Fernando Pimentel- Souza
Resumo:
A maioria das pessoas dorme de olhos fechados e pelo menos na penumbra,
anulando a percepção visual responsável por mais de
90% das informações recebidas pelo homem. Mas, a audição,
o segundo sentido em quantidade de informação, mantém
seus canais abertos, varrendo de 360o o nosso espaço
circundante a partir do nosso nicho, para detectar qualquer sinal de perigo.
Para a pessoa dormindo no silêncio, o sono é liberado para
se instalar na melhor qualidade. Caso contrário, o organismo, mesmo
dormindo, começa manifestar gradualmente seu alerta. A partir do
valor médio de 35 dBA, reações vegetativas e no EEG
e mudanças na estrutura do sono são verificadas. Enquanto
os estágios superficiais aumentam a duração, o tempo
total de sono e os estágios profundos, MOR e estágio 4, reduzem
bastante. O despertar já pode ser atingido em 44 dBA e 53 dBA de
pico respectivamente para ambientes calmos, média de 25 dBA, e barulhentos,
45 dBA. Mas, quando o ruído do fundo está a 65 dBA, os reflexos
protetores do ouvido médio parecem funcionar, anulando em parte
a audição e introduzindo insegurança pela perda da
vigília, mostrado pela reação de maior latência
para dormir. Por isto provavelmente a 75 dBA de ruído de fundo a
qualidade do sono se recupera parcialmente, mas longe da qualidade de níveis
mais silenciosos. A poluição sonora portanto piora significantemente
a qualidade absoluta do sono, acarretando pior desempenho físico,
mental e psicológico e perda provável da alerta auditiva,
que reflete a longo prazo em não habituação, mas que
pode se recuperar logo em privação curta. Mostra-se particularmente
a insalubre situação na cidade e em hospitais de Belo Horizonte,
como exemplo do 3o. Mundo industrializado e urbanizado.
Unitermos: Sono, Sonos profundos, MOR, Silêncio, Ruído,
Poluição sonora, Estrutura do sono, Despertar, Reações
vegetativas, EEG.
Introdução : A natureza e a função do sono e dos sonhos.
Já nos primeiros trabalhos, monitorando o sono pelo EEG, demonstrou-se a necessidade do sono para recuperação física e dos sonos MOR para recuperação do humor e da capacidade intelectual em experiência de privação, evidenciando o efeito rebote na restauração do mesmo (1,2). A privação total do sono por 40 horas sem dormir provocou distorções perceptivas, falta de perseverança e irritabilidade e por 100 horas sem dormir até desordens psicóticas, depois seguido de rebote com aumento do limiar do sono de até 15 dBA, conforme Williams et al (1964) e Wilkinson (1965), citados por Chapon et al (1972) (3).
Privações parciais do sono grupado determinaram queda de desempenho em tarefas de vigilância e cálculo, perturbação da avaliação do tempo e degradação das relações humanas, conforme Wilkinson (1969) (citado em 3).
Privações seletivas do sono MOR tiveram efeitos mais específicos nas perturbações psicológicas, memória, concentração mental e aprendizagem, constatado por Oswald (1970) (citado por 3). Já Fisher (1965) (citado por 3) numa abordagem psicoanalítica observou perturbações do EU e da personalidade, além de memória, concentração e avaliação do tempo. Vogel & Traub (1969), Agnew et al (1967), Stern (1969), Feldman & Dement (1968), Fishbein (1969), Greenberg et al (1968) (citados por 3) confirmaram estes distúrbios mentais e psicológicos duma forma ou doutra na privação do sono MOR. Mais recentemente estudos com EEG por meses confirmou a melhor aprendizagem de quem tem maior duração de sono MOR, entre estudantes de língua inglesa estudando francês (4). Atual e extensa revisão sobre sonhos (5) deixa claro a natureza de "atividade mental alternativa" do sonho, cuja fonte seria a mesma da atividade de vigília. Sabe-se que há "sonhos lúcidos", mais conscientes, que estão muito mais na continuidade de nossa vida em vigília do que na complementaridade, que não aparecem na primeira infância, quando as pessoas são incapazes de construir imagens mentais, e com a diferença da consciência de vigília, com percepções e motricidade atenuadas e atividades intrínsecas cerebrais tão intensas quanto às de vigília.
Por outro lado, a privação parcial dos sonos de onda lenta, NMOR profundos, são acompanhadas de baixa de secreção de hormônios do crescimento e da tireóide, de seqüelas metabólicas dos tecidos e depressivas, e se caracterizam depois por uma recuperação imediata, em detrimento mesmo do sono MOR, segundo Diaz-Guerrero (1945), Gresham et al (1965), Hauser et al (1965), Agnew et al (1967), Hauri (1968), Sassin et al (1969) (citados por 3).
Estes trabalhos vieram finalmente convergir para as seguintes conclusões:
1o) O tempo de sonos NMOR profundos parece ser relativamente mais estável, pois reagem de maneira mais compensatória e variam positivamente com o exercício físico e estresse e negativamente com a idade, demonstrando relação direta com o nível de gasto energético, segundo Baekeland & Lasky (1966), Agnew et al (1967) e Jouvet (1969) (citados por 3),
2o) O sono pode ser dividido em duas partes funcionalmente bem distintas. A primeira, onde predominam os sonos NMOR profundos é considerada obrigatória por ser necessária à saúde física. A segunda, onde predomina o sono MOR, é considerada facultativa, por ser necessária ao bom funcionamento psicológico e mental segundo Baekeland & Hatmann (1970) (citado por 3),
3o) A classificação acima parece confirmada por Lukas (1971) (6), onde os limiares de despertar pelo estímulo auditivo sobre o estágio IV é maior do que o do V, indicando a prioridade natural na preservação adaptativa do lado metabólico para recuperação e sobrevivência celular. Observa-se claramente também neste estudo os maiores limiares para acordar com ruídos nos estágios III, IV e V, considerados por isto de profundos (Tabela 1).
Tabela 1: Limiar de despertar conforme o estímulo auditivo
é aplicado em diferentes estágios
do sono, acima do ruído de fundo, segundo Lukas (1971) (6).
Estágio | Limiar relativo (em dB) |
I | 3 |
II | 5 |
III | 26 |
IV | 35 |
V | 31 |
Por outro lado, estudos sobre o bom sono indicam que a sensação de ter bem dormido e acordar motivado estão ligados positivamente com a duração do sono MOR, confirmado também em trabalhadores que se queixavam terem mal dormido, mas mostrando grande incidência de estágio 1 e diminuição nítida do sono MOR e de pacientes que passaram a primeira noite em laboratórios de sono, com perdas ligeiras do sono total e estágio 4 e severas no sono MOR , segundo Monroe (1965) e Wilkinson (1968) (citados por 3). Observou-se também que a duração total do sono melhora a sensação de bem dormir até um máximo de 9 horas, a partir do qual há uma piora, explicada pelo aumento de gasto com a maior atividade cerebral durante o sono, consumindo mais energia metabólica, hormônios e mediadores químicos, conforme Barry & Bousfield (1935), Mc Nair & Lon (1964), Rastin et al (1967) e Globus (1970) (citados por 3). Dormir mais pode ser uma busca de compensação pela qualidade de sono perdida, mas que não é resgatada, como observado por Braz (1988) na cidade de São Paulo e Pimentel-Souza et al (1996) em pacientes em alta em hospital mais barulhento em Belo Horizonte (7, 8).
Desde 1963 que Webb (citado por 3) constatou que as mulheres dormem pior do que os homens, confirmado recentemente na cidade de São Paulo por Braz (1988) (7). As mulheres, em particular as donas de casa, são mais facilmente acordadas pelo barulho, mostrado por Steinicke (1957) e Zung & Wilson (1960) (citados por 3). No cotidiano observa-se em geral como a mãe é mais sensível ao choro do bebê, despertando imediatamente, apesar do pai continuar a dormir.
Com a idade em geral há uma diminuição do tempo total de sono, aumento dos estágios 1 e 2, clara queda do estágio 4 e queda do sono MOR, só aparente após 60 anos, conforme Parmalee et al (1961), Feinberg et al (1967) e Webb & Agnew (1969) (citados por 3), que relacionam a queda do estágio 4 como indício do início da patologia cerebral, pela regeneração orgânica insuficiente, e correlacionam a duração do sono MOR com o nível da função intelectual. Lukas et al (1970) (citado por 3) encontraram aumento das reações ao barulho de aviões subsônicos e supersônicos com a idade, sobretudo na duração do despertar que cresce mais de 30 vezes. Donde se pode prever o envelhecimento precoce induzido pela poluição sonora existente no mundo moderno, principalmente no 3o. Mundo industrializado e urbanizado, sujeito a maior poluição sonora do que o 1o. Mundo (9).
A média da duração do sono grupado
foi de 7,5 horas, com 5% das pessoas dormindo mais de 9 horas e 5% menos
de 6 horas, conforme Kleitman (1963) e Tune (1968) (citados por 3). Hartmann
et al (1969) (citado por 3) constatou que os grandes dormidores despertavam
mais e tinham mais estágios 1, 2 e MOR e os pequenos dormidores
tinham compensativemente mais estágios 3 e 4. Jones e Oswald (1966)
(citados por 3) estudaram 2 indivíduos que dormiam menos de 3 horas
que possuíam 49% de estágios 3 e 4, sendo seu valor absoluto
igual à duração média dos dos indivíduos
sem insônia dormindo 7,5 horas, o que explica o seu caráter
metabólico adaptativo e menos despertares por estarem mais freqüentemente
em estágios mais resistentes ao barulho.
O Efeito do ruído simulado em laboratório
Sem mesmo de acordar, o ruído produz reações vegetativos pontuais, concernentes a vaso-constrição e ritmo cardíaco, que não demonstraram habituação após 14 dias. Muzet et al (1980) (10) mediram o ritmo cardíaco de 26 indivíduos ao efeito de ruído registrado de veículos isolados num fluxo de 90 por hora e acharam os limiares significativos para valores ruído de pico de 50, 55 e 60 dBA para crianças, idosos e jovens adultos respectivamente com 30 dBA de fundo. Jurriens (1981) (11) confirmou "in situ" a correlação entre nível médio de ruído entre 35 dBA e 52 dBA e ritmo cardíaco, que variou de 3 a 13 batimentos/min, em 91% das noites.
Por outro lado, tem sido demonstrado pelo EEG que o ruído provoca reação de despertar no sono, mas a reatividade depende dos estágios do sono em que o paciente se encontra naquele momento ou do conteúdo psicológico do ruído, conforme Oswald et al (1960), Rechtschaffen et al (1966), Ehrhart & Muzet (1974); Muzet & Naitoh (1977); Vallet (1982), citados por Terzano et al (1990) (12).
Pelo EEG já se havia detectado também quedas de onda delta, característica de sonos profundos, nos estágios III e IV, e sono MOR, e aumento de tempo desperto, conforme Vallet & Mouret (1984) (citado em 12). Ehrenstein & Muller-Limmroth (1980), citados por Vallet (1982) (13) também verificaram uma significante diminuição do sono MOR pelo ruído gravado de martelo pneumático de cerca de 80 dBA de pico depois das 2 primeiras noites, não demostrando habituação, mas recuperando-se logo ao voltar ao silêncio e queda dos sonos NMOR profundos até 2 semanas, com ruído urbano de cerca de 60 dBA. A falta de habituação ao ruído, com perda de sonos profundos Jurriens (1980) (14) e a notável recuperação, com supressão do ruído, confirmado por Eberhardt & Akelsson (1983) e Vallet et al (1983) (citados por 13). Estes autores sugerem que o cérebro do paciente varra continuamente o ambiente para detectar perigos potenciais e que o ruído representa um fator sinalizador de ameaça e de estresse.
De outro lado, Terzano et al (1990) (12) demonstraram
o aparecimento de microacordares, padrões de ciclos alternados,
induzidos por ruídos brancos, diferentes das respostas aos eventos
fásicos, tais como complexos K, ondas lentas reativas, fases de
ativação transitória e microacordares, confirmados
por Roth et al (1956), Church et al (1978), Schieber et al (1971) Halász
et al (1971) Raynal et al (1974) Naitoh at al (1982), Halász et
al (1985) ( citados por 12), mas que podem ser produzidas também
por ansiedade, dor ou temperatura incômoda.
Efeito do ruído branco no sono
A mais completa experiência de laboratório foi realizada por Terzano et al (1990) (12) em 6 jovens de 25,8 anos em média, saudáveis, 3 homens e 3 mulheres, sem queixa de insônia, submetidos a níveis diferentes de ruído branco, aquele que ocupa igualmente toda a faixa espectral de freqüência, para não ter influência de conteúdo psicológico, que relatamos a seguir.
O tempo total de sono caiu 38,8 minutos, em valor relativo 8,2 %, e se correlacionou significantemente com o nível de ruído entre 30 dBA e 75 dBA (P< 0,02, ANOVA) (Figura 1). Houve uma queda importante entre 45-55 dBA com elevado aumento do estágio 1, confirmando Vallet et al (1975) (15) que a 45 dBA de pico já se começa a despertar em ambiente calmo, de 25 dBA (Tabela 2). Mas, queda maior ocorreu entre 55-65 dBA, aumentando também o despertar, correspondendo também ao máximo de sonos superficiais, 69,4% do total (Figura 2), confirmando Vallet at al (1975) (13) de que a 55 dBA já havia começado também a atingir o limiar de pico para despertar em ambiente barulhento, de 45 dBA (Tabela 2). Já entre 65-75 dBA ocorre um fenômeno paradoxal: o tempo total de sono aumenta de 2,8 min, caindo um pouco o percentual do estágio 2 e ganhando paradoxalmente em sono MOR, mostrando que em nível de ruído elevado o sono até recupera em parte sua estrutura, mas permanece longe dos valores em maior silêncio, apenas estabiliza os ganhos do estágio 1, mas perde ainda em sonos profundos NMOR. Isto pode significar que a audição, por reflexo protetor do ouvido médio, vai se tornando insensível ao ruído crescente, perdendo o caráter de vigia do sono, quando o nível médio de ruído de fundo é elevado (Figuras 1, 2 e 3).
Tabela 2: a) Limiares de ruído de pico (em dBA) para início de reações no EEG do sono e b) porcentagem de duração de estágios III, IV e V na duração do sono total, num meio calmo, 25 dBA, e num meio barulhento, 45 dBA, duma população ribeirinha respectivamente antes e depois da abertura duma auto-pista na França, segundo Vallet (1982) (13).
Reações | Meio Calmo | Meio Barulhento |
a) Acordares | 43,9 | 52,6 |
a) Mudanças de estágio | 42,4 | 51,0 |
a) Efeitos transitórios | 42,0 | 50,6 |
b) Estágios III e IV | 18% | 11% |
b) Estágio V | 21,7% | 18,2% |
Em conclusão, consolida-se gradualmente uma perda significativa da qualidade do sono, enquanto o ruído subiu de 30 dBA a 75 dBA, mostrado por:
-1o) queda do sono MOR (Figura 3), cujo percentual passou de 29,0 % para 20,8 % do tempo total de sono (P< 0,0002, ANOVA), totalizando uma perda de 47,3 minutos no tempo absoluto,
-2o) na queda dos sonos profundos NMOR (Figura 3), que passaram de 16,5 % a 8,6% do tempo total de sono (P<0,02, ANOVA), totalizando uma perda de 36,7 minutos no tempo absoluto. O efeito é particularmente válido para o estágio 4, que sofre perda relativa de 70% e mantém elevada correlação linear com o nível de ruído (P<0,006, ANOVA), correspondendo ao prejuízo de ocorrência das ondas delta.
Em suma, isto indica ação antagônica do ruído particularmente com os sonos mais profundos, que ocupavam quase metade do tempo total de sono, 45,5%, a 30 dBA, e se limitando a menos da terça parte, 29,4%, a 75 dBA. Naturalmente tudo isto ocorreu desequilibrando e estabilizando o sono para o lado mais superficial, estágios 1 e 2, que aumentaram 17% no valor relativo, passando de 54,5% a 69,2% do tempo total de sono (Figura 2).
A duração dos períodos acordados após o primeiro sono subiu significantemente (P<0,02, ANOVA), acentuadamente até 65 dBA. De 65 dBA a 75 dBA houve até paradoxalmente queda dos despertares e aumento do tempo total do sono e sono MOR, indicando reversão do efeito do ruído no sono (Figuras 1 e 3). Esta aparente habituação do sono a níveis elevados de ruído parece ser devida à grande perda de audição por ação do reflexo do ouvido médio em diminuir o impacto do ruído, mas o organismo fica desguarnecido dum sistema de vigilância durante o sono. Mas por isto provavelmente entre 65-75 dBA o paciente teve dificuldades crescentes de conciliar o sono, pois a latência disparou até 22 minutos, provavelmente devido à ansiedade da insegurança do paciente ao ter grande insensibilização da audição por níveis de ruído de fundo muito elevados. Já a latência para dormir até 55 dBA quase não variou, não ultrapassando 10 minutos, não mostrando reações por pequenas perdas dos reflexos auditivos. O efeito do ruído branco de fundo estimado em cerca de 40 dBA no nível do ouvido dos neonatos aumenta de 25% para 80% dos que dormem em apenas 5 minutos, mostrando tranqüilização em níveis baixos de ruído (16).
O mais espetacular aumento foram dos microacordares, padrões de ciclos alternantes, que são prolongadas oscilações em nível de despertar só eletrooscilograficamente, descrito por Terzano et al (1990) (P<0,00001, ANOVA) (12).
Os autores assinalaram ainda que a baixa de qualidade do sono com o ruído pode ainda ser correlacionada com os seguintes parâmetros:
-1o) na forma de sensação subjetiva de ter mal dormido, fator que se correlaciona significantemente também com os microacordares ( P<0,007, ANOVA), e deve estar ligada também à perda dos sonos profundos, especialmente MOR,
-2o) no aumento da sonolência diurna. A escala de Stanford sinalizou uma variação significativa em todos os horários medidos, exceto às 14 horas, onde provavelmente já existia uma maior incidência circadiana do ritmo biológico para a de sonolência natural (17),
além doutras prováveis seqüelas não mensuradas como o aumento de cansaço, perdas de concentração, de humor, de criatividade etc.
O Efeito do ruído no sono "in situ"
Nos arredores do aeroporto de Los Angeles nos EUA os moradores tiveram um ganho estabilizado depois de 1 mês de greve de 23% nos estágios III e IV de sonos profundos. De 23 às 6 horas, o nível máximo de ruído externo caiu de 71 para 51 dBA e o interno de 52 para 39 dBA (18). Este dado é corroborado por Vallet et al (1982) (13) pela queda de 39% nestes estágios profundos de sono NMOR na população, ribeirinha de uma auto-pista na França, depois do início de funcionamento, com a variação do ruído máximo interno de cerca de 47,5 dBA para 57,5 dBA e médio de 25 para 45 dBA. Perderam ainda 16% do estágio V do sono (Tabela 2). Estas constatações mostram que não há habituação de indivíduos adaptados ao meio há mais de 1 ano nestes níveis de ruído, resultando um envelhecimento para os sonos profundos de pessoas em média de 35 anos como se fossem de 50 anos. No meio calmo, de 25 dBA, antes da inauguração da auto-pista havia menores efeitos no EEG (9 contra 21) do que no meio barulhento, apesar dos picos para reação ocorrerem com valores menores no calmo do que no meio barulhento (Tabela 2). Por outro lado, mostrou-se também que um nível de ruído diurno elevado provoca um sono noturno pior, com maiores períodos acordados, 11,9%, condizentes com baixa de serotonina, e compensatoriamente sofrendo aumento de sonos NMOR profundos para 29,3%, coerente com maior necessidade de recuperação física e queda de sono MOR para 22,6% (13, 15, 19).
Por outro lado, Griefahn (1977) (citado por 13) concluiu que o impacto por unidade de ruído impulsional cresce quando a freqüência do ruído cai. Assim a 40 minutos de intervalo se atingiria o maior efeito individual, sendo então num lugar silencioso recomendado agrupar as poucas ocorrências de ruído do que separá-las. Quanto a vôos noturnos o número mínimo de reações aparecem para nível médio até 35 dBA, que é o nível de bem-estar noturno recomendado, conjugado a um pico máximo de 50 dBA, e para um número de vôos até 15 por noite.
Noutra experiência os indivíduos submetidos a 5 anos de barulho de cerca de 47 dBA no sono e que depois se mudam para outro quarto de 36 dBA tiveram um aumento de 19% de sono MOR (13).
Os níveis de ruído das zonas mais críticas do 1o. Mundo, em média afetando só 5% da população nalguns países da Europa estão sumetendo cerca de 95% da população de Belo Horizonte, cidade medianamente barulhenta, nível para o qual tendem a maioria das cidades do 3o. Mundo industrializado e urbanizado, em função da saturação do tráfego de veículos automotores num meio sem cultura preventiva, destinando a fazer do ruído urbano uma epidemia (Figuras 1 e 2). A situação é pior mas megalópoles como Rio de Janeiro e São Paulo (9, 20).
No impacto dum nível de 60 dBA de ruído de trânsito a probabilidade de acordar é de 25%, mas há uma habituação à metade depois de 2 semanas. Mudanças para estágios superficiais de sono começam a partir de 35 dBA, atingem já 60% a 40 dBA, com picos de 65 dBA, conforme Thiessen (1980) (citado por 11). O aumento de despertares e de duração dos mesmos com nível de ruído foi confirmado por Muzet & Metz (1970) (citado por 13).
Para ruído de impacto como o de aviões, a adaptação é mais difícil, porque a 57 dBA de pico só 25% da população não tem mudança no EEG e a 70 dBA de pico e 50 dBA na média 25% já acordam segundo Lukas (1973) (citado por 13). Mesmo a longo prazo após um ano, os moradores ribeirinhos do aeroporto Paris-Roissy não se adaptaram, acordando a partir do pico de 44 dBA no estágio II e do pico de 60 dBA nos sonos NMOR e MOR, tendo 20% de superficialização de estágios para picos de 60 a 70 dBA segundo Vallet et al (1980) (citado por 13).
Os níveis de ruído encontrados nos hospitais de Belo Horizonte em pacientes praticamente sãos, por estarem em alta, em trabalho de Pimentel-Souza et al (1996) (8), foram comparados aos dados de supressão de estágios profundos de sono em pesquisas em laboratório na Itália de Terzano et al (1990) (12), onde constaram perdas de 28% e 12% dos estágios III e IV e de 21% e 14,1% do estágio V respectivamente ao nível de 55 e 45 dBA de média. Estas quedas dos estágios III e IV, por estarem ligados ao repouso físico, são confirmadas indiretamente pelos dados obtidos de maior cansaço ao acordar dos pacientes do Hospital das Clínicas de 30,8% contra 4,7% no da Baleia significantemente diferentes, e do estágio V, por estar ligado à atividade intelectual, perdas de concentração de 23,1% e 13,6%, para níveis de ruído médio de 53,7 e 45,5 dBA respectivamente durante à noite (Tabela 3). Interessante é que os números médios de despertares foram estatisticamente idênticos, 2,50 e 2,75 repectivamente no silencioso e no barulhento, sendo praticamente idêntico o número de picos acima de 10 dBA sobre o ruído de fundo, 19 e 21, confirmando que o número de acordares se liga mais com a relação sinal/ruído do que com o nível médio (21). Também é notável a diferença dos números de acordares em relação a cidades de boa qualidade de vida na Europa, cerca de 1,0 por noite (22). Deve-se observar que o nível dum dos mais silenciosos hospitais na periferia de Belo Horizonte, dentro dum parque ecológico, portanto devido exclusivamente a barulho de atividades internas e mau projeto arquitetônico, generalizado no país, está no mínimo 5,5 dBA acima do recomendado pela ABNT (23) e 15,5 dB(A) pela nova recomendação da Organização Mundial da Saúde (24). Isto significa que provavelmente nenhum hospital de Belo Horizonte satisfaz as condições sonoras ideais. Os níveis sonoros noturnos dos dois hospitais nesta cidade são bem superiores aos de 3 de Rennes na França no mesmo período com 42, 32 e 32 dBA em média, lá considerados incômodos por 91% do pessoal, mostrando paradoxalmente na população de Belo Horizonte enorme tolerância ao ruído, apesar de acompanhadas de sérios comprometimentos físicos, mentais e psicológicos, que podem estar passando despercebidos por renunciarmos aos nossos direitos fundamentais de saúde, estando ao mesmo tempo renunciando atividades mentais e psicológicas e se sujeitando a ser cidadãos de segunda categoria, pois só 66,6 e 33,4% respectivamente dos pacientes em Belo Horizonte relatam incômodo com nível de ruído superior de cerca de 22 e 13 dBA respectivamente aos de Rennes (25).
Tabela 3: Aspectos de sono, em percentagem de pacientes, direta ou indiretamente ligados ao ruído, onde se vê que num hospital mais simples, porém silencioso, todos itens foram mais favoráveis do que num hospital de melhor infra-estrutura, porém barulhento, segundo Pimentel-Souza et al (1966) (8).
Aspecto do sono | Hospital | |
silencioso | barulhento | |
Acordar mais cedo | 27,3 | 38,5 |
Acordar mais tarde | 31,8 | 38,5 |
Acordar cansado | 4,6 | 30,8* |
Acordar sem concentração | 13,6 | 23,1 |
Acordar precocemente s/ conseguir dormir | 27,3 | 38,5 |
Acordar por ter sido perturbado | 31,8 | 46,2 |
Distúrbio do sono p/ falta de adaptação às acomodações do hospital | 9,1 | 15,4 |
Distúrbio do sono p/ cuidados médicos | 36,4 | 53,9 |
Distúrbio do sono p/ barulho | 31,8 | 69,2* |
Distúrbio do sono p/ doenças orgânicas | 18,2 | 46,2 |
Distúrbio do sono p/ presença ou atenção a outra pessoa | 9,1 | 38,5 |
Distúrbio do sono p/ problemas psicológicos | 9,1 | 30,8 |
Distúrbio do sono p/ dormir durante o dia | 50,0 | 61,5 |
Existência de acordares noturnos | 86,4 | 92,3 |
Falta de rotina p/ preparar p/ dormir | 22,7 | 38,5 |
Latência maior do que 20 min p/ dormir | 40,9 | 69,2 |
Necessidade de dormir mais | 27,3 | 61,5* |
Não estar calmo bastante na hora de dormir | 19,1 | 30,8 |
Prazer em dormir | 63,4 | 23,1 |
Recordação de sonhos | 18,2 | 15,4 |
Pensamentos influenciados pelos sonhos | 14,3 | 9,1 |
Poderia ser melhor aprofundada na pesquisa em hospitais em Belo Horizonte as conseqüências da perda de estágio V do sono, onde ocorre a maioria dos sonhos. Mas, já se pode perceber em parte o prejuízo, pois além de acordar sem concentração, ocorre também: menores prazer em dormir, recordação de sonhos e pensamentos influenciados pelos sonhos. É difícil de se detectar mais nesta amostra de pacientes de hospital por terem nível de escolaridade baixa, 80% só com primário completo ou incompleto, e não exercerem ocupação que demanda atividade intelectual. Mas se for solicitado desempenho nesta área, certamente será insuficiente, pois o cérebro não foi recuperado durante o sono. O estágio V é quando se restabelecem as funções mentais e psíquicas, que na sua falta se limita o potencial de desenvolvimento do cidadão (Tabela 3).
Nos hospitais em Belo Horizonte, constatamos ainda
que o ruído perturbou diretamente o sono de 69,2% dos pacientes
no Hospital das Clínicas contra 31,8% no da Baleia, sendo as porcentagens
de 31% e 0% respectivamente ligadas especificamente ao ruído de
trânsito, significantemente diferentes. Nas Clínicas, 61,5%
dos pacientes acordaram ainda não satisfeitos com o sono, querendo
dormir mais, apesar de terem uma duração de sono 30 minutos
maior do que na Baleia, onde cai para 27,3% os que queriam dormir mais,
significantemente diferentes. Enfim, num total de 21 aspectos dos distúrbios
do sono, direta ou indiretamente afetados por barulho, todos foram piores
nas Clínicas do que na Baleia, apesar de ser um hospital de instalações
bem melhores, mostrando que o ruído neutraliza o gasto de infra-estrutura
e equipe técnica mais qualificada. O sono mais longo nas Clínicas
ainda não era suficiente, comprometido pela pior qualidade, além
de deixar o paciente com mais vontade de dormir, era afetado por mais perturbação
ao acordar, muito menos prazer em dormir, mais acordares noturnos, mais
perturbação com qualquer outro incômodo (doença
orgânica, cuidados médicos, presença ou atenção
a outra pessoas, problemas psicológicos) e com menos desfrute dos
sonhos, embora para alguns revertesse até em acordar mais precoce
(Tabela 3). Não cabe neste artigo levantar todos os danos sutis
da poluição sonora no sono, que em parte se tornam visíveis
na maioria dos hospitais, residências e escolas da região
metropolitana de Belo Horizonte, mas se pode estimar a extensão
do dano epidemiológico pelos níveis existentes de ruído
na cidade estarem compreendidas entre os níveis destes dois hospitais
e certamente valendo para a maioria das zonas urbanas do Brasil e provavelmente
também em grande parte para o barulhento 3o. Mundo industrializado
e urbanizado.
Vallet at al (1981) (citado por 13) demonstraram que um índice da qualidade fisiológica para o sono, combinando o tempo total de sono, duração de estágios profundos III, IV e V e tempo passado despertado, só é preservado abaixo de nível médio de 40 dBA para ruído de trânsito. Este valor, juntando-se ao incômodo e mudanças de estágios por ruído de vôos de aviões começam a partir de 35 dBA, mostrado por Griefahn (1977) e Thiessen (1980) (citados por 13) confirma a primeira recomendação da Organização Mundial da Saúde de que o nível médio (Leq) de ruído para sono de qualidade deveria ser no máximo de 35 dBA (WHO, 1980) (26).
O ruído "in situ" é mais prejudicial à qualidade do sono por possuir, associado a um nível de fundo, valores impulsionais elevados. Vários autores já salientaram este fato e estabeleceram índices de incômodo e de despertar, baseados na relação ruído de pico em relação ao de fundo. Em conclusão, o ruído de pico desperta mais quando o ruído de fundo é menor, sendo abafado seu efeito quando o ruído de fundo é maior, mas aí já se consolidou prejuízos persistentes na qualidade do sono (20, 26).
Pesquisas mais recentes revistas para a Organização
Mundial daSaúde chegaram à conclusão que os níveis
de ruído nos quartos de dormir deveriam ser ainda 5 dBA mais baixos
em relação à recomendação anterior,
portanto média de 30 dBA, valor contínuo, e máximo
de 45 dBA de pico (24), baseados noutros trabalhos como de Terzano et al
(1990) (12). Já nos hospitais o nível máximo deveria
ser de 40 dBA e nas salas, onde os pacientes seriam tratados nível
máximo de 35 dBA, considerando os pacientes terem menos habilidade
de enfrentarem o ruído e as pesquisas terem sido feitas em pessoas
saudáveis (24). Estes são valores que deveriam servir de
referência para a jurisprudência das leis de contravenções
penais no Brasil, para garantir ao cidadão o direito à tranqüilidade
no lazer e no trabalho (27) e para estabelecimento de legislação
municipal pertinente e normas expedidas pelo IBAMA, introduzindo conseqüências
punitivas intermediárias, como multas crescentes, para garantirmos
recuperação física, mental e psicológica, condições
necessárias para clarear devidamente a mente do cidadão para
o trabalho moderno.
Summary: Sleep disturb by noise
Most people sleep with closed eyes and at least in twilight, abolishing the visual perception responsible for more than 90% of the received informations. But, hearing, the second sense in quantity of information keeps its channels open, sweeping 360o the surrounding from the individual niche, in order to detect any sign of danger. For people sleeping in silence, the sleep is free to install in its best quality. On the contrary, the organism even sleeping, begins to show gradually its alarm with increasing noise. Since mean levels of 35 dBA, vegetative and EEG reactions and changes in sleep structure are verified. While the superficial stages increase in time, the total time of sleep and the deep stages, MOR and 4, decrease considerably in time with noise level. The arousal can be already reached at 44 dBA and 53 dBA maxima levels respectively in calm, 25 dBA, and noisy, 45 dBA, surroundings. But, as noise background increases at 65 dBA, the protector reflexes of medium ear seem work, abolishing partially the hearing and introducing insegurity by the lost of vigilance, showed by the reaction of increase of latence to sleep. For that reason probably at 75 dBA the quality of the sleep can become slightly better, but never recovering the quality of more silencious levels. The noise pollution then worsens significantly the absolute quality of sleep, enchaining worse physical, mental and psychologic performances and probably lost of auditive alerteness during sleep, which reflect non habituation at long term and recovering in short lost. It is discussed in particular the situation in the city and in hospitals in Belo Horizonte, as an exemple of the industrialized and urbanized 3rd. Word.
Key words: Seep, Deep sleep, REM, Silence, Noise, Noise Pollution, Sleep structure, arousal, Vegetative reactions, EEG
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