Quinta-feira, 26 de
Junho 23:00 - 2003
Será que os homens se tornarão dispensáveis? No recente livro "Y, a Descendência do Homem", o respeitado geneticista britânico Steve Jones sustenta que o macho está se tornando obsoleto e vai desaparecer como espécie. “Demora ainda uns 10 milhões de anos, mas a tendência já aparece”, diz Jones.
Um pouco de genética básica: a fêmea da espécie tem dois cromossomas sexuais iguais, o chamado X, enquanto o homem compõe-se de um X com um Y. O óvulo só leva o X para o encontro com o espermatozóide, que por sua vez pode carregar X ou Y. Juntou X com X dá mulher, reuniu X com Y nasce homem.
Cálculos de Jones apontam que um só homem, a cada vez que ejacula, produz espermatozóide suficiente para fertilizar todas as mulheres na Europa. Do ponto de vista da evolução, é um desperdício. A mulher, por outro lado, cuida da reprodução da espécie com a maior eficiência. Só produz um óvulo por mês e, quando não ocorre fertilização, somente um óvulo se esvai, em vez das milhões de células que o macho joga fora.
O professor Jones esclarece que o mundo animal resolveu em parte esse desequilíbrio através da poligamia. O macho espalha a semente com mais eficácia. Testes modernos de DNA permitiram ainda comprovar que até entre animais antes considerados monógamos e fiéis, o pai da cria nem sempre é o macho que cuida do ninho ou da toca.
Pesquisas citadas no livro de Jones revelam que a contagem de esperma tem baixado significativamente no mundo ocidental, resultado de hábitos triviais, como usar cueca apertada ou praticar muito ciclismo, chegando até a alterações do meio ambiente que prejudicam a reprodução. Produtos químicos jogados em lagos e riachos, inclusive urina de mulheres que tomam pílulas anticoncepcionais, recheadas de hormônio, já fizeram surgir peixes hermafroditas na Europa e jacarés de pênis minúsculos na Flórida.
Calor também não ajuda, alerta o professor Jones, esclarecendo que a produção de espermatozóide ocorre melhor em temperatura abaixo da que domina o resto do corpo. Sauna, portanto, retira mais do que gordura do homem e chega a ser utilizada como método anticoncepcional na Índia.
Estudos recentes também comprovam que o relógio biológico para a reprodução não se aplica apenas às mulheres, que sempre viveram sob a pressão de se apressar para ter filhos antes dos 40, sob pena de danos ao feto quando engravidam mais velhas. Descobre-se agora que o homem também precisa correr, porque seus espermatozóides se deterioram com o avanço da idade. Resultado: alguns homens já estão providenciando o congelamento de seus espermatozóides novos e ágeis, quando são jovens, para fertilização no futuro.
Na Dinamarca, um bebê em cada 20 já é resultado de "reprodução assistida". O laboratório age, o marido assiste. O homem tem ainda a saúde prejudicada pelo hormônio masculino testosterona que, segundo Jones, provoca danos ao sistema imunológico, tornando o macho ainda mais vulnerável a doenças. Uma célebre experiência americana, nos anos 30, envolvia castrar condenados por crimes sexuais. Uma das conseqüências é que eles paravam de produzir testosterona. Tempos depois, verificou-se que os castrados viviam em média 13 anos mais do que os outros. Tornaram-se mais saudáveis sem a testosterona.
Os danos da testosterona se aceleram com a chegada da meia-idade, quando a mortalidade, até então igual entre os sexos, começa a atacar mais o homem. Com mais de 80 anos, dois terços da população é de mulheres. E entre os centenários, só um entre nove é homem. Essas estatísticas são do Reino Unido, mas o professor Jones sugere que ela se aplica em termos gerais.
Os Metrossexuais - Não é só na biologia que a masculinidade está ameaçada. Na sociedade contemporânea também. Todos os valores que definiam o homem estão sendo postos em questão. Pesquisa recente de uma grande agencia de publicidade nos EUA mostra que a maioria dos homens adota valores antes considerados femininos. Os homens se definem como carinhosos e românticos. Seu maior desejo é envelhecer ao lado da mulher amada.
A maioria acha que salão de beleza também é coisa de macho. Não vêem nenhum problema em fazer pedicure, manicure e máscara facial, porque o homem que cuida da aparência tem mais chance no mercado de trabalho. Outra novidade: a maioria não quer voltar aos tempos pré-feminismo, quando lugar de mulher era em casa. O novo homem é companheiro, também no mercado de trabalho. A palavra da moda para definir o novo homem é metrossexual. O heterossexual das grandes metrópoles, antenado com a moda e a vanguarda. E que faz questão de explorar seu lado feminino.
O craque inglês David Beckham é o ícone dos metrossexuais. Pinta as unhas, faz trancinha no cabelo e posa para revistas gay. Mas a mulher dele, Victoria, a ex-posh spice, não tem queixas. Os gays não reclamam da novidade. Afinal, nunca foram tão bem aceitos. O Canadá acaba de oficializar o casamento gay. As paradas do orgulho gay se espalham pelo mundo, cada vez maiores. O homossexualismo não causa mais escândalo. O único problema é que os gays agora andam confusos. Ficou difícil saber, pela aparência, se um homem é homo ou hetero. Adeus, machão!
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