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nº 109 - Setembro 2012

 

Atividades de Políticas Públicas e de Projetos do Mater Natura, em agosto

Dentre nossas atividades de Políticas Públicas realizadas no mês de agosto, destacamos a participação em: (i) 84ª Reunião Ordinária do Conselho Estadual do Meio Ambiente – CEMA (Curitiba-PR, dia 07); (ii) Encontro no Centro de Ação Voluntária de Curitiba - CAV/Germinar Sul (Curitiba-PR, dia 09); (iii) Painel: Perspectivas socioambientais a partir da Rio+20 (Curitiba-PR, dia 09); (iv) Reunião do FBOMS - Campo socioambiental (Brasília-DF, dia 14); (v) IX Assembleia Geral da Rede Brasil sobre Instituições Financeiras Multilaterais (Luiziânia-GO; Dias 15 a 17 - Foto); (vi) Fórum Permanente da Agenda 21 Paraná - 44ª reunião ordinária (Curitiba-PR, dia 21); (vii) I Conferência Nacional de Desenvolvimento Regional - I CNDR - Comissão Organizadora Estadual-COE (Curitiba-PR, dia 28); (viii) Em reunião ordinária do Conselho Municipal do Meio Ambiente foi aprovado o Plano Municipal para Conservação e Restauração da Mata Atlântica do Município de Curitiba, documento elaborado pela empresa Maraibi Consultoria Ambiental Ltda. e o Mater Natura com apoio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente - SMMA. Este é um dos produtos do projeto "Planos Municipais de Conservação e Recuperação da Mata atlântica (RS, SC, PR e MS)”, executado pela ONG Mira-Serra e no qual o Mater Natura é o perceiro estadual. O PDA/MMA é o financiador do projeto (Curitiba-PR, dia 31).

As atividades realizadas em nossos projetos no mês de agosto, foram:

(i) Entre os dias 16 a 24 foi realizada a oitava incursão de campo do projeto “Território, biologia reprodutiva e elaboração de um Plano de Ação Nacional para Conservação da Maria-da-restinga (Phylloscartes kronei)”, aprovado junto à Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza – FGBPN. Foram registrados indivíduos com início de placa de incubação indicando que a estação reprodutiva da espécie em 2012 está começando. Foram capturados e anilhados dois novos indivíduos (24 e 25) e coletadas informações sobre a área de vida de um macho adulto (Indivíduo 17) que não era registrado desde janeiro. Durante a tentativa de anilhamento de um indivíduo de maria-da-restinga foi capturado um adulto de não-pode-parar (Phylloscartes paulista), espécie globalmente ameaçada de extinção e pouco comum na área da Reserva bicudinho-do-brejo. Na foto, de Carlos Gussoni, Indivíduo 25 capturado em 21 de agosto de 2012.

(ii) Entre os dias 10 e 14, a equipe do projeto “Vulnerabilidade de Aves Estuarinas à Mudança Climática”, financiado pela FGBPN, realizou suas atividades de campo. Neste mês foram encontrados novos ninhos de Bate-bico, sendo quatro com ovos e um com filhote. Já para o Bonito-do-piri, não foram registrados novos ninhos. Os ninhos encontrados foram medidos e a fitossociologia do local de nidificação foi realizada. Estes também foram acompanhados ao longo da fase, com o propósito de observar novas posturas e sobrevivência do filhote. Um indivíduo de Bonito-do-Piri foi anilhado. Também foram realizados censos de aves, medição de salinidade e maré, fenologia e fitossociologia da vegetação.

(iii) Nesse período, a equipe do projeto “Zona Livre de Braquiária: uma proposta para a conservação do bicudinho-do-brejo na APA de Guaratuba (PR)”, aprovado junto à FGBPN realizou duas expedições. A primeira entre os dias 9 e 15 no estuário da baía de Guaratuba e a segunda entre os dias 22 e 28 na Reserva Bicudinho-do-brejo, na Lagoa do Parado. Tanto no estuário como na Reserva as atividades de monitoramento do bicudinhos-do-brejo e de manejo das braquiárias continuaram e as áreas manejadas foram ampliadas, ou seja, além dos pontos que já estão sendo trabalhados, foram encontradas e removidas duas porções de braquiária na Lagoa do Parado e outras duas no estuário. No estuário foi removida uma porção de braquiária na Ilha do Jundiaquara, onde os bicudinhos são monitorados desde 2006 (ver foto). No estuário a equipe contou com a ajuda de Andre Targa Cavassani e na Reserva bicudinho-do-brejo com a ajuda de Vinícius Tonetti.

(iv) Pelo projeto “Avaliação da Vulnerabilidade de Extinção das Espécies da Floresta Atlântica Mediante o Uso de Redes de Interação Mutualística entre Plantas Zoocóricas e Aves Frugívoras”, financiado pela FGBPN, neste mês foi realizada a saída a campo, com quatro dias na Reserva Natural Serra do Itaqui e sete dias na Reserva Natural Salto Morato. A atenção, a partir deste semestre, está voltada principalmente para o levantamento da abundância e fitofisionomia das plantas encontradas nas três fases sucessionais. As atividades realizadas no mês foram: acompanhamento das espécies em frutificação e observação das interações entre as aves frugívoras e as plantas ornitocóricas durante as primeiras horas do dia (6:30-9:00); coleta dos frutos e sementes e do material vegetativo para coleção e fitofisionomia da vegetação. Na foto, de Tiago Machado de Souza, observa-se a Jacutinga (Aburria jacutinga), uma das aves estudadas no projeto.

(v) Durante esse mês a equipe do projeto “Riqueza, ecologia molecular e conservação de Melanophryniscus (Amphibia: Anura: Bufonidae) da Floresta Atlântica do sul do Brasil”, apoiado pela FGBPN, desenvolveu atividades em laboratório, amplificando um novo gene nuclear para as populações montanas de Melanophryniscus. Também trabalhou na redação do manuscrito para a descrição de 6 (seis) novas espécies descobertas durante a execução do projeto. O projeto foi divulgado em matéria publicada na Gazeta do Povo, no dia 8 de agosto, e em reportagem transmitida pela Rede Record, no dia 10. No IX Simpósio do Programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação, da UFPR, parte do projeto foi apresentada como proposta de mestrado de uma integrante da equipe.

(vi) Agosto foi o último mês do projeto “Heterogeneidade ambiental e diversidade de anuros (Amphibia: anura) dos Campos Gerais, Paraná, Brasil”. Este projeto teve como objetivos: (i) Inventariar, descrever e comparar as taxocenoses de anfíbios anuros na região dos Campos Gerais, representadas por quatro Unidades de Conservação (Parques Estaduais do Guartelá, Vila Velha, Caxambu e Floresta Nacional de Piraí do Sul); (ii) Avaliar influência da complexidade estrutural do habitat e paisagem na diversidade das espécies. A riqueza registrada na região de estudo representa aproximadamente 25% da riqueza registrada para o estado do Paraná, que é de 142 espécies.

A investigação da influência da heterogeneidade ambiental na diversidade de espécies evidenciou que corpos d’água com maior área, com maior heterogeneidade de vegetação em suas margens e maior porcentagem de vegetação emergente na lâmina da água foram as características estruturais correlacionados com maiores valores de riqueza. Detectou quatro características ambientais (percentual de vegetação emergente na lâmina da água, heterogeneidade da vegetação nas margens, heterogeneidade de tipos de solo nas margens e menor distância do corpo d’água até o fragmento florestal mais próximo) que favorecem a abundância de 15 espécies individualmente. Concluímos que alta heterogeneidade ambiental da paisagem regional resultou no encontro de poderes de explicação tanto por parte das variáveis locais quanto das variáveis regionais para explicar o padrão de distribuição dos anfíbios. Expressamos nossos agradecimentos à FGBPN pelo apoio recebido, que foi fundamental para aumentar o conhecimento da anurofauna do Paraná e da fisionomia de Campos Gerais.

(vii) Em relação ao projeto "Ações de Governança Participativa no Corredor de Biodiversidade do Rio Paraná", financiado pelo MMA/PDA, e do qual o Mater Natura é um dos integrantes do consórcio de instituições coexecutoras, em agosto foi iniciada a elaboração do diagnóstico do território do corredor. Também foi realizada uma ida a campo para o monitoramento do projeto na margem de proteção do lago de Itaipu (foto) e iniciada a organização da última oficina do projeto, que será realizada em Foz do Iguaçu nos dias 13 e 14 de setembro. Na foto percebe-se a presença de agricultura ao redor do Corredor Santa Maria (mantido pela Itaipu Binancional), ao fundo.

(viii) Quanto ao projeto "Corredor das Araucárias" financiado pelo MMA/PDA, e do qual o Mater Natura é um dos integrantes do consórcio de instituições parceiras coexecutoras, no dia 07 de agosto foi realizada reunião da Rede Gestora do projeto, ocasião em se deu continuidade à elaboração do Plano de Ação para orientar os trabalhos da Rede Gestora após a conclusão do financiamento do PDA. Entre os dias 08 a 10 desse mês, ocorreu a complementação das visitas de monitoramento (iniciadas em julho último) nas propriedades rurais que participam de projetos pilotos relacionados à meta 4 do projeto de forma a propriciar fontes de renda alternativas e garantir a segurança alimentar de agricultores inseridos em áreas prioritárias do Corredor das Araucária. Da mesma forma, entre os dias 24 de agosto a 02 de setembro, ocorreu saídas de campo para a validação do mapa de uso do solo do Corredor das Araucárias (Meta 5.5 do projeto).

(ix) No mês de agosto, o projeto “Gerenciamento Integrado de Unidades de Conservação da Mata Atlântica: a Capacitação em Gestão Participativa como uma Estratégia de Conservação”, aprovado na chamada 09 do Programa Demonstrativo do Ministério do Meio Ambiente (PDA/MMA), deu continuidade às ações da fase de “enriquecimento prático” em cada unidade de conservação (UC). No Território do Paraná as seguintes ações foram executadas: I – reunião da Câmara Técnica de Conservação dos conselhos da APA/ESEC de Guaraqueçaba e Parque Nacional do Superagui, que aconteceu no início do mês, no município de Guaraqueçaba; II – reunião do Grupo de Trabalho de Avaliação e Monitoramento da gestão do Parque Nacional Saint-Hilaire/Lange, em Matinhos; III – reunião do Grupo de Trabalho de Reestruturação dos conselhos da APA/ESEC de Guaraqueçaba, na sede do Mater Natura.

No Território do Rio Grande de Sul, as seguintes ações foram executadas: I – oficina de capacitação dos conselhos da APA da Rota do Sol e ESEC Arating, que aconteceu no dia 08 de agosto em São Francisco de Paula. Foi também a primeira reunião conjunta desses conselhos, recém-criados, contando com a presença de 52 conselheiros entre titulares e suplentes; II – aconteceu a terceira reunião da Rede de Áreas Protegidas do Litoral Norte, em Itati, criada no escopo do projeto PDA. Um dos pontos de pauta envolveu a discussão sobre a criação do Mosaico de UCs Porta de Torres. No site do Projeto você encontra maiores informações sobre as ações do projeto realizadas até o momento.

(x) Pelo projeto “Implantação do Plano de Conservação do Bicudinho-do-brejo”, patrocinado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade - Funbio, entre os dias 8 e 14 de agosto a equipe esteve novamente na região da baía de Guaratuba para obter mais amostras para o trabalho de variabilidade genética das populações do bicudinho-do-brejo. Além do trabalho de campo, as análises continuam no Laboratório de Dinâmica Evolutiva e Sistemas Complexos da UFPR. Na foto, de Ricardo Belmonte, uma fêmea de bicudinho-do-brejo.

(xi) Em agosto encerrou-se o projeto "Inclusão e Ampliação da Proteção da Floresta Ombrófila Mista – Floresta Ombrófila Densa em Quatro UCs de Proteção Integral na Serra do Mar Paranaense", financiado pelo Funbio, com uma reunião de apresentação dos resultados aos técnicos das instituições parceiras do projeto (o IAP - Instituto Ambiental do Paraná, SEMA - Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos e o ITCG - Instituto de Terras, Cartografia e Geociências), a partir da qual formulou-se os encaminhamentos finais. Agosto também foi o mês programada para o recebimento da documentação de “cadeia sucessória jus em ré” solicitada aos cartórios dos municípios de Antonina e Morretes (PR), a qual está em fase final de levantamento para repasse. Em função das dificuldades de agenda encontradas para se realizar a reunião de apresentação e agregar as contribuições oriundas dela no relatório final, foi solicitada ao FUNBIO uma extensão da data final para apresentação do relatório final para o dia  30 de setembro.

(xii) Dando continuidade às atividades previstas para a prestação de serviços no "Programa Petrobras Agenda 21 Comunitária (PPA-21)", firmado com a Petrobras, foram realizados ao longo do mês de agosto, encontros com jovens que irão participar como voluntários nas atividades de levantamento para o diagnóstico das comunidades trabalhadas. Para tanto, será realizado um treinamento para o censo e posterior tabulação e interpretação dos dados levantados. Neste mês, também foi elaborado e entregue à Petrobras o relatório dos trabalhos realizados na Fase I do projeto.

(xiii) A equipe do projeto "Cultivando Esperança“, apoiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, finalizou em agosto os diagnósticos e o mapeamento no Assentamento Rosa (Guarapuava-PR); nas outras comunidades participantes da proposta esses trabalhos ainda terão continuidade em setembro, bem como a prospecção de novos participantes. Também foi enviada a prestação de contas da segunda parcela trimestral ao BNDES, além de solicitada nova parcela. Em setembro, no Assentamento Rosa, será iniciada a implantação de áreas piloto de restauração. Neste mês também começará a capacitação das comunidades em atividades de recuperação florestal e uso sustentável dos recursos naturais da Floresta com Araucária.

(xiv) O projeto "O Parque Nacional do Iguaçu: um Patrimônio Mundial a Descobrir e Proteger", do qual o Mater Natura é parceiro executivo da Rede Verde, continua multiplicando as atividades no âmbito da Terapia Laboral com os dependentes químicos hospedados na Comunidade da Sagrada Família no bairro Porto Belo (Foz do Iguaçu-PR), com o apoio da Itaipu Binacional. As atividades realizadas incluem auriculoterapia, yoga kundalini, nutrição, cuidados aos animais domésticos (foto) e construção de um viveiro para a produção de plantas medicinais. Também, uma oficina culinária sobre o crudivorismo foi ministrada no mês de julho pela Anne-Sophie, durante a qual os alunos aprenderam a fazer macarão com abobrinha, substitutos para feijão, arroz e carne moída, hambúrgeres, molhos, várias sobremesas e até pães. O crudivorismo é o ato de se comer alimentos crus, como a raça humana fez durante praticamente toda sua existência. A literatura científica comprova que quanto mais se cozinha um alimento, mais seus nutrientes são perdidos e diversos outros elementos cancerígenos, que não estavam presentes anteriormente, se formam durante o cozimento. Além disso, em quase todos os casos, também retiramos dos alimentos um nutriente essencial à saúde humana: a água. Saíba mais sobre o crudivorismo clicando aqui.

No projeto de doutorado da pesquisadora associada ao Mater Natura, Anne-Sophie Bertrand, foi iniciado os testes com dez armadilhas fotográficas na região do município de São Miguel do Iguaçu (PR), na zona de amortecimento e no interior do Parque Nacional do Iguaçu. As câmeras foram instaladas no mato durante 15 dias e revelaram a presença de 25 espécies e alguns detalhes de interação interespecífica. O objetivo era testar o equipamento uma vez que em setembro, será iniciado um monitoramento contínuo de 24 meses. Durante este monitoramento, as 10 câmeras estarão permanente ativadas em campo, deslocadas a cada 15 dias. O objetivo é verificar a presença dos mamíferos nesta zona de transição entre o hábitat florestal e a zona de amortecimento predominantemente agrícola. Este projeto recebe o apoio da Universidade de Aveiro (Portugal), do Parque das Aves (Foz do Iguaçu, PR) e da Reserva Ecológica Ecojahom (Sâo Miguel do Iguaçu, PR). Na foto, interação interespecífica entre uma cutia (Dasyprocta azarae) e um bacurau (Caprimulgus rufus). Informações adicionais podem ser obtidas através da página Facebook da Rede Verde e de seu website

Saiba mais sobre espécies recém-descobertas ou ameaçadas de extinção

(i) No dia 8 de agosto o jornal paranaense "Gazeta do Povo" publicou reportagem com entrevista ao pesquisador associado ao Mater Natura - Instituto de Estudos Ambientais, Marcos Ricardo Bornschein, para anunciar que um grupo de pesquisadores da UFPR e do Mater Natura descobriram 15 novas espécies de sapos no Paraná -– oito do gênero Brachycephalus e sete do gênero Melanophryniscus. Essas 15 novas espécies aguardam descrição técnico-científica e publicação em revista técnica, para serem oficialmente reconhecidas pela ciência. Um processo que que deve levar vários anos.

As descobertas das espécies de Brachycephalus foram realizadas sob a coordenação dos pesquisadores associados ao Mater Natura, Luiz Fernando Ribeiro (que já foi vice-presidente da ONG) e Marcos Bornschein. As descobertas dos sapos do gênero Melanophryniscus deve-se aos esforços da equipe do projeto "Riqueza, ecologia molecular e conservação de Melanophryniscus (Amphibia: Anura: Bufonidae) da Floresta Atlântica do sul do Brasil
executado pelo Mater Natura, com patrocínio da FGBPN. Parabéns aos pesquisadores do Mater Natura  e da UFPR, cujos trabalhos contribuem para o aumento do conhecimento científica sobre a anurofauna paranaense. Consulte a página 47 do Relatório Institucional do Mater Natura para conhecer outras espécies da fauna brasileira descobertas por pesquisadores associados à nossa ONG.

(ii) O trabalho de um grupo de biólogos no canteiro de obras da Usina Hidrelétrica Santo Antônio, no rio Madeira, em Porto Velho (RO), resultou na redescoberta de um anfíbio de formato parecido com uma cobra. Atretochoana eiselti  é o nome científico do animal raro descoberto em Rondônia. Até então, só havia registro do anfíbio no Museu de História Natural de Viena e na Universidade de Brasília. Nenhum deles têm a descrição exata de localidade, apenas ‘América do Sul’. A descoberta ocorreu em dezembro do ano passado, mas apenas agora foi divulgada. O biólogo Juliano Tupan, analista socioambiental da Santo Antônio Energia, concessionária da usina hidrelétrica, conta que foram encontrados seis exemplares do anfíbio, que ficou conhecido como cobra mole, durante o processo de secagem de um trecho do leito do rio. Os animais estavam no fundo do rio Madeira entre pedras que compunham as corredeiras de Santo Antonio, no leito original do rio.

Segundo Tupan, o ponto mais importante dessa descoberta é que agora se tem a noção de onde a Atretochoana eiselti pode ser encontrada. “Provavelmente em todo o rio Madeira até a região da Bolívia”, diz. Juliano explica que a divulgação da descoberta foi feita somente agora porque estava em processo de validação e catalogação científica. O formato cilíndrico do corpo do anfíbio faz logo pensar que se trata de uma cobra meio esquisita. Mas Juliano explica que a Atretochoana eiselti não tem parentesco algum com répteis. “Esse anfíbio é parente próximo de salamandras, rãs, pererecas e sapos. Apenas se parece com uma serpente, mas não é”, afirma o biólogo.

(iii) Cientistas do Museu Nacional de História Natural da França anunciaram no dia 1º de agosto, no períodico científico “Nature”, a descoberta do primeiro fóssil completo de um inseto pré-histórico com 8 milímetros de comprimento, tórax separado da cabeça e do abdôme, três pares de patas e 365 milhões de anos. O fóssil do Strudiella devonica, que teria existido no período Devoniano Superior, foi descoberto pela equipe de André Nel em um sítio da localidade de Strud, na Bélgica. "É o primeiro fóssil quase completo do período Devoniano", afirmou André Nel. "Foi nesta época que estes animais começaram a se diversificar, a conquistar as terras emersas", acrescentou. "É um marco, uma testemunha" que confirma as datações moleculares (feitas a partir do estudo de DNA), segundo as quais "os insetos são muito antigos", explicou. Até agora, os únicos restos fossilizados de insetos deste período eram duas mandíbulas encontradas na Escócia.

(iv) Um time internacional de cientistas descobriu na Itália os animais mais antigos já preservados em âmbar – uma resina de árvore fossilizada capaz de manter seres pré-históricos da mesma forma como eram em vida. Os três pequenos espécimes têm cerca de 250 milhões de anos. O achado está descrito na edição do dia 27 de agosto da revista “Proceedings of the National Academy of Sciences” (PNAS). Os pesquisadores examinaram minuciosamente 70 mil gotas de âmbar encontradas no nordeste da Itália. Os artrópodes – categoria de invertebrados que inclui insetos, crustáceos e aracnídeos – morreram nessa “armadilha” que parece uma seiva durante o período geológico Triássico. Dos três bichos, dois são ácaros microscópicos (chamados de Trasacarus fedelei e Ampezzoa triassica) e o outro é uma mosca menor que uma mosca-da-fruta (Drosophila melanogaster). Os autores, liderados por David Grimaldi, do Museu Americano de História Natural, em Nova York, nos EUA, explicam que já foram descobertos insetos mais antigos em fósseis de rochas, mas esses dois aracnídeos e o inseto são diferentes porque não foram comprimidos e estão praticamente intactos, o que evidencia detalhes e torna possível uma comparação com as espécies atuais.

(v) As populações de coalas de certas regiões da Austrália estão enfrentando um forte declínio em seus números. Muitos dos animais vivem na natureza, mas perto de regiões já bastante urbanizadas, e acabam sendo atropelados por automóveis em estradas locais ou atacados por cães. O pequeno Joey, de cinco meses de idade, foi abandonado em um parque local, mas após ter sido encontrado se tornou um dos 250 coalas que estão recebendo tratamento no Hospital Currumbim para a Vida Selvagem. Segundo funcionários do hospital, houve um aumento de 40% desde o ano passado no número de animais que dão entrada no hospital por ferimentos ou doenças. Desde maio deste ano, 36 coalas já morreram na região de Nova Gales do Sul, no sul da Austrália. O governo australiano está procurando mapear a população de coalas do país, mas especialistas afirmam ser preciso realocar espécies para regiões onde elas enfrentam menos ameaças.

(vi) Pesquisadores da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) vão levantar a população de lobos e leões-marinhos existentes na Ilha dos Lobos, localizada na frente da cidade de Torres, no Rio Grande do Sul. O trabalho "Refúgio de Vida Silvestre (Revis) da Ilha dos Lobos - Do conhecimento ao manejo" conta com dados de censos realizados em embarcações e aéreos, produzidos por pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Aquáticos, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela administração da Unidade de Conservação.

"Tradicionalmente, os censos de lobos e leões-marinhos são feitos a partir de embarcações ou de ponto fixo. A colaboração entre projetos sobre lobos-marinhos e baleias, para estimativas de abundância nesta unidade de conservação, será a primeira avaliação feita por meio de censo aéreo com fotografias para os lobos e leões-marinhos no Brasil", informa a coordenadora do projeto, a bióloga Larissa Oliveira. "Os dados também vão permitir uma estimativa mais realista da população sazonal dos animais que ocupam a região, já que a metodologia é mais precisa e gera menos distúrbio em comparação com outros métodos", ressalta Larissa.

(vii) A África do Sul abriu um orfanato para rinocerontes que pretende salvar os bebês cujas mães foram vítimas dos caçadores ilegais. O primeiro e por ora único morador do “Entabeni Safari Conservancy”, localizado perto de Mokopane, é um filhote com quatro meses de existência. A iniciativa é uma das várias respostas para a explosão de caça proibida de rinocerontes, cujos cifres são comercializados no mercado negro da medicina tradicional chinesa. Desde o início do ano, 300 desses mamíferos foram mortos, em comparação com os 448 massacrados em 2011. Um terço das vítimas da caça ilegal são fêmeas com filhotes, que, órfãos, precisam de cuidados especiais, explica Karen Trendler, encarregada do orfanato e conhecida como “mamãe rinoceronte” por ja ter salvado mais de 200 animais desta espécie. Curiosamente, o único filhote de rinoceronte por enquanto no centro não é uma vítima dos caçadores, e sim foi rejeitado pela mãe. No orfanato, ele será preparado para conviver com outros de sua espécie, como Mike e Nann, dois rinocerontes adultos que vão chegar para virar pais adotivos e ensinar “os rinocerontezinhos a ser rinocerontes”.

(viii) Pesquisadores do Laboratório Especial de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan descobriram 17 novas espécies de aranhas na Mata Atlântica brasileira. Junto com outros seis pesquisadores brasileiros, o biólogo Antonio Brescovit trabalha há seis anos no projeto internacional “Inventário Planetário da Biodiversidade (PBI, na tradução do inglês), que envolve outros 20 pesquisadores no mundo inteiro. Com o objetivo de documentar todos os gêneros da família Oonopidae, o PBI reúne 46 aracnólogos de 12 países e ampliou a documentação de 300 para 1.016 espécies nestes seis anos. Brescovit ressalta que o grupo brasileiro já identificou cerca de 70 espécies dentro do PBI, que começou em 2006. O estudo das 17 novas espécies de aranhas foi publicado no boletim do Museu Americano de História Natural. “Esse grupo foi um dos mais interessantes que achamos porque ele tem o aspecto totalmente diferente dos animais que nós conhecíamos aqui. A quelícera (mandíbula) dela é modificada e lembra a do ser do filme O Predador, motivo pelo qual o nome dado ao gênero foi Predatoroonops. As 17 espécies tem nomes de coisas ou personagens relacionados ao filme. As aranhas têm de 1,8 a 2,10 milímetros.

(ix) O aquecimento global não deixará as espécies de áreas tropicais tão vulneráveis à extinção como os ecologistas pensavam antes, segundo um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Zurique, na Suíça. O estudo “Forecasting extinction risk of ectotherms under climate warming: an evolutionary perspective”, publicado na revista Functional Ecology, da Sociedade Ecológica Britânica, examinou como as espécies podem evoluir e se adaptar ao ambiente para compensar o aumento drástico da temperatura. “Acredita-se que a mudança climática representa um risco maior aos organismos de sangue-frio dos trópicos (ectotérmicos) do que às espécies de zonas temperadas e polares. No entanto, como o potencial de adaptação das espécies ao aquecimento não foi estudado nos antigos modelos, usamos esta teoria para montar um padrão para o futuro, com as respostas evolutivas das espécies”, explica o autor do estudo, Richard Walters, agora na Universidade Reading, no Reino Unido.

Conhecidos como ectotérmicos, peixes, anfíbios, insetos e répteis têm sangue frio e sofrem elevação da temperatura corporal com o aumento do calor externo – ou seja, quanto mais quente estiver, menor será o tempo de vida deles. O aquecimento global pode interferir na expectativa de vida, mas essa redução pode contribuir para que a espécie “ganhe” mais gerações e evolua. Com mais ciclos de vida, é possível que eles tenham uma adaptação mais rápida ao aquecimento frente aos animais de outras zonas climáticasdo globo. “Nosso modelo mostra que a vantagem evolutiva de um menor tempo de geração deve compensar as espécies que estão melhores adaptadas às faixas de temperatura. Prevemos que o risco relativo de extinção provavelmente será menor para as espécies tropicais do que para as de clima temperado”, conclui. Clique aqui para ter acesso a versão completa do estudo.

(x) Paul Clerkin, um estudante da Universidade do Estado da Califórnia, nos Estados Unidos, encontrou vários tubarões raros em uma expedição de dois meses ao sul do oceano Índico. Entre as descobertas estão possíveis oito novas espécies de tubarão. Os animais foram recolhidos em uma área remota nas profundezas do Índico, segundo uma nota oficial do Laboratório Marinho Moss Landing, ligado à universidade, ao qual o aluno está vinculado. Clerkin espera confirmar a descoberta das novas espécies analisando 86 amostras de material genético e dados de cada um dos animais encontrados.

Para Dave Ebert, diretor do laboratório, o achado pode ser o mais importante sobre este tipo de peixe desde a descoberta do tubarão branco. “Tubarões brancos são protegidos na América e em muitos lugares do mundo, enquanto estas novas espécies eram desconhecidas e por isso não puderam ser preservadas”, afirmou o pesquisador. A expedição encontrou ainda tubarões da espécie Pseudotriakis microdon, considerados muito raros. Segundo Clerkin, os pescadores no barco que utilizou para chegar ao local da descoberta capturaram dezenas deles, o que pode servir para analisar se os tubarões desta espécie “são realmente poucos ou apenas vivem em locais profundos e de difícil acesso”. 

 

Saiba mais sobre espécies recém-descobertas ou ameaçadas de extinção (2)
 

(xi) Uma nova espécie de inseto foi descoberta acidentalmente pelo cientista australiano Shaun Winterton, PhD em insetos pela Universidade de Queensland, na Austrália, enquanto ele navegava pela internet. O pesquisador trafegava pela rede quando se deparou com uma imagem do animal no Flickr, site de compartilhamento de fotos. A nova espécie, batizada de Semachrysa jade em homenagem à filha do pesquisador, foi registrada na última edição da revista internacional “ZooKeys”, lançada no dia 7 de agosto. O autor das imagens, Guek Hock Ping, foi contatado por e-mail pelo cientista australiano. Em um primeiro momento, Ping não foi capaz de encontrar novamente o animal no lugar onde ele fez as fotos, uma área de floresta no estado de Sabah, o segundo maior da Malásia. Foi só depois de um ano que o fotógrafo voltou a fazer contato com Winterton, com mais informações e imagens da espécie. O estudo da “ZooKeys” é assinado em conjunto pelos dois e por um pesquisador do Museu de História Nacional de Londres, Stephen Brooks, que confirmou que bicho descoberto era inédito.

(xii) Cientistas da Universidade do Estado de Michigan, nos Estados Unidos, identificaram duas novas espécies de corujas das Filipinas. Os animais eram conhecidos há cerca de 15 anos, mas só agora houve a confirmação de que se tratam de novos tipos de animais, dizem os pesquisadores. Uma das espécies, chamada de Ninox rumseyi, era considerada extinta até agora, diz a pesquisadora Pam Rasmussen, responsável pela descoberta. Na região filipina de Cebu, onde a coruja-águia foi encontrada, o desmatamento praticamente acabou com as florestas.
 
A espécie foi identificada graças ao seu canto diferente do pio de outras corujas, disse Pam. “As corujas não aprendem a cantar. O som faz parte do seu DNA, é usado para atrair parceiros ou defender o território. Então se um chamado é diferente, deve ser uma nova espécie”, afirma a pesquisadora. A outra coruja-águia, a Ninox leventisi, foi encontrada na ilha filipina de Camiguin. Ela possui olhos azuis, o que a diferencia de outras espécies. Além disso, o animal possui canto e características físicas distintas, segundo o estudo. A demora para o reconhecimento da espécie ocorreu porque há uma variação muito grande entre as corujas e porque o canto das duas espécies não havia sido objeto de estudo, de acordo com a pesquisadora.

(xiii) Uma aranha de grandes patas, apelidada de “pé-grande” pelos cientistas, foi descoberta em cavernas na região sudoeste do estado do Oregon e em florestas da Califórnia, nos Estados Unidos. O aspecto da aranha e o habitat chamaram tanto a atenção dos pesquisadores que eles batizaram o gênero de Trogloraptor (“bandido da caverna”, na tradução do latim). A descoberta foi obra de uma equipe da Academia de Ciências da Califórnia, em conjunto com pesquisadores da ONG Conservação das Cavernas do Oeste. Ao mesmo tempo, cientistas da Universidade Estadual de San Diego, também nos Estados Unidos, encontravam animais do mesmo tipo em áreas de floresta na Califórnia.

As aranhas do gênero Trogloraptor criam teias rudimentares dentro de cavernas. De tamanho pequeno, ela chega a ter quatro centímetros com as pernas abertas. As grandes quelíceras e as patas enormes sugerem que estes animais são predadores de insetos, mas cientistas ainda não conseguiram identificar o comportamento da espécie. Os pesquisadores acreditam que a existência da Trogloraptor vai causar uma “revolução” nos estudos de evolução das aranhas. O estudo aponta que o animal é parente próximo das Oonnopidae, uma família de aracnídeos pequenos e de hábitos noturnos. A descoberta é tão importante que a aranha “pé-grande” deu origem a uma família nova, a Trogloraptoridae.

(xiv) Cientistas descobriram uma nova espécie de rato nas florestas de uma ilha da Indonésia. Ao contrário de outros roedores, o Paucidentomys vermidax não possui a maioria dos dentes, inclusive os molares. Ele não mastiga ou rói sua comida. O rato se alimenta de minhocas e vermes encontrados na terra com ajuda de seu grande focinho. Como possui apenas dois longos dentes incisivos, o Paucidentomys vermidax os usa para morder e depois sugar as minhocas. O animal foi identificado por pesquisadores de várias instituições, como o Museu Zoológico Bogoriense, da Indonésia; o Museu Victoria, da Austrália; e a Universidade mcMaster, do Canadá. O registro da descoberta foi realizado na publicação científica "Biology Letters". Ratos parecidos são encontrados nas Filipinas e na Nova Guiné, mas em geral eles possuem dentição e molares reduzidos.

(xv) Uma espécie rara de barata que brilha no escuro foi descoberta na América do Sul por cientistas europeus. Eles estudavam a bioluminescência, capacidade dos animais de produzir luz, quando identificaram o animal. A barata Lucihormetica luckae foi encontrada na encosta de um vulcão no Equador, segundo a pesquisa, publicada na revista científica “Naturwissenschaften” (Ciências Naturais, na tradução do alemão). O animal bioluminescente gera luz em três áreas de sua cabeça: em dois pontos maiores, que dão a aparência de serem olhos, e um ponto bem pequeno no lado direito da cabeça.

A luz gerada pela barata segue o mesmo padrão de um inseto encontrado no Brasil, o besouro-clicador (também chamado de barata-de-estalo ou elaterídeo), de acordo com o cientista Peter Vršanský, da Academia de Ciências da Eslováquia, um dos responsáveis pela pesquisa. Como a Lucihormetica luckae não tem veneno, a conclusão a que os cientistas chegaram é que o animal imita o besouro, que também é bioluminescente e possui toxinas. A imitação ocorre como forma de defesa natural. Esta é a primeira espécie em que a bioluminescência é usada com finalidade de defesa, avalia Vršanský no estudo. O estudo aponta ainda que a luminescência das baratas descobertas está ligada à presença de bactérias específicas nos pontos da cabeça de onde a luz é emitida.

(xvi) Um estudo realizado por pesquisadores do Centro de Biologia Marinha (Cebimar) da Universidade de São Paulo (USP) resultou na descrição de nove espécies novas de briozoários do gênero Bugula no litoral brasileiro. Os briozoários são animais invertebrados majoritariamente marinhos que vivem em colônias, presos ao substrato. O estudo que descreve as espécies – encontradas nos litorais de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo – foi publicado na revista PLoS One. As novas espécies foram denominadas de: Bugula bowiei, Bugula foliolatan, Bugula guara, Bugula biota, Bugula ingens, Bugula gnoma, Bugula alba, Bugula rochae e Bugula migottoi. O artigo com a descrição foi elaborado por Leandro Vieira, pesquisador do departamento de Zoologia do Instituto de Biociências (IB) da USP, Karin Fehlauer-Ale, pesquisadora do Laboratório de Sistemática e Evolução de Bryozoa do Cebimar, e Judith Winston, do Museu de História Natural da Virginia (Estados Unidos).

(xvii) O governo do Zimbábue quer pedir permissão a órgãos internacionais para leiloar seu estoque de marfim. A medida visa financiar ações de proteção a elefantes e outros animais, segundo disse o diretor da Autoridade Nacional para Gestão dos Parques e da Vida Selvagem, Vitalis Chadenga, a órgãos de imprensa africanos. O país acumulou 50 toneladas de marfim apreendidos de caçadores ilegais e recuperados de elefantes que tiveram morte natural ou foram sacrificados com autorização do governo por algum problema de saúde, de acordo com o site de notícias “Otango Daily Times”. São necessários US$ 30 milhões anuais para a conservação de elefantes e ações contra os caçadores no Zimbábue, mas o investimento atual está “longe disso”, afirmou Chadenga ao “Otango Daily Times”. “Vamos chegar a um ponto onde vai crescer tanto a população de elefantes que eles vão competir entre si e podem destruir uns aos outros. Isto está acontecendo em alguns de nossos parques”, disse o diretor. A população de elefantes no Zimbábue chega a 100 mil indivíduos, segundo o jornal. Animais adultos comem entre 100 e 300 quilos de comida por dia.

(xviii) Cientistas descobriram uma espécie de aranha sem olhos em uma caverna do Laos, na Ásia. Chamado de Sinopoda scurion, o animal é o primeiro do tipo “caçador” totalmente cego identificado até agora, segundo Peter Jäger, chefe do setor de aracnologia do Instituto de Pesquisa Senckenberg, localizado em Frankfurt, na Alemanha. O aracnídeo foi descrito em estudo na publicação científica “Zootaxa”. A falta de olhos é uma adaptação da aranha ao escuro total da caverna, assim como a ausência de pigmento, segundo a pesquisa. O nome scurion foi dado em homenagem a uma empresa suíça que produz lanternas, usadas para encontrar a espécie dentro da caverna, afirma Peter Jäger. “Nós já havíamos encontrado aranhas deste gênero em outras cavernas, mas elas todas tinham olhos e pigmentação completa. A Sinopoda scurion é a primeira sem visão”, disse o cientista ao site do instituto. A nova espécie de aranha mede seis centímetros, com as pernas abertas. Animais como peixes, escorpiões e caranguejos encontrados em cavernas no Laos também apresentam adaptação similar e são cegos, segundo Jäger.

(xix) O guará, uma ave típica de manguezais, retorna a Santa Catarina após um longo período de extinção local. A constatação é da equipe do Projeto Aves, da Univille, que desde novembro do ano passado monitora a espécie na Baía da Babitonga, litoral norte do Estado. O último registro oficialmente documentado no Estado é de 1858, no litoral de Palhoça. Segundo a bióloga Marta Cremer, um grupo com mais de 70 indivíduos reproduziu na região, em uma das ilhas do Saguaçu, entre dezembro de 2011 e abril de 2012. “Mesmo após o evento reprodutivo, os guarás se mantêm na região, o que indica que voltaram para ficar”, afirma a pesquisadora da Univille. “O registro da reprodução desta espécie na Baía da Babitonga demonstra a grande importância da região e de suas áreas de manguezal, reforçando a necessidade de medidas urgentes para a conservação de sua biodiversidade”, enfatiza.

Ameaçada de extinção no Paraná e em Santa Catarina, o guará esteve desaparecido por décadas, dizem os pesquisadores do Projeto Aves. Os últimos registros são históricos, dos séculos XVIII e XIX. Os relatos indicam que no passado o guará era considerado abundante e foi observado por diversos viajantes e exploradores, como James Henderson, que em 1820 relatou grandes revoadas da espécie colorindo os céus de vermelho na Baía da Babitonga. “O guará sofreu um declínio populacional intenso em todo o Sudeste e Sul do Brasil, principalmente pela degradação do manguezal e pela caça descontrolada para a retirada das penas”, explica o pesquisador Alexandre Grose. As penas, de vermelho vivo, eram exportadas para a Europa e Estados Unidos para confecção de chapéus e outros adornos. O guará se alimenta principalmente de caranguejos, mas pode capturar peixes e invertebrados aquáticos.

(xx) Uma nova espécie de pássaro foi descoberta na Serra do Cipó, nos campos rupestres de Minas Gerais. A princípio, os pesquisadores pensaram ter encontrado uma população isolada do pedreiro (Cinclodes pabsti), que vive nas serras do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Mas acabaram surpreendidos pelos resultados de exames de DNA, indicando que os passarinhos de Minas e do Sul são espécies distintas. Realizado por um grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais, o trabalho foi previamente publicado on-line no periódico IBIS, e em outubro deve chegar à edição impressa. O Cinclodes espinhacensis ou pedreiro-do-espinhaço é um passarinho grande, com cerca de 22 centímetros de comprimento. Tem a plumagem cor de chocolate, com a parte inferior beje e uma faixa amarelada sobre os olhos, assim como o primo das serras dos sul. A semelhança com o C. pabsti é tamanha que levou os autores a publicarem uma nota, em 2008, identificando o pássaro mineiro como uma população isolada de C. pabsti.

 
 

Pulgões podem ser primeiros animais capazes de realizar fotossíntese

 

Os afídeos, conhecidos também como pulgões, apresentam características desconcertantes. Além da suspeição de captar DNA de outros seres, são capazes de realizar partenogênese. Em outras palavras as fêmeas dessa superfamília procriam sem precisar de machos que as fecundem. Assim, as fêmeas podem nascer grávidas e depois parir essas crias que também nascem grávidas, e assim sucessivamente.

Em adição à lista de excentricidades, o estudo “Light- induced electron transfer and ATP synthesis in a carotene synthesizing insect” publicado em 16 de agosto na revista Nature pelos pesquisadores franceses Jean Christophe Valmalette, Aviv Dombrovsky, Pierre Brat, Christian Mertz, Maria Capovilla e Alain Robichon indica que eles talvez possam capturar luz solar e usá-la com propósitos metabólicos. Em outras palavras são capazes de realizar a elaboração de nutrientes, de maneira análoga a das plantas, por meio de um processo muito similar ao da fotossíntese. De acordo com a revista “Nature” seria a primeira evidência de fotossíntese em insetos.

Os pulgões são os únicos entre os animais que têm a capacidade de sintetizar os carotenoides, pigmentos  típicos de vegetais. Muitos animais dependem destes pigmentos para uma variedade de funções, tais como a manutenção de um sistema imunológico saudável e a produção de certas vitaminas, mas todos os outros animais só conseguem obtê-los por meio de sua dieta alimentar. Mas, de acordo com a pesquisa da equipe do entomologista Robichon, os pigmentos presentes nos afídeos podem absorver a energia do sol e transferi-lo para o maquinário celular responsável pela produção de energia solar.

Embora sem precedentes em animais, a capacidade é comum em outros reinos. As plantas e algas, bem como certos fungos e bactérias, também sintetizam carotenoides, e em todos estes organismos os pigmentos formam parte da máquina fotossintética.

Aproveitando a descoberta de 2010 de que os altos níveis de carotenoides encontrados em afídeos são produzidos pelos próprios insetos, Robichon e sua equipe decidiram investigar por que os pulgões produzem químicos que exigem tanto do metabolismo.

Os carotenoides são responsáveis pela coloração dos afídeos, o que determina o tipo de predador que pode vê-lo. A pigmentação corporal dos pulgões criados em laboratório por Robichon é afetada por condições ambientais: insetos verdes no frio e alaranjados em condições padrões. Quando a população é grande e os recursos limitados eles são brancos.

Quando os pesquisadores mediram os níveis de ATP dos pulgões – responsável pela transferência de energia em seres vivos – os resultados foram surpreendentes. Pulgões verdes, que contêm altos níveis de carotenoides, produzem significativamente mais ATP do que os brancos, que são quase desprovidos desses pigmentos. Além disso, a produção de ATP aumentou quando os insetos laranja - que contêm uma quantidade intermediário de carotenoides - foram colocadas sob a luz, e caiu quando eles foram transferidos para o escuro. Em seguida, os pesquisadores extraíram e purificaram os carotenoides dos afídeos alaranjados, demonstrando que esses pigmentos são responsáveis pela absorção de luz e transferência de energia.

Maria Capovilla, uma das autoras do estudo e também entomologista, do Instituto Sophia, ressalta que são necessárias mais pesquisas antes de os cientistas terem certeza de que os afídeos realmente fazem fotossíntese, mas as descobertas levantam essa possibilidade. E a maneira como as moléculas de caroteno se organizam nos insetos dá peso a essa hipótese: os pigmentos formam uma camada que fica entre 0 e 40 micrômetros abaixo da cutícula dos animais, o que os deixa em posição perfeita para capturar a luz do Sol.

Nancy Moran, geneticista de insetos da Universidade de Yale, em Connecticut (Estados Unidos) - responsável pela descoberta original de que os afídeos possuem os genes para a produção de carotenoides - revela, no entanto, que há muitas perguntas não respondidas. “A produção de energia parece ser o menor dos problemas de um afídeo: sua dieta tem açúcar em excesso, e eles não conseguem usar a maior parte disso”, ela explica. O argumento leva à pergunta de por que os afídeos precisariam fazer fotossíntese. Segundo Maria, talvez o processo funcione como um sistema de emergência que poderia ajudar em momentos de estresse ambiental, como no período de migração para uma nova planta hospedeira.

Além de modificar os conceitos clássicos em nossas aulas de Biologia essa descoberta promete elucidar, entre outros enigmas da ciência moderna, a forma como a vida tem evoluído em nosso planeta.

Clique aqui para ler o artigo completo na "Nature".

Fauna desaparece mais que o esperado em fragmentos da Mata Atlântica

Grandes e médios mamíferos que vivem em fragmentos da Mata Atlântica isolados das áreas florestais mais amplas estão se extinguindo em um ritmo mais acelerado do que se imaginava, segundo o estudo “Pervasive Defaunation of Forest Remnants in a Tropical Biodiversity Hotspot”, publicado no dia 14 de agosto no site científico PLOS ONE.

Para chegar a esta conclusão, a equipe liderada pelos biólogos Carlos Augusto Peres, da Universidade de East Anglia (UEA), Inglaterra, e  Gustavo Canale, da Universidade Estadual do Mato Grosso (Unemat), viajaram durante dois anos (entre janeiro de 2004 e 2006), por 210 mil quilômetros de estradas. Ao fim da pesquisa, eles amealharam informações detalhadas sobre 196 fragmentos de floresta, que abrangem 256.670 quilômetros quadrados. Cada fragmento possui áreas entre 1 e 5.000 hectares. A região estudada abrange cerca de 25% da Mata Atlântica do Nordeste Brasileiro, entre o leste de Minas Gerais, Bahia e Sergipe.

A equipe mapeou os principais fragmentos via satélite e realizaou inventários em 50 desses fragmentos, em busca de informações sobre um conjunto de 18 espécies de mamíferos de porte grande e médio – acima de 5 quilos. Nos demais locais entrevistaram moradores da zona rural de cada região, os quais estivessem habituados a visitar a mata em busca de informações sobre os animais. Cerca de 8.846 pessoas foram entrevistadas, todos moravam há, pelo menos, 15 anos na região. De um total de 3.528 populações possíveis de existir nos 196 fragmentos, somente 767 foram contabilizadas. Na média, cada remanescente retinha somente 4 das 18 espécies investigadas.

Na prática, isso significa que  cinco animais estão praticamente extintos nesse pedaços importantes da mata atlântica: onças-pintadas, queixadas, tamanduás-bandeiras, antas e muriquis. Preguiças, pacas, bugios e raposas se saem só um pouco melhor. Os únicos mamíferos a resistirem em mais de metade dos fragmentos estudados são os saguis.

As estimativas anteriores sobre a fauna desses trechos isolados, com base no tamanho de cada fragmento, previam uma sobrevivência maior dos animais, segundo o estudo. Mas aquelas estimativas subestimavam persistentes fatores humanos, como queimadas e a caça. “Essa é uma má notícia para a conservação”, disse Peres. Muitos animais, segundo ele, sumiram mesmo em áreas de mata que eram consideradas grandes e intactas.

“O nosso trabalho mostra que, do ponto de vista de conservação de fauna, não basta garantir somente a retenção de manchas florestais”, afirma Peres. "Não há substituto para a proteção integral de fragmentos florestais remanescentes nos hotspots de biodiversidade como a Mata Atlântica brasileira. Esse estudo é um aval muito grande e positivo para a criação de mais áreas protegidas”, disse o pesquisador.

A combinação dos efeitos da caça e da fragmentação do habitat resultam em altas taxas de extinção local. Como estes fragmentos não guardam conexão com outras áreas de floresta, não existe a substituição das populações dizimadas pela caça. O efeito é mais grave do que aquele que pode ocorrer em grandes áreas de floresta contínua, como a Amazônia. Lá, a caça pode ter menos impacto, pois populações vizinhas da mesma espécie tem chance de recolonizar o local.

Peres também alertou sobre a importância da implementação das unidades de conservação com efetiva fiscalização, que impeça, por exemplo, a entrada de caçadores ou madeireiros. “Apenas cinco dos remanescentes investigados eram protegidos na prática contra estas atividades e foram os que apresentaram as maiores taxas de retenção de espécies”, destacou.

A situação se mostrou mais crítica nos fragmentos localizados no oeste do Nordeste, onde há menos unidades de conservação. “A disponibilidade de proteína animal nessa região é baixa, por conta da alta taxa de densidade demográfica na zona rural. A economia de muitas casas de baixa renda é subsidiada por um padrão de caça que varia de recreativo à subsistência. Só a fauna relativamente tolerante a essa pressão persiste”, comentou o biólogo.

Clique aqui para acessar a íntegra do estudo, em inglês.

 
 

Vegetais e oceanos absorvem mais CO2, segundo estudo

 

Nossas emissões de CO2 crescem a cada ano, mas a vegetação e os oceanos, que absorvem cerca da metade do dióxido de carbono emitido, também estocam uma quantidade maior hoje do que no passado, segundo o trabalho “Increase in observed net carbon dioxide uptake by land and oceans during the past 50 years” publicado na edição do dia 1º de agosto da revista científica Nature. “A absorção global em sorvedouros de carbono oceânicos e terrestres quase dobrou nos últimos cinquenta anos”, segundo relatório elaborado por cinco cientistas da Universidade do Colorado (Estados Unidos), em Boulder.

Os sorvedouros de carbono definem os processos naturais que contribuem para retirar o CO2 da atmosfera. Eles se referem principalmente aos oceanos, que estocam o carbono nas profundezas, aos vegetais e às florestas. A metade das emissões de dióxido de carbono é absorvida por estes sorvedouros.

O potencial e a evolução destes processos são tema de debate e estudos recentes sugerem uma diminuição de sua capacidade de absorção, indicaram os cientistas que insistem na importância de quantificar adequadamente estes fenômenos para prever melhor as evoluções do clima.

Ao analisar as medidas de concentração de carbono na atmosfera ao longo dos anos e levando em conta as emissões de origem humana, eles calcularam a absorção líquida anual mundial em terra e nos oceanos. Segundo eles, esta absorção dobrou em cinquenta anos, passando de 2,4 bilhões de toneladas anuais de carbono em 1960 a 5 bilhões em 2010. “A taxa de aumento do CO2 atmosférico continua aumentando porque as emissões de origem fóssil se aceleraram, não porque os sorvedouros de carbono falharam”, insistiu.

A absorção de CO2 por vegetais e oceanos é amplamente vinculada à pressão do dióxido de carbono na atmosfera e é lógico, até um certo limite, que o aumento das emissões de CO2 provoquem um aumento da absorção destes sorvedouros, destaca o cientista.

Por outro lado, cientistas da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, descobriram uma nova fonte de emissão de gases de efeito estufa: as árvores doentes podem estar gerando metano, um dos gases responsáveis pelo aquecimento global. Eles pesquisaram 60 plantas na floresta de Yale Meyers, na região nordeste do estado de Connecticut, e encontraram concentrações do gás 80 mil vezes maiores do que o normal.

Em condições comuns, a presença do metano é de menos de duas partes por milhão na atmosfera. Nas partes ocas das árvores doentes, os pesquisadores encontraram níveis médios de 15 mil partes por milhão de metano no ar.

A pesquisa “Elevated methane concentrations in trees of an upland Forest” foi divulgada na revista Geophysical Research Letters (“Cartas de Pesquisa Geofísica”, na tradução do inglês). A concentração do metano nas árvores doentes chega a ser inflamável, segundo o coordenador do estudo, Kristofer Covey, da Universidade de Yale.

O pesquisador aponta que as condições encontradas nas árvores são normais em vários locais de floresta no mundo, o que indica que os cientistas podem ter achado uma nova fonte de produção do metano “em escala global”. As árvores doentes têm um potencial de aquecimento global equivalente a 18% do carbono capturado pelas mesmas florestas, reduzindo o benefício climático que elas criariam em cerca de um quinto, segundo Covey.

“Se nós extrapolarmos o que foi encontrado no estudo para florestas em escala global, o metano produzido pelas árvores representaria 10% das emissões do mundo”, afirmou Xuhui Lee, co-autor da pesquisa e professor de meteorologia em Yale. Ele reconhece que os cientistas “não sabiam da existência” deste processo de criação do metano.

As árvores que produzem metano são mais velhas e doentes, com idade entre 80 e 100 anos. No caso da floresta de Yale, elas estão sendo afetadas por um fungo que cria condições favoráveis para a proliferação de micro-organismos que fabricam o gás. Ninguém havia pensado que a ideia de podridão causada por fungos, um problema comum em florestas, poderia estar ligado à produção de gases-estufa e ao aquecimento global, reforçam os cientistas.

 

Desmatamento na Amazônia cai 23% em 12 meses

Dados do Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real (Deter) divulgados no dia 2 de agosto, em Brasília, pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, confirmam a tendência de redução do desmatamento da Amazônia Legal. Os alertas registrados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram uma redução de 23% entre agosto de 2011 a julho de 2012 em comparação com o mesmo período anterior, caindo de 2.679 km para 2.049 km2.  Com isso, quase 700 quilômetros quadrados foram poupados na comparação entre os períodos avaliados.

A diminuição foi ainda mais expressiva nos últimos quatro meses, chegando a quase 50% quando comparados ao mesmo quadrimestre de 2011. Entre abril e julho de 2012 a área desmatada foi de 652 km2 , contra 1.283 km no período anterior. A baixa cobertura de nuvens em praticamente oito dos nove estados da Amazônia Legal dão consistência à análise do Inpe. Períodos de alta nebulosidade impedem o registro feito pelos satélites ópticos.

Com exceção de Roraima, todos os estados da região mantiveram ou reduziram a taxa de desmatamento local. O Maranhão foi o estado que registrou a maior queda de desmatamento (67%), seguido pelo Amazonas com 45% menos áreas devastadas e pelo Acre e pelo Pará, onde a derrubada de árvores reduziu em 42% em cada estado. O Deter revelou que o desmatamento da região amazônica aumentou apenas em Roraima, com acréscimo de 218% no período 2011/2012. O estado contabilizou 56 mil quilômetros quadrados de áreas devastadas, enquanto entre agosto de 2010 e julho de 2011, a área desmatada somava 18 mil quilômetros quadrados.

O sistema Deter identifica desmatamentos quase que diariamente e o INPE consolida esses dados mensalmente, registrando o corte raso e a degradação da floresta em áreas superiores a 25 ha, o que equivale a pouco mais de dois campos de futebol e meio. "Não podemos afirmar ainda que o desmatamento caiu, mas sim que há uma tendência clara de queda a ser confirmada pelo Sistema Prodes responsável pela taxa oficial de desmatamento na Amazônia brasileira. Isso indica que estamos no caminho certo", avalia a Ministra.

Os desmatamentos em áreas inferiores a 25 ha, fora do alcance do Deter, estão sendo combatidos pelas ações de inteligência realizadas em conjunto entre Ibama, Polícia Federal e Agência Brasileira de Inteligência. Segundo Izabella, a ação dos desmatadores "está cada vez mais sofisticada", com corte da floresta até mesmo no período chuvoso na tentativa de driblar a fiscalização do Ibama. Por isso, as operações nas áreas apontadas pela inteligência começaram em janeiro deste ano, se antecipando às ações dos infratores.

O governo federal espera, para o início de 2013, a entrada em operação de um novo satélite da família CBERS (satélite sino brasileiro) com tecnologia mais avançada para identificar as áreas desmatadas na Amazônia. A previsão é de que o novo satélite reduza a área de detecção de 25 hectares passando a capturar áreas menores, mantendo uma frequência quase diária, tal qual os sistemas que estão em operação. Dessa forma, será possível a ação preventiva, combatendo o desmatamento ainda em sua fase inicial ou mesmo antes que ele ocorra, destacou a Ministra.

Clique aqui para acessar a apresentação "Avaliação do desmatamento DETER/INPE Agosto/2011 a Julho/2012".

No dia 10 de agosto, o Inpe inaugurou um novo serviço, o INPE-Emission Model ou INPE_EM, que pretende disponibilizar estimativas anuais de emissões de gases do efeito estufa (GEE) por mudanças de cobertura da terra no Brasil. O novo modelo gera resultados a partir do cruzamento do mapa de biomassa na Amazônia e dados de desmatamento do PRODES, sistema baseado no monitoramento de satélites do próprio INPE, que calcula a perda de floresta primária a cada ano.

O cálculo mostra que o desmate da Amazônia representa 1,5% de todo o carbono emitido pela ação humana na atmosfera no mundo. Com a queda da taxa do desmatamento nos últimos anos, a Amazônia passou a emitir menos CO2. Segundo os pesquisadores do Inpe, a emissão caiu 57% entre o período de 2004-2011.

Os números são positivos, já que indicam que o Brasil está buscando atingir a meta de redução de emissões – em 2009, o país se comprometeu a reduzir 80% das emissões de desmatamento. No entanto, um dado pode preocupar: o desmatamento está avançando para áreas mais densas de floresta, onde há mais biomassa. Ou seja, mesmo um desmatamento menor nessa região pode emitir mais CO2 na atmosfera. Por isso é importante manter as políticas de controle do desmatamento e a proteção de unidades de conservação.

Clique no site do Inpe-EM para ter acesso aos dados completos de emissões na Amazônia.

Tratado bom para o ozônio, mas ruim para o clima

É possível que o Protocolo de Montreal, o convênio que reúne todos os membros da Organização das Nações Unidas (ONU) na proteção da camada de ozônio, já não será o “acordo internacional de maior êxito”, como costuma dizer o ex-secretário-geral Kofi Annan. O tratado teve um grande impacto nas mais de duas décadas em que está em vigor, ao reduzir em 97% o consumo de substâncias que prejudicam a camada de ozônio. Porém, agora é criticado porque favorece a mudança climática, ao substituir os químicos prejudiciais por compostos que aceleram este fenômeno.

A eliminação total dos clorofluorcarbonos (CFC), importantes destruidores da camada de ozônio antes usados como refrigeradores, levou à criação de um bônus de proteção climática equivalente a 11 mil toneladas de reduções de dióxido de carbono (CO2) ao ano, segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Isto significa que o Protocolo teve um impacto ambiental anual equivalente a um bilhão de domicílios desconectados da rede de fornecimento elétrico.

Entretanto, o enorme êxito se vê impactado pelos químicos usados para substituir os CFC, os hidrofluorcarbonos (HFC), um grupo de “supergases” de efeito estufa. Os HFC podem ser encontrados em numerosos produtos, como refrigeradores e aerossóis,  são o tipo de gases contaminantes de maior crescimento e têm um enorme impacto no aquecimento global, segundo muitos cientistas. Sem uma ação rápida que limite seu crescimento, os HFC poderão passar a representar 20% dos gases que anualmente contribuem para o aquecimento global, igual ao CO2, até 2050, diz um comunicado de imprensa divulgado pelo Instituto para o Desenvolvimento Sustentável e a Governança.

Canadá, Estados Unidos, México e Micronésia adotaram uma posição firme na última reunião dos Estados-partes, realizada em julho em Bangcoc (Tailândia), e propuseram emendar o Protocolo de Montreal. “Reduzir os HFC é essencial para limitar os efeitos ambientais adversos, inclusive sobre o sistema climático, das ações destinadas a proteger a camada de ozônio”, segundo o documento divulgado no final de julho na capital tailandesa. Se fosse levada adiante esta emenda permitira reduzir o equivalente a cem bilhões de toneladas de CO2 até 2050, mas foi bloqueada por Brasil, China e Índia.

As três potências emergentes argumentaram que a diminuição dos químicos prejudiciais deve ser discutida no contexto do Protocolo de Kyoto, pois tem a ver com a mudança climática e não com a destruição da camada de ozônio. “O mandato legal do Protocolo de Montreal não se limita a reduzir as substâncias que esgotam a camada de ozônio, mas também busca garantir que os componentes alternativos sejam seguros, inclusive para o clima”, explicou David Doniger, diretor do programa de clima e ar limpo da organização A Onda Verde, com sede nos Estados Unidos.

“Os HFC não existiriam sem o Protocolo de Montreal”, destacou a ativista Clare Perry, da Agência Ambiental de Investigação. Além disso, “é o órgão com maior experiência na eliminação desse tipo de químicos e tem todas as instituições e todos os procedimentos necessários para fazê-lo de forma efetiva”, explicou. Porém, as manobras políticas parecem eclipsar os propósitos iniciais do tratado. É possível que seus críticos tratem de reduzir o alcance do Protocolo para conseguir seus próprios interesses financeiros, acrescentou.

China e Índia são “os precursores dos HFC, e suas indústrias estão decididas a continuar colhendo enormes e maiores benefícios com os supergases-estufa”, segundo Perry. A decisão de bloquear a eliminação gradual dos HFC não está em acordo com as promessas feitas pelos 192 Estados-partes, incluindo os três críticos, da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio +20), realizada em junho no Rio de Janeiro.

“Reconhecemos que a redução gradual das substâncias que esgotam a camada de ozônio causa um rápido aumento no uso e na liberação no meio ambiente de HFC, com grande potencial de aquecimento global. Apoiamos uma redução gradual do consumo e da produção de HFC”, diz o documento final, também assinado por Brasil, China e Índia. “Ao que parece, seu compromisso em salvaguardar o clima dos HFC teve menos de dois meses de vida”, apontou Doniger.

O assunto exige atenção urgente, pois o dano à camada de ozônio e o aquecimento global estão “intimamente relacionados”, segundo James G. Anderson, cientista e autor de um estudo a respeito, publicado pela norte-americana Universidade de Harvard. “Há muitas alternativas aos HFC inócuas para o meio ambiente em quase todos os setores, e serão a forma de mitigação de maior eficiência”, ressaltou Perry.

A redução dos HFC também permitirá alcançar o sétimo dos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), de “assegurar a sustentabilidade do meio ambiente” até 2015. Se o tratado assinado em 1987, o mais ratificado da história da ONU, pretende recuperar sua reputação, é preciso tomar medidas, insistiu Perry. O Protocolo de Montreal “costuma ser considerado como o acordo multilateral em matéria ambiental de maior êxito, mas cremos que o melhor está por vir e se deve assegurar que merece essa honra com a rápida adoção de medidas que eliminem os HFC de forma gradual”, enfatizou Perry.

Mineração carbonífera na Índia ameaça tigres-de-bengala

 

Um novo documento do Greenpeace publicado em agosto, revelou que além de contribuir para a poluição da atmosfera, para as mudanças climáticas e para o desmatamento, a mineração de carvão também está colocando em perigo a existência de diversos animais da fauna indiana, em especial o tigre-de-bengala (Panthera tigris tigris).

De acordo o relatório, intitulado “Como a mineração de carvão está destruindo a terra dos tigres”, a Índia, que é atualmente lar de mais da metade dos tigres selvagens do mundo, viu a população desses felinos ser drasticamente reduzida de cerca de 100 mil no início do último século para 1.706 atualmente, devido à caça e à destruição de seu habitat.

E, segundo o documento, uma das principais causas de tal destruição é a mineração carbonífera. O país, que detém a quinta maior reserva de carvão do mundo e é o terceiro maior produtor atrás da China e dos EUA, é também um dos maiores consumidores mundiais do produto, e 80% de sua eletricidade vem dessa fonte.

Por isso, não é de se admirar que a mineração de carvão atinja o habitat de tigres, leopardos (Panthera pardus), elefantes asiáticos (Elephas maximus), ursos-preguiça (Melursus ursinus), e diversas espécies de cervos e antílopes.

Análises do sistema geográfico de informação (GIS) mostram que a mineração carbonífera em apenas 13 dos 40 principais campos de carvão da Índia destruiu mais de 1,1 milhão de hectares de florestas em que tigres, elefantes e leopardos vivem. Dados oficiais indicam que 18% dessas florestas são conhecidas por serem lares de tigres, 27% de leopardos e 5,5% de elefantes. No total, oito reservas renomadas de tigres serão impactadas, prejudicando cerca de 230 tigres, ou 13% da população desses felinos na Índia.

 “Infelizmente para o tigre, seu maior habitat contíguo – a Índia Central – é também onde a maioria do carvão da Índia fica. Muitos dos maiores campos de carvão indianos (como Singrauli e Talcher) incluem áreas florestais adjacentes às reservas de tigres, e onde tigres são encontrados. As minas de carvão já estão ocupando essas áreas, e com a expansão atual, isso piorará”, comentou Ashish Fernandes, autor do relatório.

Além de ameaçar a fauna indiana, o relatório do Greenpeace aponta que a perda das florestas para a mineração também afeta e afetará as populações humanas que dependem das matas para sobreviver. “As comunidades florestais da Índia dependem de uma variedade florestal produzida para seu próprio uso doméstico e para venda em mercados locais – mel, frutas, flores, sementes, produtos de bambu, lenha. Em muitas áreas, a floresta não apenas complementa outros rendimentos, é o principal rendimento”, observou Fernandes.

 “Quando uma floresta é perdida para uma mina de carvão, a comunidade que depende da floresta é forçada a migrar em busca de outras opções – normalmente trabalhos casuais, se disponíveis, ou se mudar para outra área florestal, aumentando a pressão humana nas florestas remanescentes”, acrescentou o autor.

Além disso, o documento também indica que a substituição das florestas por grandes plantações agrícolas e para extração de madeira e grandes obras de infraestrutura estão prejudicando o habitat desses animais e a subsistência dos povos das florestas.

“A Índia está perdendo florestas naturais a uma taxa de entre 1,5 a 2,7% ao ano – alarmante quando você considera que o país já perdeu 70% de sua cobertura florestal. As plantações, no entanto, estão crescendo – normalmente com monoculturas de espécies que crescem rápido, como a acácia”, alertou Fernandes. “As plantações não são um substituto para florestas naturais. O governo indiano está usando seu programa agressivo de plantações para esconder a destruição atual das florestas naturais – principalmente para a mineração, as barragens e outros grandes projetos de infraestrutura”, continuou.

Clique aqui para ter acesso ao documento do Greenpeace, em inglês.

Lêmures e invertebrados estão extremamente ameaçados

Um grupo formado pelos mais importantes conservacionistas se reuniu em uma oficina de trabalho da Comissão de Sobrevivência de Espécies, da União Internacional para Conservação da Natureza (da sigla em inglês, IUCN), no mês de julho, para rever o estado de conservação das 103 espécies de lêmures existentes no mundo - o grupo de primatas mais ameaçado do planeta. Os resultados da conferência destacam que muitas espécies de lêmures estão à beira da extinção devido, principalmente, à perda de habitat, o que reforça a necessidade de medidas de proteção urgentes.

Mais de 91% das espécies de lêmures já são consideradas como “criticamente em perigo”, “em perigo” ou “vulnerável” na lista vermelha de espécies ameaçadas da IUCN. Das 103 espécies, 23 são agora consideradas "criticamente em perigo”, 52 “em perigo”, 19 são "vulneráveis" e três são “quase ameaçadas”. Apenas três espécies estão listadas como "pouco preocupante".

A avaliação anterior realizada em 2005, como parte da Avaliação Global de Mamíferos, identificou 10 espécies como "criticamente em perigo”, 21 como "em perigo" e 17 como "vulneráveis", que já eram considerados números muito altos. No entanto, devido ao recente aumento no número de novas espécies na lista e o fato de que o nível de ameaça aumentou nos últimos três anos, os especialistas decidiram realizar uma reavaliação da fauna de lêmures.

Os Lêmures estão em perigo de extinção pela destruição de seu habitat na floresta tropical na ilha de Madagascar, na costa da África, no Oceano Índico, onde a situação política aumentou a pobreza e a extração ilegal de madeira. A caça desses animais também surgiu, na avaliação, como uma ameaça mais séria do que se imaginava.

"Os resultados da oficina de revisão foram chocantes, pois mostram que Madagascar tem, de longe, a maior proporção de espécies ameaçadas de primatas em uma única região do mundo ou em um só país. Como resultado, nós agora acreditamos que os lêmures são, provavelmente, os vertebrados mais ameaçados do mundo”, afirma Christoph Schwitzer, chefe de pesquisa do Bristol Zoo Gardens, da Inglaterra.

Entre as espécies avaliadas como "criticamente em perigo' está o Indri, o maior dos lêmures e que tem o valor simbólico comparável ao de panda gigante da China, o lêmure-rato-de-Berthe que, com apenas 30 gramas, é o menor primata do mundo e o lêmure-preto-de-olho-azul, a única espécie de primata não-humano que tem olhos azuis. Provavelmente a espécie mais rara de lêmure é o lemur-desportista-do-norte (Lepilemur septentrionalis), da qual existem apenas 18 indivíduos conhecidos.

"Esta nova avaliação destaca o risco de extinção muito elevado enfrentado pelos lêmures em Madagascar e é indicativo das ameaças graves para toda a biodiversidade do país, que é vital para a sobrevivência de seu povo. As espécies únicas e maravilhosas dessa ilha são o maior patrimônio desse povo e a marca mais distintiva do local, além de ser a base para uma grande indústria de turismo que continua a crescer, apesar dos problemas políticos atuais”, explica Russell Mittermeier, presidente da Conservação Internacional e do Grupo de Especialistas em Primatas da IUCN.

Os representantes do Reino Unido, Madagascar, Estados Unidos, Canadá, Índia, Alemanha, Itália e França estão trabalhando juntos para estabelecer um plano de ação de conservação para proteger os lêmures mais ameaçados na próxima década.

Outro resultado importante da conferência foi a divulgação da descoberta de uma espécie previamente desconhecida de Lêmure - um tipo de lêmur-rato - por Peter Kappeler e equipe no Centro Alemão de Primatas. A nova espécie é encontrada no leste de Madagascar e sua descrição formal ainda não foi publicada, o que significa que ela ainda não foi recebeu um nome científico. Com esta nova descoberta, hoje são conhecidas 103 espécies de lêmures.

De forma complementar, um outro estudo (Spineless: Status and trends of the world’s invertebrates) da Sociedade Zoológica de Londres (ZSL, na sigla em inglês), IUCN e Wildscreen, divulgado no dia 31 de agosto, alertou que um quinto da população mundial de invertebrados está seriamente ameaçada pela pressão humana sobre os recursos naturais, ameaças que vão desde a perturbação do habitat ao aumento da temperatura, segundo o relatório.

Embora se estime que existem muitos mais, estão descritas cerca de 1,3 milhões de espécies de invertebrados, representando quase 80% de todos os organismos vivos conhecidos no planeta. Mas só 11% da literatura científica sobre o estado das espécies vivas lhes diz respeito. Na prática, pouco mais de 12.000 espécies de invertebrados – 1% do total – foram avaliadas pela Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas, da IUCN. Com base nesta avaliação o estudo concluiu que as espécies de água doce estão em maior risco de extinção, seguidas de perto por invertebrados terrestres e marinhos. Mesmo assim, verificou-se que a ameaça contra os invertebrados é semelhante à que existe contra os vertebrados e as plantas.

Estima-se que existam 126 mil espécies de invertebrados de água doce em todo o mundo, incluindo moluscos e insetos, como libélulas. Das incluídas na Lista Vermelha da IUCN, 35% são consideradas ameaçadas e 131 espécies estão listadas como extintas. De acordo com o relatório, muitas das ameaças destas espécies de água doce resultam da contaminação das águas causada pelos resíduos agrícolas e industriais e, ainda, esgotos domésticos, além da construção de represas que alteram os habitats. As espécies invasoras constituem outro perigo que enfrentam estas espécies.
Os cientistas recordam que estes invertebrados são importantes em ecossistemas que beneficiam os seres humanos, eles são bons para filtrar a água e reciclar nutrientes.

Segundo o relatório, a situação dos invertebrados marinhos não é muito clara, pois o sistema marinho é o menos conhecido. No entanto, enfrentam a grande ameaça da acidificação dos oceanos. Entre as espécies marinhas analisadas, os pesquisadores mostram-se mais preocupados com aquelas que são exploradas pelo homem, como lagostas, caranguejos e crustáceos. Os cientistas também alertam para a necessidade de investigar outros grupos, como o icónico Nautilus, um fóssil vivo, que é muito procurado pela sua concha e como animal de estimação. O Nautilus conseguiu sobreviver durante milhões de anos, mas pode estar particularmente vulnerável pela sua pequena população e baixa taxa de reprodução.

Em terra, os invertebrados como insetos, moluscos e vermes constituem 96% de todas as espécies conhecidas e são considerados os arquitetos de muitos serviços neste ecossistema. Os insetos desempenham um papel fundamental na polinização das plantas, muitas das quais alimentam os seres humanos. Em muitas partes do mundo, invertebrados terrestres fazem parte da dieta alimentar de povos. Eles fazem partem de sistemas que reciclam nutrientes e sistemas florestais que armazenam o carbono.

O relatório alerta para a necessidade de proteção dos invertebrados e chama a atenção para o valor econômico dos invertebrados. O trabalho dos invertebrados tem um peso enorme na economia global e isso não é tido em conta quando se tomam as decisões. Os invertebrados não os animais mais visíveis, e as pessoas tendem a esquecer a sua importância. "Conservar os invertebrados pode ser caro, mas ignorar a sua situação pode sair mais caro", alertam os cientistas. 

Clique aqui para ter acesso ao relatório completo da ZSL, IUCN e Wildscreen. Em inglês (8,2 MB).

 
Queimadas na Mata Atlântica jogam carvão vegetal no oceano
 

Uma nova pesquisa (Continuous flux of dissolved black carbon from a vanished tropical forest biome) publicada em 12 de agosto na "Nature Geoscience", revela que restos de plantas carbonizadas na Mata Atlântica – uma consequência das queimadas na agricultura – estão vazando do solo para rios, chegando até o oceano. A entrada desse resíduo (chamado de carbono negro) no ecossistema marinho pode prejudicar espécies animais e vegetais – mais testes são necessários para confirmar essa hipótese.

A equipe de cientistas liderada pelo biogeoquímico especializado em sistemas aquáticos Carlos Eduardo de Rezende, da Universidade Estadual do Norte Fluminense, no Rio, e pelo geoquímico Thorsten Dittmar, do Instituto Max Planck de Microbiologia Marinha em Bremen, na Alemanha, descobriu altos níveis de carbono negro no rio Paraíba do Sul (que banha São Paulo, Minas Gerais e é o principal do Rio de Janeiro) e no solo da região.

No Vale do Paraíba, ainda há queimadas da cana-de-açúcar todos os anos, mas, segundo os pesquisadores apenas essa prática não poderia ser responsável pela quantidade de carbono negro que eles identificaram.

Para determinar quanto carbono negro a floresta queimada produziu originalmente, Rezende e seus colegas buscaram pistas em outro bioma brasileiro, a Amazônia. Como outros estudos calcularam a taxa de carbono negro produzida por incêndios na floresta amazônica, os cientistas combinaram esses números aos índices históricos de queimadas na Mata Atlântica.

O resultado dessa conta mostrou que foram emitidos de 200 milhões a 500 milhões de toneladas de carbono negro na Mata Atlântica. Para que apenas metade dessa quantidade seja expelida do solo, levariam de 630 a 2.200 anos, de acordo com os especialistas.

O carbono negro geralmente escapa do solo quando a água da chuva carrega o material até os rios, que por sua vez despejam os resíduos no Atlântico.

Para calcular quanto de carbono pode estar sendo adicionado ao mar, os cientistas coletaram amostras do rio Paraíba do Sul a cada 15 dias, entre os anos de 1997 e 2008. Eles descobriram que o carbono negro dissolvido continua a ser expelido pelo solo todos os anos, em níveis aproximadamente constantes, durante a estação mais chuvosa.

De acordo com eles, apenas o Paraíba do Sul é responsável pela entrada anual de mais de 2,7 mil toneladas dos restos da antiga mata no oceano. Com base nesses dados, Rezende e seus colegas estimaram que toda a área devastada da floresta despeja de 50 mil a 70 mil toneladas de carbono negro dissolvido no ambiente marinho.

O que acontece com esse carbono negro após sua entrada no oceano ainda é um mistério. Uma pesquisa anterior descobriu carbono negro em áreas profundas e remotas nos arredores da Antártida. Para Dittmar, a maior parte desses resíduos acaba sendo depositadas no fundo dos oceanos, em todo o planeta. Mas apenas novas pesquisas poderão revelar o quanto desse carbono negro que sai dos rios chega às profundezas oceânicas e como ele pode afetar a vida marinha – em especial as comunidades de micróbios que vivem e se alimentam de pequenas partículas orgânicas.

 
 

Parasitas podem ficar mais fortes com mudanças do clima, diz estudo

 

Os parasitas podem se tornar mais virulentos com a mudança climática, segundo um estudo mostrando que rãs sofrem mais infecções de um fungo quando expostas a oscilações inesperadas de temperatura. Parasitas, que incluem os platelmintos, organismos minúsculos agentes da malária e de fungos, podem se adaptar de forma mais ágil a mudanças climáticas do que os animais que os hospedam, já que são menores e crescem mais rapidamente, disseram cientistas.

“O aumento na variabilidade climática deve tornar mais fácil para os parasitas infectarem seus hospedeiros”, disse Thomas Raffel, da Universidade Oakland, nos Estados Unidos, baseando-se nas descobertas sobre rãs e um fungo de pele que às vezes pode ser mortal.

“Achamos que isso pode exacerbar os efeitos de alguma doença”, ele disse sobre o relatório que liderou com colegas na Universidade de South Florida. O relatório "Disease and thermal acclimation in a more variable and unpredictable climate" foi publicado na edição do dia 12 de agosto da revista Nature Climate Change.

Um painel de especialistas da ONU diz que o aquecimento global deve aumentar o sofrimento humano com mais ondas de calor, enchentes, tempestades, incêndios e secas, e ter efeitos como a disseminação do alcance de certas doenças. E a mudança climática, atribuída a gases que provocam o efeito estufa liberados por combustíveis fósseis, também deve significar mais oscilações nas temperaturas.

“Poucos estudos consideraram os efeitos da variabilidade ou previsibilidade climática sobre a doença, apesar de ser provável que hospedeiros e parasitas terão respostas diferentes às mudanças climáticas”, escreveram.

Os cientistas expuseram rãs cubanas em 80 incubadoras de laboratório a temperaturas variadas e a infecções de um fungo, o Batrachochytrium dendrobatidis, que costuma ser mortal para os anfíbios.

Em um experimento, as rãs mantidas em uma temperatura de 25 graus Celsius por quatro semanas sofreram mais infecções quando foram transferidas para incubadoras a 15 graus e expostas ao fungo do que as que estavam acostumadas a viver a 15 graus. “Se você muda a temperatura, a rã está mais suscetível à infecção do que uma que já estava adaptada àquela temperatura”, disse Raffel.

Em outro teste, as rãs que foram expostas a variações previsíveis da temperatura diária, entre 15 graus e 25 graus, típicas das mudanças da noite para o dia, saíram-se bem melhor em resistir ao fungo.

Baseando-se em fatores como tamanho, expectativa de vida e fatores como seus metabolismos, os cientistas disseram que as rãs provavelmente levaram 10 vezes mais tempo do que o fungo para se acostumar a mudanças inesperadas de temperaturas, um processo conhecido como aclimatação. Raffel disse que mais testes eram necessários de outros parasitas e hospedeiros para confirmar as descobertas. “Esse estudo só foi feito em uma única espécie de rã tropical”, ele disse. 

 

 

ONU lança iniciativa para a proteção dos oceanos

 

Existem tantas ameaças aos oceanos que é muito difícil saber qual deveria ser a prioridade dos governos e entidades para evitar a deterioração dos ecossistemas marinhos. Por exemplo, o aumento das temperaturas oceânicas e da acidificação, causadas pela absorção em excesso de dióxido de carbono (CO2), são responsáveis pelo branqueamento dos corais, processo que pode levar a uma extinção marinha em massa.

A acidificação diminui o PH da água e acarreta uma combinação de mudanças químicas. Desde o início da revolução industrial, o PH médio das águas na superfície dos oceanos diminuiu aproximadamente 0,1 unidade, passando de 8,2 a 8,1, elevando assim a acidez. Projeções feitas por computadores mostram uma redução do PH em 0,2 a 0,3 unidade adicional até o fim do século.

O Conselho Nacional de Pesquisa dos Estados Unidos prevê o aumento do nível das águas, em consequência do aquecimento global, de entre 8 e 23 cm até 2030, na comparação com o nível do ano 2000, de entre 18 e 48 cm até 2050, e de entre 50 cm e 1,40 m até 2100. A última estimativa está muito acima da projeção do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) no relatório de 2007, que previa uma alta de entre 18 e 59 cm até o fim do século.

A pesca oceânica industrial da forma como é realizada atualmente também é um grande problema. Segundo o Banco Mundial, 85% dos cardumes comerciais estão totalmente explorados, sobreexplorados ou esgotados.

Além disso, de acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a cada quilômetro quadrado de oceano existem 18 mil pedaços visíveis de plástico flutuando. Algumas dessas “ilhas de lixo” são até mesmo visíveis em fotos de satélite.

Diante de todos esses problemas, os oceanos receberam uma atenção especial durante a Rio+20, e a recomendação de que é urgente o estabelecimento de políticas de conservação e de uso sustentável da biodiversidade marinha acabou sendo um dos pontos altos do fraco documento final da conferência.

No dia 12 de agosto, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, colocou em prática essa recomendação e lançou a iniciativa Pacto para os Oceanos, que tem como grande objetivo proteger os oceanos de todas as ameaças e melhorar o estado precário no qual esse ecossistema se encontra.

A meta da ONU é conseguir que 10% das áreas marítimas e costeiras estejam sujeitas a medidas de conservação até 2020 e que até 2025 todos os países tenham fixado objetivos de redução dos vazamentos de poluentes no mar.

A iniciativa também pede o reforço da luta contra a pesca ilegal, a reconstituição das reservas e a erradicação das espécies invasivas.

Nos próximos meses, será formado um comitê com políticos, cientistas e especialistas, representando tanto o setor privado quanto a sociedade civil, que criará um plano de ações para proteger o ecossistema marinho e mitigar o impacto das ações humanas.

O Pacto para os Oceanos recomendará que todos os países criem medidas para evitar as piores consequências da elevação do nível do mar, assim como o estabelecimento de redes de alerta para tsunamis. Além disso, a iniciativa propõe o esforço de limitar a pesca ilegal e promete estimular políticas de proteção de cardumes e de controle de espécies exóticas.

“Nossos oceanos estão se aquecendo e expandindo. Corremos o risco de mudar irrevogavelmente processos que mal compreendemos, como as grandes correntes que afetam os padrões climáticos. A acidificação dos oceanos destrói a base da vida nos mares; a elevação das águas ameaça mudar o traçado do mapa do mundo à custa de centenas de milhões de pessoas entre as mais vulneráveis do planeta”, afirmou Ban Ki-moon, ao inaugurar uma conferência na Coreia do Sul que comemora o 30º aniversário da assinatura da Convenção das Nações Unidas sobre direito marítimo.

O secretário-geral aproveitou seu discurso para também defender a implementação do Tratado de Direito Marítimo, formulado em 1994, apontado por ele como o mais significante instrumento legal para o desenvolvimento sustentável dos oceanos. “Os oceanos são fundamentais para a vida no planeta e precisamos lidar com as ameaças presentes no aquecimento global, poluição e pesca excessiva”, concluiu.

Veja aqui uma extensa revisão de artigos sobre a temática dos impactos ambientais nos recursos marinhos.

E clique aqui para acessar o texto da campanha da ONU, em inglês.

 

 

Estratégia Nacional de Conservação da Biodiversidade está sendo finalizada

 

As discussões destinadas a construir a Estratégia Nacional de Conservação da Biodiversidade estão na reta final. O objetivo desse debate é montar um Plano de Ação Governamental, a partir da contribuição de técnicos do Ministério do Meio Ambiente (MMA), de suas entidades vinculadas e do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG). Em reunião ocorrida durante no dia 14 de agosto, na Secretaria de Biodiversidade e Florestas (SBF/MMA), 55 especialistas finalizaram a proposta governamental.

Um documento com os eixos dos principais problemas e propondo as soluções mais adequadas à biodiversidade do Brasil será levado à consideração de representantes de todos os ministérios dia 20 de setembro. "A estratégia brasileira será elaborada a partir do Plano de Ação Governamental para a Conservação da Biodiversidade e dos Diálogos sobre Biodiversidade: construindo uma estratégia brasileira para 2020, documento este preparado, de comum acordo, por entidades da sociedade civil organizada e pela iniciativa privada, explica a analista ambiental da SBF, Lúcia Lopes.

As principais ameaças foram identificadas durante a oficina de pré-montagem do que os técnicos definem como "árvore de problemas", realizada nos dias 10, 11, 18 e 21 de maio, em Brasília, e tiveram por base a pesquisa Causas e consequências da perda da biodiversidade. O documento foi elaborado pelos consultores do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), Danielle Calandino e Fernando Vasconcelos, a partir de entrevistas realizadas com gestores públicos de diversos órgãos do governo federal sobre as causas e consequências da perda da biodiversidade no Brasil.

Esse processo teve início ainda em 2011 e é uma resposta ao acordo internacional firmado por 193 países durante a 10ª Conferência das Partes (COP-10) da Convenção sobre Diversidade Biológica, realizada em Nagoia, Japão, e que resultaram nas Metas de Aichi. São 20 metas globais voltadas à conservação da diversidade biológica e o Plano de Ação Governamental, enumerando as causas da perda da biodiversidade destina-se a adequar as Metas de Aichi à realidade brasileira.

De acordo com Lúcia Lopes, o documento final será uma composição das propostas do governo brasileiro e das sugestões da sociedade civil organizada e iniciativa privada contidas nos Diálogos. A proposta brasileira para a conservação da biodiversidade será apresentada durante a Convenção das Partes para Conservação da Diversidade Biológica, a COP-11, que ocorrerá na Índia em meados de outubro.

 
 
Índice de saúde dos oceanos mostra mau estado das regiões costeiras
 

Após dois anos de estudos, uma equipe composta por mais de 65 pesquisadores dos Estados Unidos e Canadá e vinculados a uma série de instituições científicas e universidades, incluindo a Conservação Internacional, a Fundação pela Vida no Oceano Pacífico e a Sociedade National Geographic, publicou no dia 15 de agosto um um relatório na revista Nature sobre o estado das águas nos mares territoriais do mundo.

O novo “Índice de Saúde dos Oceanos” oferece uma visão dos oceanos que combina aspectos humanos e ecológicos. A classificação foi elaborada a partir do estudo de 171 Zonas Econômicas Exclusivas (ZEE) que se estendem até 200 milhas náuticas da costa e cuja responsabilidade corresponde aos países litorâneos. Estas ZEE representam 40% dos oceanos do mundo, assim como o essencial de seus recursos, suas áreas de lazer e empregos que o mar fornece. O índice se aplica apenas às águas territoriais porque é a parte dos oceanos para as quais há mais informações, e que, portanto, permite este tipo de avaliação.

Em uma escala de zero a 100, globalmente, as águas dos mares territoriais receberam uma nota 60, este índice é uma média das notas das águas territoriais de todos os países. E, não de todo surpreendentemente, países em desenvolvimento tiveram desempenho pior que os países desenvolvidos. Segundo o pesquisador Bud Ris, presidente e CEO do Aquário da Nova Inglaterra, a nota global 60 é um aviso que os oceanos não estão sendo administrados de forma ótima, e de que há muita oportunidade para aperfeiçoamento.

No Índice de Saúde dos Oceanos, as notas foram dadas segundo 10 critérios:

1. provisão de alimentos, ou seja, quanto alimento é retirado do oceano, de forma sustentável, por cada país;
2. pescaria artesanal, a oportunidade para a pesca em baixa escala que é crucial em nações em desenvolvimento;
3. produtos naturais, ou seja, a coleta de produtos vivos mas não alimentares, como corais, conchas, algas e peixes de aquariofilia, feita de forma sustentável. Estão fora a prospecção de óleo, gás, ou produtos de mineração;
4. armazenamento de carbono, que é representado pela proteção de três habitats principais, os manguezais, gramíneas marinhas e restingas, que armazenam carbono;
5. proteção da região costeira, a presença de habitats naturais e barreiras, incluindo manguezais, recifes de coral, sargaços, salinas e gelo marinho, que protegem fisicamente estruturas costeiras, como casas, e locais desabitados, como parques;
6. os meios de subsistência e economias costeiras, o emprego e renda produzidos a partir da indústria relacionados aos produtos marinhos, além dos benefícios indiretos de uma economia costeira estável;
7. o turismo e recreação, o valor que as pessoas dão ao prazer proporcionado pelas áreas costeiras, não o benefício econômico que está incluído nas economias costeiras;
8. águas limpas, ou seja, se a água é livre de vazamentos de óleos, químicos, crescimentos anormais de algas, patógenos, incluindo os resultantes de descarga de esgoto, lixo flutuante, mortes em massa de organismos e a concentração de oxigênio;
9. biodiversidade, ou o risco de extinção enfrentado pelas espécies locais, bem como a saúde de seus habitats;
10. sentido de lugar, aspectos de como as pessoas consideram o local como parte de sua identidade, incluindo espécies de animais famosos e lugares com valores culturais especiais.

A pior nota foi para Serra Leoa, um país na África banhado pelo Atlântico, que teve nota 36. As águas mais saudáveis foram da ilha desabitada de Jarvis, uma reserva de vida selvagem dos Estados Unidos, no Pacífico Sul, com nota 86. Estados Unidos, Canadá e Reino Unido tiveram as notas 63, 70 e 61, respectivamente. A Índia teve nota 52, pouco melhor que a China, com nota 51.

Algumas surpresas também apareceram, como a Polônia, considerada um país desenvolvido, com a nota 42, e Singapura, também desenvolvida, com nota 48. No lado das surpresas agradáveis, tem o Suriname com nota 69, e as Seicheles, com nota 73, ambos considerados países em desenvolvimento. A Alemanha teve nota 73, a melhor entre países desenvolvidos.

O Brasil obteve um escore médio de 62, ficando em 35° lugar na colocação global se forem consideradas no ranking três ilhas desabitadas dos EUA (incluindo a Ilha de Jarvis), duas ilhas pertencentes à França (a Ilha de Clipperton, que é desabitada, e a Polinésia Francesa) e três outros territórios pertencentes à Grã-Bretanha e Austrália. Se forem contabilizados só os países, o Brasil sobe para a 27ª posição entre os que têm saúde oceânica mais alta.

As notas do Brasil por critérios foram as seguintes: provisão de alimentos: 36; oportunidades para a pescaria artesanal: 88; produtos naturais: 29; armazenamento de carbono: 93; proteção da região costeira: 86; meios de subsistência e economias costeiras: 51; turismo e recreação: 0; sentido de lugar: 81; águas limpas: 76 e biodiversidade: 84.

“O Brasil está bem em alguns pontos de proteção costeira, mas o índice talvez não esteja capturando um declínio recente na biodiversidade”, diz a pesquisadora Cristiane Elfes, coautora do estudo, responsável pelos números brasileiros. Segundo ela, um dos pontos que o país precisaria melhorar é a maricultura, a criação de peixes e animais marinhos. “Não estamos explorando a maricultura de forma sustentável”. O pior resultado brasileiro foi com relação à densidade de turistas nas áreas costeiras, em que o país recebeu nota zero. A média global, de 10 pontos, não foi muito melhor.

Cristiane ressalta dois pontos positivos nesta nova metodologia. Primeiro, o estudo considera o ser humano como parte do ecossistema marinho. “O homem é parte do ecossistema. Ele pode melhorar ou piorar a situação dos oceanos”. O outro ponto é que a metodologia pode ser aplicada ano após ano. Assim, é possível saber em que áreas estamos melhorando e como agir para evitar a degradação dos oceanos.

Confira aqui o estudo na íntegra. 

 
 
A humanidade já esgotou seu ‘orçamento’ ecológico para 2012
 

Desde o dia 22 de agosto, a Humanidade está em déficit. Nos primeiros oito meses do ano, os seres humanos esgotaram a totalidade dos recursos que a Terra é capaz de produzir ao longo do ano. Em 22 de agosto, se alcançou o que a ONG Global Footprint Network (GFN) chama de Global Overshoot Day, isto é, “o dia da ultrapassagem da Terra" (dia do excesso). Desde 2003, esta ONG mede todos os anos a pegada ecológica do planeta, o acúmulo dos recursos e a forma como os consumimos.

A capacidade de regeneração anual do planeta é limitada. Diante disso, a capacidade de consumo do ser humano parece ilimitada e o planeta não é suficiente para cumprir com as exigências que a Humanidade lhe impõe. Desde a década de 1970, os seres humanos vivem muito acima dos seus meios. O relatório da GFN mostra um aceleramento constante do esgotamento dos recursos. Em 2012, o Global Overshoot Day foi atingido 36 dias antes que em 2011. A curva para baixo é constante. Os cálculos desta ONG se baseiam em dados científicos que se articulam em torno de uma medida, o hag, o hectare global mediante o qual se compara a biocapacidade do planeta com o consumo de cada país. O resultado dos estudos é catastrófico: para manter o nível de vida atual falta meio planeta suplementar.

Os quatro meses que restam serão vividos então a crédito. Os recursos que serão utilizados daqui até o final do ano correspondem a estoques que não se renovam. “A hora do balanço chegou”, disse a Global Footprint Network em seu relatório. Este ano, a ONG ampliou os seus cálculos para os últimos 50 anos. Entre os anos 1960 e agora, os recursos planetários foram divididos em dois, ao passo que as necessidades cresceram para níveis extraordinários, a ponto de que se consome 50% do que a Terra é capaz de produzir.

A pressão que os 7 bilhões de seres humanos exercem tornou-se desproporcional. Os principais responsáveis pelo déficit são as emissões de dióxido de carbono e a exploração dos recursos naturais. “A mudança climática como consequência dos gases de efeito estufa que se emitem mais rápido do que podem ser absorvidos por florestas e oceanos é a consequência mais tangível e urgente”, anota a ONG. Mas não é tudo. A isso se agregam “a diminuição das florestas, a perda das espécies, o colapso da pesca, o aumento dos preços dos produtos básicos e os distúrbios civis”. O quadro acaba com uma conclusão: “As crises ambientais e financeiras que estamos experimentando são os sintomas de uma iminente catástrofe. A Humanidade está simplesmente usando mais do que o planeta pode prover”.

Nem todos os países têm a mesma responsabilidade no desastre. Segundo a Global Footprint Network, os Estados Unidos e o Brasil são os primeiros a atingirem o dia do excesso, 26 de março e 6 de julho, respectivamente. Se todo o planeta necessitasse dos recursos que estes dois países consomem faltariam respectivamente 4,16 e 1,9 planetas para satisfazer a demanda. A exigência aumentaria para mais de seis planetas se vivêssemos como o Qatar. Ao contrário, se todos os seres humanos vivessem como a Índia, bastaria 49% dos recursos naturais do planeta.

Em 2008, a pegada ecológica da Humanidade correspondia a 2,7 hag por habitante para uma capacidade real de 1,8 hag. Dos 149 países estudados, 60 são responsáveis pela dívida ecológica. O Ocidente tem uma influência decisiva na deterioração do planeta. Em um país como a França as necessidades ultrapassam 70% dos recursos presentes. A Argentina tem uma biocapacidade de 8 hag e sua pegada ecológica chega a 2,8 hag. Nos anos 1960, a Argentina contava com quase 14 hag e com uma pegada ecológica de 4. O Relatório 2012 revela que entre 1970 e 2008, a biodiversidade planetária caiu 30%. Segundo a GFN, cada ano desaparecem 0,01% das espécies. O fundador da ONG, Mathis Wackernagel, recorda que “o déficit ecológico aumenta de maneira exponencial nos últimos 50 anos”.

Por paradoxal que possa parecer, há uma solução que não é um milagre, mas o próprio desastre. O responsável da ONG ressalta que, “no longo prazo, a recuperação só poderá ter sucesso se vier acompanhada de reduções sistemáticas da nossa demanda de recursos e serviços aos ecossistemas”. Caso isso não ocorrer, o desastre se encarregará de fazê-lo por nós. Mathis Wackernagel estima que a tendência para o megaconsumo dos recursos “mudará um dia de direção. Seja pelo impulso de decisões, seja pelo desastre”.

A questão do uso excessivo dos recursos tem, além disso, impactos econômicos muito fortes. A Global Footprint Network recorda que “uma vez que o déficit de recursos aumenta e os preços desses recursos são altos, o custo para os países será insuportável”. Boa parte da Humanidade vive de crédito financeiro. Entramos em outra etapa: o crédito ecológico.

Clique aqui para mais informações sobre o tema, em inglês.


 
 
 
 
     

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