbanizada.
Palavras-chave: Sono, Poluição sonora, Desempenhos
humanos, Conforto acústico, Saúde.
Parte 1) PERTURBAÇÃO DO RUÍDO NO HOMEM DORMINDO
1.1) A natureza e a função do sono e dos sonhos
Nos trabalhos pioneiros, em experiência de privação de sono com registro do eletroencefalograma (EEG), demonstrou-se a necessidade do sono de não movimentos oculares rápidos (NMOR) para recuperação física e dos sonos MOR para recuperação do humor e da capacidade intelectual. Nos primeiros dias da restauração do sono mostrou-se um efeito compensatório das perdas (Aserinsky & Kleitman, 1953; Kleitman, 1973). A privação total do sono por 40 horas sem dormir provocou distorções perceptivas, falta de perseverança e irritabilidade e por 100 horas sem dormir até desordens psicóticas, depois seguido de compensação com aumento do limiar do sono de até 15 dB(A) (Chapon et al, 1972. Privações parciais do sono grupado determinaram queda de desempenho em tarefas de vigilância e cálculo, perturbação da avaliação do tempo e degradação das relações humanas (Chapon et al, 1972).
Privações seletivas do sono MOR tiveram efeitos mais específicos nas perturbações psicológicas, memória, concentração mental e aprendizagem (Chapon et al, 1972). Já Fisher (1965) (citado por Chapon et al, 1972 (3)), numa abordagem psicoanalítica, observou perturbações do EU e da personalidade, além de memória, concentração e avaliação do tempo. Confirmaram-se estes distúrbios mentais e psicológicos de uma forma ou de outra na privação do sono MOR (Chapon et al, 1972). Mais recentemente estudo com EEG durante meses confirmou a melhor aprendizagem de dormidores com maior duração de sono MOR, entre estudantes de língua inglesa estudando francês (De Koninck et al, 1989). Atual e extensa revisão sobre sonhos (Foulkes, 1996) deixa claro a natureza de "atividade mental alternativa" do sonho, cuja rede neural primária seria a mesma da atividade de vigília. Sabe-se que há "sonhos lúcidos", mais conscientes, que estão muito mais ligados à continuidade de nossa vida em vigília do que com qualquer outra coisa complementar. A não existência de "sonhos lúcidos" na primeira infância liga-se à escassez de imagens mentais mesmo acordado. No sono normal, as percepções externas e a motricidade são mínimas e as atividades intrínsecas sobressaem dando um traço mais nítido à consciência do seu EU, no adulto dormindo.
Por outro lado, a privação
parcial dos sonos de onda lenta, NMOR profundos, são acompanhadas
de baixa de secreção de hormônios do crescimento e
da tireóide, de seqüelas de insuficiência metabólica
dos tecidos e depressivas do organismo, embora uma sensação
de ligeira euforia e hiperatividade. Mas, a recuperação dos
sonos NMOR profundos é imediata, em poucos dias, em detrimento mesmo
do sono MOR (Chapon et al, 1972).
1.1a) Conclusões
1o) A duração dos sonos NMOR profundos parece ser relativamente
mais estável, e reagem logo de maneira compensatória. Ele
varia positivamente com o exercício físico e estresse e negativamente
com a idade, demonstrando relação direta com o nível
de gasto energético (Chapon et al, 1972).
2o) O sono pode ser dividido em duas partes funcionalmente
bem distintas. A primeira, onde predominam os sonos NMOR profundos é
considerada obrigatória por ser necessária à saúde
física, a sobrevivência. A segunda, onde predomina o sono
MOR, é considerada menos obrigatória, por ser considerada
facultativa a recuperação psicológica e mental, mas
que compromete profundamente o desempenho do ser integral (Chapon et al,
1972),
3o) A classificação acima parece confirmada por Lukas
(1971), onde os limiares de despertar pelo estímulo auditivo sobre
o estágio IV é maior do que o do V, indicando a prioridade
natural na preservação adaptativa do lado metabólico
de recuperação e sobrevivência celular sobre o mental
e psicológico. Os maiores limiares para acordar com ruídos
estão nos estágios III, IV e V, considerados por isto profundos
(Tabela 1).
Tabela 1: Variação do limiar relativo para acordar
por ruído com a profundidade do sono segundo seus estágios,
com estímulo auditivo aplicado acima do ruído de fundo,
segundo Lukas (1971).
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Limiar relativo (em dB) |
II III IV V |
5 26 35 31 |
1.1b) Comentários
A sensação de ter bem dormido e acordar motivado estão ligados positivamente com a duração do sono MOR, onde predominam os sonhos. Confirmou-se também em trabalhadores que se queixavam terem mal dormido, mas mostrando grande incidência de estágio 1 e nítida diminuição do sono MOR e em pacientes que passaram a primeira noite em laboratórios de sono, com perdas ligeiras do sono total e estágio 4 e severas no sono MOR (Chapon et al, 1972).
Observou-se também que a duração total do sono melhora a sensação de bem dormir só até um máximo de 9 horas, a partir do qual há uma piora, explicada pelo aumento de desgaste devido a maior atividade cerebral durante o sono, consumindo mais energia metabólica, hormônios e mediadores químicos (Chapon et al,1972). "Dormir mais" pode ser uma inútil busca de compensação pela qualidade de sono perdida, mas que não é resgatada, como confirmado por Braz (1988) na cidade de São Paulo e Pimentel-Souza et al (1996) em pacientes em alta em hospital mais barulhento em Belo Horizonte.
Desde 1963 que Webb (citado por Chapon et al, 1972) constatou que as mulheres dormem pior do que os homens, confirmado na cidade de São Paulo por Braz (1988). As mulheres, em particular as donas de casa, são mais facilmente acordadas pelo barulho (Chapon et al, 1972). No cotidiano observa-se em geral como a mãe é mais sensível ao choro do bebê, desperta-se logo, apesar do pai continuar a dormir.
Com a idade constata-se uma diminuição do tempo total de sono, aumento dos estágios 1 e 2, quedas do estágio 4 e do sono MOR, só aparente após 60 anos (Chapon et al,1972). Isto não significa um envelhecimento normal, mas efeitos de doenças, poluição sonora e maus hábitos. Relacionam-se a queda do estágio 4 com início da patologia cerebral, pela falta de regeneração orgânica, e a queda da duração do sono MOR com baixa da função intelectual. Lukas et al (1970; citado por Chapon et al, 1972) encontraram aumento das reações ao barulho de aviões subsônicos e supersônicos com a idade, sobretudo na duração do despertar que cresce mais de 30 vezes. Donde se pode prever envelhecimento insalubre, no sono e conseqüente perda de desempenho, induzido pela poluição sonora existente no mundo moderno, principalmente no 3o. Mundo industrializado e urbanizado, sujeito a maior poluição sonora do que o 1o. Mundo (Pimentel-Souza, submetido).
Os dados da duração
do sono grupado apontam média de 7,5 horas, com 5% das pessoas dormindo
mais de 9 horas e 5% menos de 6 horas (Chapon et al, 1972). Hartmann et
al (citados por Chapon et al, 1972) constatou que os "grandes dormidores"
despertavam mais e tinham mais estágios 1, 2 e MOR e os "pequenos
dormidores" tinham mais estágios 3 e 4. Jones e Oswald (1966; citados
por Chapon et al, 1972) estudaram 2 indivíduos excepcionais que
dormiam menos de 3 horas que possuíam 49% de estágios 3 e
4, sendo seu valor absoluto igual à duração média
dos indivíduos sem insônia dormindo 7,5 horas, o que explica
o seu caráter metabólico adaptativo e menos despertares por
estarem mais freqüentemente em estágios mais resistentes ao
barulho. A ciência atual no entanto não sabe como se pode
conseguir dormir mais apenas sonos nobres e profundos.
1.2) Perturbação do ruído branco no sono
A mais completa experiência de laboratório foi realizada por Terzano et al (1990) em 6 jovens de 25,8 anos em média, saudáveis, 3 homens e 3 mulheres, sem queixa de insônia, submetidos a níveis diferentes de ruído branco. Este ruído é aquele que ocupa igualmente toda a faixa espectral de freqüência, para não ter influência de timbre, que cause identificação psicológica.
O tempo total de sono caiu
38,8 minutos, em valor relativo 8,2 %, e se correlacionou inversa e significativamente
com o nível de ruído entre 30 deciBéis Acústicos
(dB(A)) e 75 dB(A) (Figura 1). Houve uma queda importante entre 45-55 dB(A)
com elevado aumento do estágio 1, confirmando Vallet et al (1975).
A 44 e 53 dB(A) de pico já se começam a despertar respectivamente
em ambiente calmo, de 25 dB(A), e mais barulhento, 45 dB(A) (Tabela 2).
Mais despertares ocorreram entre 55-65 dB(A) de fundo, correspondendo também
ao máximo de sonos superficiais, 69,4% do total (Figuras 1 e 2).
Já entre 65-75 dB(A) ocorre um fenômeno paradoxal: o tempo
total de sono aumenta de 2,8 minutos, caindo um pouco o percentual do estágio
2 e ganhando paradoxalmente em sono MOR, mostrando que em nível
elevado de ruído o sono até recupera em parte sua estrutura,
mas continua perdendo em sonos profundos NMOR, e a qualidade do sono continua
precária em relação ao silêncio. Isto pode significar
que na audição, o reflexo protetor do ouvido médio
vai provavelmente neutralizar a percepção do ruído
crescente, perdendo também capacidade de vigilância do sono
(Figuras 1, 2 e 3).
Tabela 2: a) Limiares de ruído de pico em dB(A) para início de reações no EEG do sono e b) porcentagem de duração de estágios III, IV e V na duração do sono total, num meio calmo, 25 dB(A), e num meio barulhento, 45 dB(A), de uma população ribeirinha respectivamente antes e depois da abertura de uma autopista na França (Vallet, 1982).
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a) Acordares |
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a) Mudanças de estágio |
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a) Efeitos transitórios |
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b) Duração estágios III e IV |
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b) Duração estágio V |
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1.2a) Conclusão
Instalou-se gradualmente
uma perda significativa da qualidade do sono, enquanto o ruído branco
subiu de 30 dB(A) a 75 dB(A), mostrado por:
1o) queda significativo do sono MOR (Figura 3), cujo percentual
passou de 29,0 % para 20,8 % do tempo total de sono, totalizando uma perda
de 47,3 minutos no tempo absoluto,
2o) na queda significativa dos sonos profundos NMOR (Figura
3), que passaram de 16,5 % a 8,6% do tempo total de sono, totalizando uma
perda de 36,7 minutos no tempo absoluto. O efeito é particularmente
válido para o estágio 4, que sofre perda relativa de 70%
e mantém elevada correlação linear com o nível
de ruído, correspondendo à queda de ocorrência das
ondas delta.
1.2b) Comentários
Há ação antagônica do ruído com os sonos mais profundos, que ocupavam quase metade do tempo total de sono, 45,5%, a 30 dB(A), e se limitando a menos da terça parte, 29,4%, a 75 dB(A). Naturalmente tudo isto ocorreu desequilibrando o sono para o lado mais superficial, estágios 1 e 2, que aumentaram 17% no valor relativo, passando de 54,5% a 69,2% do tempo total de sono (Figura 2). Paralelamente no adulto, há também aumentos significativos de micro-acordares, detectado por padrões de curtas oscilações denunciando despertar só eletro-oscilograficamente, descrito por Terzano et al (1990).
A duração dos períodos acordados conscientes após o primeiro sono subiu significativamente, acentuadamente até 65 dB(A). De 65 dB(A) a 75 dB(A) houve discreta reversão: queda dos despertares e aumento do tempo total do sono e sono MOR (Figuras 1 e 3). Esta aparente melhora do sono a níveis elevados de ruído parece ser devida à grande perda de audição por ação do reflexo do ouvido médio, cuja função é proteger o ouvido do impacto do ruído, mas desguarnece o organismo do sistema alternativo de vigilância durante o sono. Conseqüência provável é que, entre 65-75 dB(A), o paciente tem dificuldades crescentes de conciliar o sono, pois o tempo para dormir subiu até 22 minutos, provavelmente devido à ansiedade da insegurança da falha na vigilância. Em níveis mais baixos de até 55 dB(A) o tempo para dormir quase não variou, não ultrapassando 10 minutos, não mostrando reações por pequenas perdas dos reflexos auditivos. Já o efeito do ruído branco de fundo, de cerca de apenas 40 dB(A) ao nível do ouvido dos neonatos, mostra eficácia de aumentar de 25% para 80% dos que dormem em apenas 5 minutos, para sonos tipicamente medulares, não cerebrais (Spencer et al, 1970).
A baixa de qualidade do sono
com o ruído pode ainda ser ligada com o seguinte:
1o) na forma de sensação subjetiva de ter
mal dormido, fator que se correlaciona significativamente também
com os micro-acordares e deve estar ligada também à perda
dos sonos profundos, especialmente MOR,
2o) no aumento da sonolência diurna. A escala de Stanford
sinalizou uma variação significativa em todos os horários
medidos, exceto às 14 horas, onde provavelmente já existia
uma maior incidência circadiana do ritmo biológico para a
de sonolência natural (Cipolla-Neto et al, 1988), além de
outras prováveis seqüelas não mensuradas como o aumento
de cansaço, perdas de concentração, de humor, de criatividade
etc.
1.3) Perturbação do ruído "in situ" no sono
Nos arredores do aeroporto de Los Angeles nos EUA os moradores tiveram um ganho estabilizado depois de 1 mês de greve de 23% nos estágios III e IV de sonos profundos. De 23 às 6 horas, o nível máximo de ruído externo caiu de 71 para 51 dB(A) e o interno de 52 para 39 dB(A) (Friedman & Globus, 1974). O impacto de ruído como o de aviões tem adaptação mais difícil, porque a 57 dB(A) de pico só 25% da população não tem mudança no EEG, mas a 70 dB(A) de pico com 50 dB(A) na média 25% já acordam segundo Lukas (1973; citado por Vallet (1982). Mesmo a longo prazo após um ano, os moradores ribeirinhos do aeroporto Paris-Roissy não se adaptaram, acordando a partir do pico de 44 dB(A) no estágio II e do pico de 60 dB(A) nos sonos NMOR e MOR, tendo 20% de superficialização de estágios para picos de 60 a 70 dB(A) segundo Vallet et al (1980; citado por Vallet,1982).
Um nível de 60 dB(A) de ruído de trânsito causa impacto de 25% de probabilidade para acordar uma pessoa, mas há uma redução à metade depois de 2 semanas. Mudanças para estágios superficiais de sono começam a partir de 35 dB(A), atingem já 60% a 40 dB(A), com picos de 65 dB(A) (Thiessen, 1980; citado por Vallet, 1982). O aumento de despertares e de duração dos mesmos com nível de ruído foi confirmado por Muzet & Metz (1970; citados por Vallet, 1982). Este dado é corroborado por Vallet (1982) pela queda de 39% nestes estágios profundos de sono NMOR na população ribeirinha de uma autopista na França, com a variação dos ruídos internos máximos de cerca de 47,5 dB(A) para 57,5 dB(A) e médios de 25 para 45 dB(A). Perderam ainda 16% do estágio V do sono (Tabela 2). Estas constatações mostraram que não há habituação ao ruído mesmo em se tratando de indivíduos residentes no local há mais de 1 ano, resultando um envelhecimento em relação aos sonos profundos de pessoas de em média de 35 anos para 50 anos. No meio calmo, de 25 dB(A), antes da inauguração da autopista havia menores efeitos no EEG (9 contra 21) do que depois, apesar dos valores dos picos para reação no meio calmo serem menores do que no barulhento (Tabela 2).
Griefahn (1977; citado por Vallet, 1982) concluiu que o impacto por unidade de ruído impulsional cresce quando a freqüência do ruído cai. Assim a partir 40 minutos de intervalo se atingiria o maior efeito individual, em um lugar silencioso, sendo então recomendado agrupar as poucas ocorrências de ruído do que separá-las. Quanto a vôos noturnos o número mínimo de reações aparecem para nível médio até 35 dB(A), que era o nível de bem-estar noturno recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS, WHO, 1980), conjugado a um pico máximo de 50 dB(A), e para um número de vôos até 15 por noite. Por outro lado, mostrou-se também que um nível de ruído diurno elevado provoca um sono noturno pior, com maiores períodos acordados, 11,9%, condizentes com baixa de serotonina, e compensatoriamente sofrendo aumento de sonos NMOR profundos para 29,3%, coerente com maior necessidade de recuperação física e queda de sono MOR para 22,6% (Vallet, 1982et al, 1975; Vallet, 1982; Frustorfer et al, 1985). Por outro lado, noutra experiência os indivíduos submetidos a 5 anos de barulho de cerca de 47 dB(A) no sono e que depois se mudam para outro quarto de 36 dB(A) tiveram um aumento de 19% de sono MOR Vallet (1982).
Os níveis de ruído encontrados nos hospitais de Belo Horizonte em pacientes praticamente sãos, por estarem em alta, em trabalho de Pimentel-Souza et al (1996), foram comparados aos dados de diminuição de estágios profundos de sono em pesquisas em laboratório na Itália de Terzano et al (1990), onde constaram perdas de 28% e 12% dos estágios III e IV e de 21% e 14,1% do estágio V respectivamente ao nível de 55 e 45 dB(A) de média. Estas quedas dos estágios III e IV, por estarem ligados ao repouso físico, são confirmadas indiretamente pelos dados obtidos de maior cansaço ao acordar dos pacientes do Hospital das Clínicas de 30,8% contra 4,7% no da Baleia, significativamente diferentes, e do estágio V, por estar ligado à atividade intelectual, perdas de concentração de 23,1% e 13,6%, para níveis de ruído médio de 53,7 e 45,5 dB(A) respectivamente durante à noite (Tabela 3). Os números médios de despertares por noite de sono foram estatisticamente idênticos, 2,50 e 2,75 respectivamente no silencioso e no barulhento, sendo praticamente idêntico também o número de picos acima de 10 dB(A) sobre o ruído de fundo, 19 e 21, confirmando que o número de acordares se liga mais com a relação sinal/ruído do que com o nível médio (Carvalhjo, 1996). Os números de acordares nas cidades de baixa poluição sonora na Europa, cerca de 1,0 por noite, é significativamente menor do que encontramos em Belo Horizonte (Janson et al, 1993).
Um dos mais silenciosos hospitais na periferia de Belo Horizonte, dentro dum parque ecológico, recebendo exclusivamente a barulho de atividades internas e devido ao mau projeto arquitetônico, generalizado no país, está no mínimo 5,5 dB(A) acima do recomendado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 1966) e 15,5 dB(A) pela nova recomendação da OMS (Bergland & Lindvall, 1995). Isto significa que provavelmente nenhum hospital de Belo Horizonte satisfaz as condições sonoras ideais. Os níveis sonoros noturnos dos dois hospitais nesta cidade são bem superiores aos de 3 de Rennes, na França, no mesmo período com 42, 32 e 32 dB(A) em média, lá considerados incômodos por 91% do pessoal, mostrando paradoxalmente enorme tolerância ao ruído da população de Belo Horizonte, como aliás no Brasil como um todo, apesar de acompanhadas de sérios comprometimentos físicos, mentais e psicológicos, que podem estar passando despercebidos por renunciarmos aos nossos direitos fundamentais do ser humano. Estamos sujeitando a ser cidadãos de segunda categoria, pois só 66,6 e 33,4% respectivamente dos pacientes em Belo Horizonte relatam incômodo com nível de ruído superior de cerca de 22 e 13 dB(A) respectivamente aos de Rennes (Soyer & Pichon, 1993).
Tabela 3: Aspectos do sono, direta ou indiretamente ligados ao ruído, em percentagem de pacientes em alta. Num hospital mais simples, porém silencioso, todos itens foram mais favoráveis do que num hospital de melhor infra-estrutura, porém barulhento, segundo Pimentel-Souza et al (1966). *diferente significativamente do hospital silencioso.
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Acordar mais cedo |
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Acordar mais tarde |
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Acordar cansado |
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Acordar sem concentração |
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Acordar precocemente s/ conseguir dormir |
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Acordar por ter sido perturbado |
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Distúrbio do sono p/ desadaptação às acomodações |
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Distúrbio do sono p/ cuidados médicos |
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Distúrbio do sono p/ barulho |
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Distúrbio do sono p/ doenças orgânicas |
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Distúrbio do sono p/ presença ou atenção a outra pessoa |
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Distúrbio do sono p/ problemas psicológicos |
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Distúrbio do sono p/ dormir durante o dia |
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Existência de acordares noturnos |
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Falta de rotina p/ preparar p/ dormir |
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Latência maior do que 20 min p/ dormir |
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Necessidade de dormir mais |
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Não estar calmo bastante na hora de dormir |
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Prazer em dormir |
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Recordação de sonhos |
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Pensamentos influenciados pelos sonhos |
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As conseqüências da queda de estágio V, onde ocorre a maioria dos sonhos, poderiam ser melhor estudadas na pesquisa em hospitais em Belo Horizonte. Mas, já se pode perceber em parte o prejuízo, pois além de acordar sem concentração, ocorre também: menores: prazer em dormir, recordação de sonhos e pensamentos influenciados pelos sonhos. É difícil de se tirar maiores conclusões nesta amostra de pacientes de hospital por terem nível de escolaridade baixa, 80% só com primário completo ou incompleto, e não exercerem ocupação intelectual. Mas se for solicitado desempenho nesta área, certamente será insuficiente, pois as atividades cerebrais parecem não terem sido bem recuperadas pela queda de duração do estágio V. As funções psíquicas também devem ter sido afetadas e são ainda mais difíceis de avaliar (Tabela 3).
Nos hospitais em Belo Horizonte,
constatamos ainda que o ruído perturbou diretamente o sono de 69,2%
dos pacientes no Hospital das Clínicas contra 31,8% no da Baleia,
sendo as porcentagens de 31% e 0% respectivamente relacionadas especificamente
ao ruído de trânsito, significativamente diferentes. Nas Clínicas,
61,5% dos pacientes acordaram ainda não satisfeitos com o sono,
querendo dormir mais, apesar de terem uma duração de sono
30 minutos maior do que na Baleia, onde cai para 27,3% os que queriam dormir
mais, dados significativamente diferentes. Enfim, num total de 21 aspectos
dos distúrbios do sono, direta ou indiretamente afetados por barulho,
todos foram piores nas Clínicas do que na Baleia, apesar de ser
um hospital de instalações bem melhores, mostrando que o
ruído neutraliza a melhor infra-estrutura e a mais qualificada equipe
técnica. O prolongamento do sono nas Clínicas nada resolveu,
pois o sono era comprometido pela pior qualidade, deixando o paciente com
mais vontade de dormir, mais perturbação ao acordar, muito
menos prazer em dormir, mais perturbado com outros incômodos (doença
orgânica, cuidados médicos, presença ou atenção
a outra pessoas, problemas psicológicos) e com menos desfrute dos
sonhos, piorando para alguns com acordar mais precoce (Tabela 3). Os danos
sutis da poluição sonora no sono devem atingir a maioria
dos hospitais, residências e escolas da região metropolitana
de Belo Horizonte, e se pode estimar a extensão do dano epidemiológico
por estar a maioria dos níveis de ruído da cidade compreendidas
entre os níveis desses dois hospitais e certamente valendo para
a maioria das zonas urbanas do Brasil e provavelmente também em
grande parte para o barulhento 3º Mundo industrializado e urbanizado.
1.4) Níveis recomendados de ruído para dormir
Já em 1981, Vallet (1982) demonstrou que um índice da qualidade fisiológica para o sono, combinando o tempo total de sono, duração de estágios profundos III, IV e V e tempo passado despertado, só era preservado abaixo de nível médio de 40 dB(A) para ruído de trânsito. Juntando-se ao incômodo e mudanças de estágios por ruído de vôos de aviões este valor caia para 35 dB(A) Vallet (1982), dando origem à primeira recomendação da OMS de que o nível médio (Leq) de ruído para sono de qualidade deveria ser no máximo de 35 dB(A) (WHO, 1980).
O ruído "in situ" é mais prejudicial à qualidade do sono por possuir, associado a um nível de fundo, valores impulsionais elevados. Estabeleceram então diferenciação dos índices de incômodo e de despertar, baseados na relação ruído de pico em relação ao de fundo. Em conclusão, o ruído em pico desperta e incomoda mais quando o ruído de fundo é menor, sendo abafado seu efeito quando o ruído de fundo é maior, mas aí já se nota uma perda de qualidade pela superficialização do sono sem despertar (WHO, 1980; Álvares & Pimentel-Souza, 1992).
Pesquisas mais recentes revistas
para a OMS chegaram à conclusão que os níveis de ruído
nos quartos de dormir deveriam ser ainda 5 dB(A) mais baixos em relação
à recomendação anterior, portanto média de
30 dB(A), valor contínuo, e máximo de 45 dB(A) de pico (Bergland
& Lindvall, 1995), baseados em trabalhos como de Terzano et al (1990).
Estes são valores que deveriam servir de referência para a
jurisprudência do código civil, direito de propriedade, das
leis de contravenções penais e ambiental no Brasil, para
garantir ao cidadão o direito à tranqüilidade no lazer
e no trabalho (Muller, 1956; Oliveira, 1995) e para estabelecimento de
legislação municipal pertinente e normas expedidas pelo IBAMA,
introduzindo conseqüências punitivas intermediárias,
como multas crescentes, para garantir recuperação física,
mental e psicológica, condições necessárias
para potenciar devidamente a capacidade do cidadão para o trabalho
moderno.
Parte 2) PERTURBAÇÃO DO RUÍDO NO HOMEM ACORDADO
2.1) Alterações das funções mentais
e psicológicas pela invasão do ruído
As condições da consciência humana do homem acordado são dependentes do ruído, retirando a concentração em si, a introspecção no EU, distanciando o homem de si mesmo. O ritmo frenético da vida moderna torna o homem cada vez mais agitado, levando-o à condição de não mais perceber a superficialidade em que ficou reduzido.
A principal razão
dessa tendência de saturação do ruído nas cidades
modernas deve-se ao principal vilão da poluição sonora:
o tráfego de veículos automotivos. Cada carro de passeio
é uma fonte emissora de cerca de 70-75 dB(A) a 7 metros. Na medida
que o trânsito é baixo, a passagem de um carro dá um
impulso transitório daquele nível, mas se o tráfego
se torna contínuo e emprisonado por paredões refletores,
em que se converteram nossas vias públicas, o nível de ruído
tende a ser quase estável em torno de 70-75 dB(A), tornando-se maior
com o adensamento do trânsito. Por outro lado, os ruídos impulsionais
dos aparelhos eletroacústicos e a música ao vivo estão
contaminando nossos habitats, sobressaindo mais no período noturno
sobre um menor nível se ruído de fundo.
2.2) Danos à comunicação oral e à audição
Nesta era materialista, as informações tomam um caminho unidirecional: da Mídia para o cidadão em estado de consciência acordado, alimentado predominantemente pelo sentido visual. Esse detém 90% dos canais para o cérebro, carreando enorme quantidade de informação, multiplicada ao extremo pelas Mídias modernas, mas sendo demasiado inoperantes na interatividade entre os indivíduos, seu calcanhar de Aquiles, pois faz do homem um ser passivo, apenas receptáculo. A poluição sonora se torna um inimigo sutil ou quase imperceptível da comunicação oral, pois o som é visto por muitas pessoas apenas como uma onda que passa. Não se percebe como o ruído invade a audição, ocupa nosso cérebro, ativando e monopolizando-o, chegando a reduzir drasticamente o poder de comunicação oral e de reflexão das pessoas.
A intensidade de ruído acima do nível 60 dB(A) já ultrapassa 5 dB(A) a fala civilizada, começando a mergulhar a voz educada, no caos sonoro, e o ouvinte, em distúrbios de atenção e de concentração. A inteligibilidade de 100% de palavras fáceis exige excessiva intensidade da voz acima 10 dB do ruído de fundo, que em nossas cidades usualmente passam de 70 dB(A). Com isto podem ser estressadas as cordas vocais e incompatibilizar as boas condições de concentração, de introspecção, de serenidade etc para atividades mentais e psicológicas de quem conversa. Em um ambiente mais barulhento ainda, as pessoas devem se contentar em entender apenas 50% das mensagens nas conversas, cujo conteúdo passa a ser apenas uma mera formalidade vazia, chamada na gíria brasileira de "troca de figurinhas", necessitando ainda intensidade da voz superar no mínimo o ruído ambiente de 3 dB(A) (Moch, 1985; Lambert, 1992). Em resumo, o homem moderno urbanizado pode ficar insensível ao excesso de informação se perder a sensibilidade auditiva, temporariamente pelo reflexo protetor do ouvido ou definitivamente por lesão das células ciliadas, resultando em prejuízo da comunicação oral por tornar a fala ininteligível ou inacessível com graves repercussões cognitivas e psicomotoras.
Perda auditiva permanente, muitas vezes superior a 20 dB(A) sobre pelo menos uma freqüência crítica, é observada definitivamente em aposentados até jovens, desde que passadas várias horas diárias por cerca de 15 anos vividos em ambientes de mais de 85 dB(A), mas às vezes ocorre pior em adolescentes pelo uso inadequado de "walkman", participação em orquestras etc. Uma fonoaudióloga britânica relatou que mais de 1 hora de assistência à televisão por dia pode perturbar seriamente a aprendizagem de criança até 3 anos. A mensagem acústica em um ambiente barulhento deixa de ser um som distinto para se perder no caos sonoro. Desta forma generaliza-se à força a desatenção na comunicação oral individual em benefício da visual de massa, além da perda gradual ou súbita da audição (MRC, 1985; Thiery & Meyer-Bisch, 1988; Vacheron, 1993; Buffe, 1993).
O nível médio dos fones de ouvido encontrado na Inglaterra em 1984 foi de cerca de 83 dB(A) e de ruído das discotecas de 90 dB(A), este último acarretando 0,5% de perdas auditivas permanentes de 18 dB(A) nos ouvintes de somente 2,3 horas de duração. Isto aumenta o contingente de surdos na Inglaterra de 30 mil por ano. Entre os músicos de orquestra foi encontrado de 33% a 70% de perda da audição (MRC, 1985). Mas no Brasil, como não há controle para o consumidor, presume-se que estes níveis sejam bem maiores. Os níveis de ruído nas regiões residenciais, hospitalares ou escolares, vizinhas destas atividades barulhentas deveriam ser respeitadas nas suas prescrições por questões de saúde preventiva, a curto e a longo prazo. Por isto, aquelas atividades ocasionais deveriam ser obrigadas a se isolarem acusticamente, limitarem seus níveis internos ou serem desenvolvidas em lugares ermos como foi no concerto de rock Woodstock em New York.
Bontinck & Mark (1977) citam que "uma pessoa de 80 anos que viva na África Central tem a mesma capacidade auditiva de um nova-iorquino de 18 anos", pois está mergulhada numa paisagem silenciosa mais natural ao homem, que predominou na Terra há milhões de anos até meados do século XIX, quando houve a erupção da era industrial nas cidades. O DNA do gene humano teve seu retoque final neste longo período e a inércia de sua transformação natural não permite mudanças súbitas para gerar insensibilidade seletiva ao som, a não ser pela engenharia genética, que não ousaria perpetrar esta ousadia sob pena de gerar monstros humanos. Por isto que Glorig propõe a substituição do termo "presbiacusia" pelo de "socioacusia", tendo em vista que a perda auditiva com a idade é típica da sociedade industrializada e urbanizada.
Os níveis de ruído diurno, igual ou acima de 65 dB(A), de alguns países da Europa são considerados mais críticas, e em média só afetavam menos de 5% da população, mas em Belo Horizonte, cidade medianamente barulhenta entre as metrópoles da maioria das cidades do 3º Mundo industrializado e urbanizado, atingem mais de 95% da população. Ora, considerando uma isolação acústica de 10 dB(A), este ruído ressoaria no interior das habitações no limiar do desconforto auditivo, 55 dB(A), (Álvares & Pimentel-Souza, 1992, Laboratório de Psicofisiologia, 1997; Pimentel-Souza, submetido).
Enquanto isto, no 3º
Mundo industrializado continua-se a deterioração urbana pelo
crescimento populacional, que em muitos casos ultrapassam as do 1º
Mundo, sobretudo após a 2a. Guerra Mundial, e perda acentuada da
qualidade de vida. Oito das dez ou 27 das 40 maiores megalópolis
do Mundo são terceiromundistas. A poluição sonora
parece ser a mais sutil e traiçoeira, pois lembra Schafer (1977):
"Espaço acústico não é espaço visual
ou físico. Não se pode possuí-lo, ou demarcá-lo
num mapa. É espaço compartilhado, possessão comum,
de onde todos os habitantes recebem sinais vitais. Pode-se destruí-lo
facilmente, produzindo ruídos irrefletidos ou imperialistas." Mais
adiante: "Um habitante das redondezas pode descobrir que está compartilhando
seu quarto ou jardim com a indústria aeronáutica internacional...".
É evidente que um habitante dum país terceiromundista, industrializado
e urbanizado por maiorias mudas, contaminadas por barulho, passam por sua
vez a serem barulhentas, por se tornarem insensíveis também.
E todos, independentes de suas necessidades ou desejos, vêm-se obrigados
a compartilhar de todas as mazelas e maus gostos de seus vizinhos, ficando
susceptível às perturbações de sua vida íntima
e interioridade e sendo impedidos de crescerem e de amadurecerem mesmo
nas horas de lazer. O problema é agravado nos edifícios de
apartamentos, residências apinhadas e construídos sem a menor
preocupação de isolação acústica e cujo
ônus excessivo para isolação acústica torna
impraticável a sua recuperação. Por outro lado, discotecas,
salões de festas, "shopping centers", restaurantes etc levam ao
"inferno acústico", de 80-90 dB(A) ou mais, as pessoas, embaladas
vaidosamente no aspecto negativo do consumismo e boemia modernista terceiromundistas,
prejudicando as transformações sociais (Tabela 4; Bontinck
& Mark, 1977; Baring, 1988a,b,c,d; Girardet, 1992).
2.3) Distúrbios físicos e mentais, estresse, desequilíbrio hormonal e conseqüente violência
O barulho transitório a partir de 35 dB(A) já provoca reações vegetativas, que à longo prazo e em níveis mais elevados, a partir de 70 dB(A) se convertem permanentemente em hipertensão arterial, secreção elevada de catecolaminas e de hormônios corticosteróides e adrenocorticotróficos, úlcera péptica, estresse, irritação, excitação maníaco-depressiva, arteriosclerose, infarto (Tabela 4; Cantrel, 1974; WHO, 1980; Rai et al, 1981; Vacheron, 1993; Babisch et al, 1993; Pimentel-Souza, submetido).
Nas fábricas misturam-se marteladas pneumáticas e mecânicas com rotação de peças; e no lazer de restaurantes e de casas noturnas expande-se o estardalhaço pela noite a dentro, agredindo violentamente o ambiente acústico das zonas residenciais. Inviabiliza o silêncio, criando um barulho de fundo sem trégua, agora invadindo o cérebro dia e noite. Tudo isto descontrola o ritmo biológico do homem, tornando-o excitado, agressivo e maníaco, levando-o freqüentemente à depressão em caráter epidemiológico crescente, que já atingiu mais de 20% da população dos EUA e cujas conseqüências ainda hoje mal podemos avaliar (Bontinck & Mark, 1977; Brandão & Graeff, 1993; Ludermir, 1995; Goleman, 1995; Pimentel-Souza, submetido).
As informações externas entram no cérebro, se dirigindo para o polo frontal, da racionalidade, onde é processada. Aí está conectado a uma rede neuronal de retroalimentação, que controla o excesso, atuando como mecanismo de auto-proteção e salubridade, eliminando informações pouco assimiláveis, de pouco conteúdo, caotizadas, visuais, emocionais etc, sobretudo fora do contexto. A sobrecarga deste circuito pode levar a uma espécie de esquizofrenia, reduzindo drasticamente a capacidade interpretativa do cérebro (Floru et al, 1987; Brandão e Graeff, 1993; Goleman 1995; Pimentel-Souza, submetido).
Hoje nos países desenvolvidos, após uma euforia de crescimento, há uma tendência à diminuição da população urbana e controle mais rígido e programado da qualidade de vida, garantindo ao ser humano melhores rendimentos nos trabalhos físico, mental e psicológico (Floru et al, 1987). Um esforço para melhoria da qualidade de vida em toda a França fez cair o incômodo em geral na habitação, de 70% para 34% na década 1976-86, mantendo sempre o ruído como o principal agente agressor com 79% das queixas em 86, do qual a principal fonte era o trânsito com 55% (Maurin & Lambert, 1990). Mesmo assim os impactos no ritmo social e na estrutura da família estão ameaçando o bem-estar e levando a maioria das pessoas à conflitos crescentes nos EUA, onde mais de 25% já sofrem de ansiedade, exportando para o mundo globalizado. Por necessidade de desempenho para manter a saúde, o horário de ir para a cama à noite é quase sagrado no 1º Mundo, mas no 3º Mundo a situação se agrava pela mentalidade libertária e boêmia, condenando-nos ao subdesenvolvimento e à insalubridade (Ludermir, 1995; Pimentel-Souza, submetido).
Selye (1954), o descobridor do estresse, mostra sua múltipla origem, tendo em comum tudo que ameaça a vida. Henry (1993) revisou que a reação hormonal no seu primeiro nível começa com liberação de noradrenalina, num segundo estágio adrenalina, que são os hormônios da violência e do medo respectivamente. Em um 3º estágio liberam-se glicocorticóides, que levam à inibição das gonadotrofinas e oxitocinas, afetando a persistência, comportamentos sociais e sexuais, ainda provocando a depressão psicológica, à deficiência imunológica, a desintegração orgânica, óssea, muscular etc (Cantrell, 1974; Pimentel-Souza, 1992; Stanfeld, 1993; Pimentel-Souza, submetido). Cantrell (1974) observou aumento de liberação de 25% de colesterol e 68% de cortisol em jovens submetidos a ruídos de fundo de 50 e 70 dB(A), respectivamente à noite e de dia, com picos de cerca de 85 dB(A) só a 3% do tempo. Já Rai et al (1981) observaram em trabalhadores submetidos a jornadas de trabalho de cerca de 7 horas em ambientes de cerca de 97 dB(A) aumentos de 46% no colesterol livre e 31% no cortisol. Isto significa que pelos níveis de ruídos urbanos do 3º Mundo seus cidadãos estão "ingerindo muita gordura e outros venenos pelo ouvido", sujeitando-se a sérios distúrbios hormonais, que se operam na "surdina", pois seus efeitos se revelam à médio e longo prazo e não são evidentes como um "raio da morte", abatendo de imediato a vítima. Isto é confirmado por Babisch e cols (1993) ao detectarem aumento de 20% de infarto de miocárdio em regiões de Berlim com ruído acima de 70 dB(A) de média. A questão no 3º Mundo parece mais grave, pois, por exemplo, cerca de 80% da população de Belo Horizonte que habita provavelmente esta região de maior densidade habitacional, situada do amarelo ao vermelho no Mapa Acústico do Laboratório de Psicofisiologia, UFMG (1997) estão submetidos no período diário a ambientes acima de 70 dB(A). Daí pode-se estimar então 800 mortes silenciosas e graduais devem estar ocorrendo por ano só devido ao ruído dentre as 5000 constatadas pelo IBGE em 1990, devido a arteriosclerose em geral (Pimentel-Souza, submetido).
O mais traiçoeiro ocorre em níveis moderados de ruído, porque mansamente vão se instalando estresse, distúrbios físicos, mentais e psicológicos, insônia e problemas auditivos. Muitos sinais passam despercebidos do próprio paciente pela tolerância e aparente adaptação e são de difícil reversão. Muitas pessoas, perdidas no redemoinho das grandes cidades, não conseguem identificar o ruído como um dos principais agentes agressores e, cada vez mais, menos o sentem, ficando desorientados por não saber localizar a causa de tal mal. Por isso nada se faz e vive-se sob o impacto de uma abusiva, portanto ruidosa mecanização e sonorização eletrônica, de ambientes fechados e abertos. Não se avaliam devidamente os efeitos somados pela poluição sonora por desconhecer os trabalhos científicos, por não arrolar provas suficientes de convencimento, por não se poder captar a causa pelos próprios olhos, nesta era considerada de predomínio visual, e por ter-se tornado insensível ao dano na comunicação verbal e na saúde. Está colocado o enigma da civilização moderna: ou se decifra ou se é devorado por ela (Pimentel-Souza, 1992).
Por outro lado, o estresse elevado chega até a liberação de endorfinas, propiciando prazer fácil e insensibilização das pessoas pelo efeito anestésico das próprias agressões orgânicas, a ponto de ficarem barulho-dependentes pela liberação no cérebro de drogas psicotrópicas. Tem-se o início a 55 dB(A) pelo efeito da noradrenalina, substância básica das anfetaminas, e alcança a 70 dB(A) a liberação de morfina endógena, criando situação precursora de uso externo de drogas psicotrópicas (Tabela 4;WHO, 1980; Graeff, 1984). Enquanto isto, o confuso e ignorante 3º Mundo industrializado, mergulhado em problemas de sobrevivência, não atina que o ponto estratégico para o melhor investimento é cultural-educativo, para o qual a qualidade de vida é essencial para preparar o recurso humano para a maior produtividade moderna. Ficamos embalados no espoucar do carnaval e futebol, que vão tomando o ano inteiro, e a boemia, que atrai nossos jovens e outros zumbis pela noite à dentro, alienando-os de encarar a vida a busca de uma alegria mais saudável, não se traduzindo em realização moderna (Pimentel-Souza, submetido).
O quê acontece com a pessoa que é constantemente excitada no seu sistema nervoso simpático? Primeiro, esta reação é um sintoma duma agressão do meio da qual o organismo se defende. Em se tratando de ruído ambiente, não se materializa a figura do agressor. Portanto, desenvolve-se, além do medo, a ansiedade. Isto é, ao mesmo tempo que a pessoa prepara-se para se defender ou atacar um inimigo virtual, ela sente-se desorientada para tomar iniciativa. As situações acima são características duma virtual tolerância, ao desconhecer todo o processo interno, mas apoiando pelo "Superego" do Senhor do Engenho, magistralmente descrito pelo sociólogo Gilberto Freire, em Casa Grande e Senzala, nos escravizam até hoje. Certamente isto são marcos da personalidade histórica do brasileiro, que levaram Mário de Andrade em 1926 a descrevê-lo como Macunaíma, herói sem caráter e surrealista, e Sérgio Buarque de Holanda, como o "homem cordial" em 1946. De lá para cá as condições de qualidade de vida do brasileiro pioraram com as urbanizações maciças; mais de 70% da população vivem amontoadas em cidades; cercadas por uma industrialização selvagem e uma favelização desumana. Assim o que se pode esperar é o aumento da tensão física e psicológica, capaz de torná-la ainda mais ansiosa e fragmentada, esquizofrênica mesmo.
A impotência de agir diante duma agressão leva à neurose, conflitos retidos e prontos para desabar sobre o primeiro sinal que tenha aparecido, recebendo indevidamente no primeiro estímulo uma carga excessiva de reatividade, podendo se tornar completamente sem nexo. Está acesa a fagulha do conflito social, o mal humor, as agressões mútuas, a violência etc, que campeiam pelas nossas cidades inchadas, pois fomos embalados no mito idiota de que "Deus é brasileiro" (WHO, 1980; Kandel, 1985; Maurin & Lambert, 1990;).
Pesquisas constaram que pessoas que afirmaram não serem perturbadas pelo barulho perderam inconscientemente eficiência e inversamente as que se diziam perturbadas mantiveram seus rendimentos sofríveis. De fato, aumentando de 55 a 85 dB(A) o nível do ruído branco faz-se elevar a freqüência cardíaca, a taxa de excreção de adrenalina, as perdas em desempenho em tarefas de cálculo, os aumentos de erros, os retardos nas repostas e nas conclusões, as restrições no campo visual, capacitando-nos apenas para tarefas mais simples (Floru et al, 1987).
Entretanto, o estresse, assim como o próprio ruído, não podem ser considerados simplesmente nocivos. Sabe-se que o estresse leve aumenta a atenção e vigília da pessoa acordada, sendo portanto útil na produtividade econômica e evita danos de desatenção, tão cara ao sistema econômico neoliberal em expansão no mundo (Selye, 1954; Floru et al, 1987; Rodrigues & Gasparini, 1992). O silêncio excessivo pode não contribuir para a produtividade econômica de uso intensivo da mão de obra, pois torna todo som mais perceptível, podendo mesmo dispersar atenção, fixando o interesse noutra fonte impulsional mais audível, ou precipitar depressão no indivíduo já viciado em barulho pela síndrome de abstinência, embora possa despertar o a criatividade e a percepção das coisas que entram em consideração para a solução de problemas.
Mas, o trabalho qualificado torna-se cada vez mais intelectual e dependente de silêncio para exercê-lo com proficiência e para preparar a concentração mental e equilíbrio psicológico, inclusive pelo sono bem dormido (Pimentel-Souza, submetido). A música melódica, administrada adequadamente conforme a situação, ambiente e nível de intensidade pode levar pessoas a um êxtase salutar, em algumas horas em salas de concerto, devidamente separadas e isoladas ou em consultórios ou clínicas terapêuticas, ajudando na evocação de emoções sob controle, para serem usadas em processos terapêuticos e preventivos do estresse. É sabido que os monges budistas, que desenvolvem muito o auto-controle, procuram de preferência as montanhas por serem áreas de ambiente rural particularmente silenciosas (Guilhot et al, 1984; Halliday & Resnick, 1991).
É preciso também pôr um limite na incidência do estresse sem trégua, mesmo para o trabalhador braçal, sem o qual o homem é levado às fadigas física e mental, à falta de humor, à exaustão de suas forças até perder o sentido da vida. Eventualmente, numa intensidade fulgurante, uma ciclitimia enlouquecedora é capaz de abatê-lo subitamente com aumentos da agitação, erros, dificuldade de aprendizagem, acidentes, agressividade, assaltos, violência, assassinatos, falta de concentração mental etc (Pimentel-Souza, submetido). Rio de Janeiro e São Paulo, apesar do mito da bonomia brasileira, corroboradas pelo altíssimo nível de ruído, já ultrapassam em criminalidade New York, tradicionalmente conhecida pelos crimes nos sindicatos e da mafia.
O mesmo também pode-se
dizer de outras cidades terceiro mundistas barulhentas, sem poder dizer
exatamente qual é a causa e qual é o efeito, pois todos interagem
positivamente nesta direção (Selye, 1954; Goleman, 1995;
Pimentel-Souza, submetido). Neste cenário, embora empobrecedor da
percepção, é compreensível o uso de música
melódica de fundo com sinais pouco impulsivos, cujo nível
não deve ultrapassar 50 dB(A), para otimizar a produção
ou efeitos evocativos agradáveis sem desconcentrar (WHO, 1980; Schafer,
1977). Nesta linha deve-se evitar o nível de estresse leve permanente,
que estimula o sistema nervoso simpático, acarretando sérios
prejuízos já a médio prazo. Com a expansão
da aparelhagem eletroacústica, a sonoridade das cidades transformou-se
em um mundo inteiramente novo para as gerações de seres humanos
contemporâneos, cujos malefícios o 1º Mundo consciente
procura limitar e o 3º, ignorante e impotente, com sua sofreguidão
agrava o sofrimento humano.
2.4) Níveis de ruído recomendados em vigília
"Saúde" tem sido definida pela OMS como "um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não somente a ausência de doença ou enfermidade" (Berglund, 1991). Enquanto isto os dados científicos são as referências mínimas mais seguras para o cumprimento de jurisprudência das leis de tranqüilidade na residência, de contravenções penais no Brasil, que visam assegurar ao cidadão o direito à tranqüilidade no lazer e no trabalho (Muller, 1956; Oliveira, 1995) e para o estabelecimento de legislação municipal, uma vez que outras pessoas mais sensíveis ou debilitadas estão em condições piores. Faz-se necessário conseqüências punitivas mais aplicáveis, como multas crescentes para viabilizar nossa liberação do caos e do mal-estar, diante do "jeitinho" brasileiro da irresponsabilidade da desconsideração e da ilegalidade.
Admite-se para o período diurno níveis mais elevados nas residências e escritórios, que não deveriam ultrapassar 50 dB(A). A partir de 55 dB(A) começa-se a ativação nervosa autônoma simpática, com todos os inconvenientes a partir da pressão do estresse leve, pela ativação permanente do sistema reticular ativador, mantendo-se o ser humano preocupado sem uma razão e com agitação motora estéril, afetando o sistema nervoso central como um todo. Mas, adotam-se utilitariamente níveis iguais ou acima de 55 dB(A) para pressionar operário a produzir ou o cliente a comprar, o que de forma alguma deveria ser feito sem seu consentimento (WHO, 1980; Berglund & Lindvall, 1995).
Já nas atividades
de lazer de concertos em salas ou ao ar livre e discotecas recomenda-se
que o nível médio (Leq) não ultrapasse a média
de 90 dB(A) por 4 horas de audiência ao nível do espectador.
A descontração do ouvinte deve provocar menos malefícios
do que num ambiente de trabalho. Para evitar lesões auditivas de
ruído impulsivo com armas de fogo ou brinquedos, tanto os executores
como os espectadores não devem ser expostos a mais de 140 dB(A)
de pico, mesmo assim munidos de protetores auriculares.
A reverberação excessiva
nas catedrais medievais, de 5 a 10 segundos, exigia que a comunicação
fosse transmitida pelo canto lento, como o gregoriano, invés de
melhor articulada, para não se atropelar os fonemas, dificultando
o entendimento. As pequenas capelas encorajaram o aparecimento da música
barroca mais ágil e adaptada à reverberação
de 1,5 segundos. As músicas sinfônicas já foram compostas
para produzir um pequeno efeito de mistura de notas anteriores às
que estavam sendo executadas, por isto que as salas de concertos optaram
por um tempo de reverberação maior de 1,7 a 2 segundos (Berglund
& Lindvall, 1995). Nas salas de aula os níveis de ruído
não deveriam exceder 35 dB(A) e prioridade deveria ser dada ao tempo
de reverberação de 0,6 segundos para se obter maior inteligibilidade
num fluxo rápido de comunicação. Já nas salas
de reunião e cafeterias em prédios escolares o tempo de reverberação
pode ser maior, mas abaixo de 1 segundo, para manter alguma inteligibilidade,
obedecendo um nível de 50 dB(A) para não estressar, procurando
manter o relaxamento. Nos playgrounds exteriores o nível médio
(Leq) não deve exceder 55 dB(A) (Ridgen, 1991).
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Tabela 4: REAÇÕES FISIOLÓGICAS
CORRELACIONADAS COM NÍVEIS DE RUÍDO AMBIENTES
|
|
||
Ruído dB(A) |
|
||
A U D Á V E L |
20
30
35
50
|
Ambiente natural,
sussurrar da brisa, canto suave de pássaros (Bontinck &
Mark,1977)
Ambiente de aldeias (Nava, 1958) Indicado para salas de aula, para salas de hospitais
(Berglund & Lindvall, 1995)
|
Indicado para
meditação, intimidade, concentração mental
e a vida saudável com tranqüilidade
LIMITE DE SONO DE QUALIDADE (Terzano et al, 1990, Berglund & Lindvall, 1995) Início incômodo no sono
(Berglund & Lindvall, 1995)
LIMITE DO CONFORTO AUDITIVO |
O L E R Á V E L |
65 |
Limite indicado para pátios escolares (Berglund & Lindvall, 1995) | INÍCIO
DO ESTRESSE LEVE, que excita o sistema nervoso autônomo
simpático, produzindo desconforto auditivo, maior vigilância
e agitação (WHO, 1980; MRC, 1985; Thiery & Meyer-Bisch,
1988, Lambert, 1992)
nível da fala de pessoa civilizada (Moch, 1985) |
N S A L U B R E |
70 | Ruas de tráfego bem intenso até cerca de 1000 veículos hora (vph) (Álvares & Pimentel-Souza, 1992; Gazolla DA et al, 1998 a e b) | INÍCIO ESTRESSE DEGENERATIVO infarto e anestesia por endormorfina (Selye, 1954; Moch, 1985, Babisch et al, 1993); nível de fala poluída por ruído e inteligibilidade limite na conversa (Fantissini et al, 1985) |
75
80
84
|
Média
impulsos em: corredores de trânsito intenso acima de 5000 vph, ambientes
industriais, arredores de aeroportos, salões com música (Moch,
1985, Álvares & Pimentel-Souza, 1992; Gazolla DA et al, 1998
a e b) fone de walkman (MRC, 1985) e interior de ônibus silenciosos
(Lambert, 1992)
|
LIMITE PARA INÍCIO DE DANOS AUDITIVOS (MRC, 1985; Thiery &Meyer-Bisch, 1988 ) | |
85
90 100
120
|
limite do
Ministério Trabalho para jornada 8 horas (Fantassini
et al, 1985)
nível médio em discotecas (MRC, 1985) média com impulsos: buzinas de carros e em músicos
de orquestras. Interior: de ônibus barulhentos e oficinas de lanternagem
(MRC, 1985)
|
SURDEZ NEURAL, DOR LIMIAR NO OUVIDO, LESÃO DAS CÉLULAS CILIADAS (MRC, 1985) |