Algumas pessoas dormem menos mal por fatores orgânicos, como pela falta de substâncias químicas, que participam dos circuitos neurais controladores. Sabe-se que a falta de serotonina leva à insónia e a falta de noradrenalina a suprimir o sono paradoxal (sonho). Essas deficiências podem também ser muitas vezes provocadas por ausência de enzimas conversoas ou substâncias precursoras.
Entretanto, a maioria das pessoas que dome mal hoje é por origem extema. Não só pela falta de ritmo próprio na vida, como no caso dos trabalhadores noturnos, mas também pela quebra do ritmo biológico dos trabalhadores diurnos, devido às perturbações sociais, cada vez maiores nas cidades.
Estudos feitos na Universidade de Cornell, EUA, calculam que 100 milhões de norte-americanos dormem mal, manifestando dificuldades de sair da cama, sono durante a jomada de trabalho ou durante uma aula ou conferência. Esta queda do rendimento físico e mental levou o "Centro de Investigações sobre o Sono" do Hospital Henry Ford, em Detroit, EUA, a considerá-lo responsável por inúmeros acidentes aéreos, automobilísticos, ferroviários, alguns de proporções catastróficas, como os acidentes nucleares em Chernobyl, URSS, e em Three Mile Island, EUA, na indústria química de Bophal, Índia, e o no superpetroleiro Exxon, no Alasca. Em consequência, há perda considerável de milhares de vidas e danos à natureza, além de queda de produtividade, acidentes rotineiros no trabalho, despesas médicas e sofrimento humano.
Se num país desenvolvido e disciplinado como o EUA, 40% de sua população é considerada prejudicada por distúrbios do no sono, no Brasil, se considerarmos um acréscimo de pelo menos 50% pela baixa qualidade de vida e pelo comportamento permissivo e egoísta de muitos cidadãos, teremos pelo menos 60%, ou seja pelo menos 90 milhões de pessoas afetadas (ver artigo sobre "Cidadão de segunda classe" no ESTADO DE MINAS de 9/5/90).
Excetuando-se trabalhadores de turnos ou os notumos e doentes, os mais prejudicados passam a ser os mais velhos e os que realmente trabalham durante o dia, visto na ótica do compromisso com o horário de trabalho e com o desempenho. Mas, com o passar da idade, as pessoas vão acumulando progressivamente distúrbios sobre o sono noturno e já não conseguem dormir mais do que seis horas de sono contínuo à noite. Em compensação, passam a cochilar ao longo do dia. A primeira consequência que todo mundo conhece é a perda de produtividade em geral em todas as atividades. Se o seu trabalho envolve periculosidade e o mesmo não é logo aposentado, torna-se um operário, mesmo de turno diurno, de alto risco pelas distrações que comete.
Levantamentos estatísticos mostram que os adultos dormem entre 5 e 9 horas, sem considerar a sua qualidade e sua saciedade. Sabe-se que a necessidade de sono na pessoa normal e adulta varia com a saúde, tipo de atividade, personalidade ou fase da vida. Crianças, estudantes, doentes e intelectuais necessitam de mais horas de sono e sonho. Porém, pessoas deprimidas, que ao mesmo tempo apresentam hipersonia, podem aprofundar a doença. Geralmente, quando se dorme menos toma-se menos criativo e mais operoso e vice-versa.
Por outro lado, sabe-se que a regularidade do sono é fundamental para a saúde. Isto significa ter hora certa para dormir e levantar. Mas, nem no seu apartamento ou casa o cidadão está livre de incômodos dessincronizadores provenientes de trânsito, vizinhos, obras, igrejas, bares, boates e outras fontes de barulho, que, considerando sua natureza terrivelmente invasora, sobressai-se mais à noite devido à queda do ruído ambiental, e toma-se uma perturbação terrivelmente conflituosa para a maioria das pessoas por impedir um sono normal.
Milhões de pessoas no mundo recorrem a tranquilizantes, do tipo diazepan, ou a outros ansiolíticos, como à bebidas álcoólicas, para tentar dormir à noite. Mas, a curto prazo perdem o sono paradoxal (sonho), portanto com sérios prejuízos para a qualidade do sono, e poddem apresentar ou intoxicação ou sedação diurna ou outras formas de efeitos secundários. A longo prazo, podem ser levados à dependência, a alguma tolerância e, na retirada do medicamento, à síndrome de abstinência, ou seja, dificuldade de vencer transtomos terríveis na saúde para tentar se livrar da droga ou do álcool.
Devido ao uso em massa desses tranquilizantes, equivalente a milhões de comprimidos-ano no país, o Ministério da Saúde restringiu sua venda só com consulta médica, para evitar seus efeitos nocivos. A habituação de uso de psicotrópicos de maneira permanente estabelece também um perigoso precedente de busca de sedação e para os conflitos do organismo, muitas vezes com a tolerância da família. Assim as pessoas acabam ficando submetidas a uma forma de dopagem na intimidade, porta aberta para o uso posterior de drogas pesadas. Por conseqüência, pouco adiantam as campanhas contra as drogas, quando elas já abriram camiiho na vida insalubre e conflituada do cidadão. A situação é mais delicada neste momento, porque a cocaina deverá ser mais facilmente oferecida ao consumo no Brasil, que está agora na rota altemativa desta droga, devido ao combate sistemático à mesma anualmente feito na Colômbia.
É comum no nosso
meio vermos pessoas faveladas fazerem uso diário desses tranquilizantes
como "a solução para o sofrimento". Certamente tudo isto
está denunciando a conhecida má qualidade de vida na periferia
das grandes cidades. No entanto, está passando despercebido que
coisa semelhante vem acontecendo junto à classe média urbana,
devido ao ambiente poluído acusticamente, causam o estresse auditivo,
produzindo distúrbio no sono, prenunciando coisas mais graves, reduzindo,
enfim, o cidadão brasileiro a uma categoria inferior por razões
puramente ambientais. Nesse ponto vemos funcionar a democracia "à
brasileira", tratando todo mundo igual, mas num nível de rebaixamento,
devido à omissão e ao espírito permissivo com as coisas
fundamentais de nossa vida, transformando um potencial cidadão em
fugaz habitante do país.