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GENÉTICA
Britânico usa DNA para vincular clientes com uma das linhagens
maternas da espécie; Brasil tem serviço similar
Internet oferece genealogia de várias Evas
DA REPORTAGEM LOCAL
Todo mundo descende das 33 filhas de Eva. Para saber qual delas foi
sua ancestral, tudo o que você precisa fazer, se tiver origem européia
e acesso à internet, é raspar a bochecha com algodão
e pagar um geneticista para que construa a sua árvore genealógica.
O geneticista é Bryan Sykes, da Universidade de Oxford, Reino
Unido, que mapeia sequências de DNA para descobrir de onde vieram
os seres humanos.
Ele lançou um serviço na internet (www.oxfordancestors.com)
chamado MatriLine, que permite traçar as linhagens maternas de qualquer
pessoa até uma das sete filhas de Eva. Esse é o nome que
Sykes escolheu para as linhagens de DNA mitocondrial (o DNA presente nas
mitocôndrias, as fábricas de energia da célula, que
só é transmitido pela mãe) que se espalharam pela
Europa a partir de 45 mil anos atrás -as datas ainda são
discutíveis.
Um serviço parecido existe no Brasil desde o ano passado, fornecido
pela empresa Gene, de Belo Horizonte (www.gene.com.br).
Ele permite determinar de que parte do mundo vieram os genes de cada brasileiro.
Quem entrar no site da empresa de Sykes e pagar 150 libras (cerca de
R$ 500) recebe um kit com uma espécie de cotonete para mandar amostras
de DNA colhidas na mucosa bucal para análise.
"Há cerca de 33 grupos [filhas], se você pegar o mundo
inteiro", disse o geneticista-empresário.
O serviço é inicialmente voltado para Europa e EUA, mas
o site garante que pode descobrir as origens de qualquer pessoa. No caso
de europeus, seriam sete as matriarcas genéticas, descritas no novo
livro de Sykes, "As Sete Filhas de Eva", recém-lançado no
Reino Unido. "Para trazê-las à vida, eu lhes dei nomes, de
Úrsula, na Grécia, 45 mil anos atrás, a Jasmine, na
Síria, 10 mil anos atrás."
Parente da múmia
O pesquisador britânico começou a analisar DNA de ossos
humanos antigos no início da década. Em 1994, foi chamado
para examinar restos congelados de um homem de 5.000 anos, aprisionado
no gelo dos Alpes.
Isso o levou a pesquisar como os genes passam inteiros de geração
a geração pela linhagem materna e o ajudou a localizar os
ancestrais genéticos humanos. Pouco tempo depois, descobriu na Inglaterra
uma mulher com a mesma sequência genética da múmia.
Estava aberto um filão de mercado. "Milhares de pessoas pediram
para fazer um teste de DNA para descobrir de onde elas vêm", disse
Sykes. "A maioria vinha dos EUA. Eu acho que a razão para o interesse
é a redescoberta do fato de que nós temos uma história
e de que os genes não são somente algo que é legado
a você."
As filhas de Eva são linhagens recentes de um DNA mitocondrial
fundador da espécie, batizado como "Eva" pelo geneticista americano
Allan Wilson. Ela teria vivido em algum lugar da África há
cerca de 150 mil anos, quando o Homo sapiens sapiens surgiu.
Para saber a que distância uma pessoa se encontra de uma dada
filha de Eva, basta sequenciar (descobrir a ordem das letras químicas
A, T, C e G do DNA) uma porção específica do DNA mitocondrial
e compará-la a certos grupos de genes (haplogrupos) que servem de
etiquetas para as populações modernas.
"Conhecendo a distribuição dos haplogrupos, você
consegue estabelecer rotas de migração", disse à Folha
o geneticista Fabrício dos Santos, da UFMG (Universidade Federal
de Minas Gerais). Santos também estuda genealogia, só que
usando outra ferramenta genética, o cromossomo Y, transmitido apenas
de pai para filho.
Essa abordagem o levou a localizar o chamado Adão das Américas,
em 1999. Foi ele também que elaborou o método de busca dos
ancestrais paternos usado pela empresa Gene -que acha as origens paternas
por R$ 350 e as maternas por R$ 400.
"Qualquer pessoa com uma formação boa em genética
de populações consegue fazer esse trabalho", disse Santos.
Se a iniciativa pegar nos EUA, o mercado dos ancestrais está só
começando.
Com agências internacionais
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