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Índios da Amazônia têm maior distância genética

Estudo de cromossomo Y atesta proximidade cultural de tribos andinas

As tribos indígenas da Amazônia têm diferenças genéticas maiores entre si do que as tribos dos Andes, embora estas sejam separadas por milhares de quilômetros. A constatação, feita a partir de estudo coordenado pelo geneticista Fabrício dos Santos, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), dá respaldo biológico a um fato já verificado por antropólogos: as populações indígenas dos Andes têm uma proximidade cultural significativa, enquanto as tribos amazônicas -- muito mais próximas geograficamente -- são isoladas socialmente umas das outras.

Os pesquisadores investigaram o DNA de 192 indivíduos de 19 tribos da América do Sul. Foram analisadas as variações que ocorrem na estrutura do cromossomo sexual Y, passado aos filhos homens pelo pai. "Em comunidades patriarcais como as estudadas, as mudanças culturais ficam gravadas nesse cromossomo, exclusivo dos homens", justifica Fabrício dos Santos. O estudo provou que os povos andinos compartilham uma mesma herança genética, ao passo que, nas tribos amazônicas, a diversidade é grande.

A proximidade genética entre as populações andinas se deve, segundo Fabrício, ao intercâmbio cultural entre as tribos, iniciado há cerca de oito mil anos. "A prática da agricultura intensiva (de batata, por exemplo) e a facilidade de deslocamento proporcionada pela uniformidade do terreno criaram as bases para o surgimento de rotas comerciais na região", disse à CH on-line. A integração dos povos andinos -- que se espalhavam da Colômbia ao Chile atuais -- foi fundamental para o posterior surgimento do império Inca na região, e tem reflexos até hoje: boa parte dos remanescentes dessas tribos fala uma mesma língua, o quechua.

A análise de genes do cromossomo Y dos indivíduos andinos mostrou que grande parte deles se repetia com muita freqüência. Com os povos da Amazônia, o resultado foi diferente: os pesquisadores constataram um maior número de diferenças no cromossomo Y dos indivíduos analisados. Concluiu-se então que essas tribos têm heranças genéticas diferentes. Isso de deve, segundo Fabrício, às mudanças ocorridas na Amazônia desde a chegada dos primeiros migrantes na América do Sul. Quando o homem chegou ao continente, o que hoje é a floresta era uma área de cerrado. Com o aquecimento do planeta, ocorrido após a última era glacial (cerca de 12 mil anos atrás), a floresta se desenvolveu, o que isolou as tribos amazônicas e impossibilitou o contato entre elas.

A pesquisa abre caminho para estudos mais completos sobre as migrações indígenas na América do Sul. O principal objetivo da equipe de Fabrício dos Santos é traçar as rotas migratórias dos Tupi pelo território brasileiro: "Nossa intenção, mais uma vez, é comprovar geneticamente o que já pode ser observado culturalmente, já que os Tupi têm registro oral de sua história."

Tiago Lethbridge
Ciência Hoje on-line
23/07/01

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