![]() Parentesco
ameaça peixes-bois
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Geneticista
da UFMG acredita que as razões para a baixa diversidade genética
entre os animais estão relacionadas ao tamanho da sua população
por
VERÔNICA FALCÃO
Como
se não bastasse a população reduzida – menos de 500
no litoral brasileiro – o peixe-boi marinho agora enfrenta outra ameaça:
a baixa variabilidade genética. Pesquisa iniciada há um ano
pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) indica que eles são
parentes muito próximos.
“Quanto
menor a variabilidade genética maior o risco de extinção”,
sentencia a bióloga Juliana Vianna, que realiza a pesquisa. A consangüinidade,
explica a pesquisadora, se constitui numa ameaça porque deixa o
animal vulnerável. Uma doença à qual toda a população
não apresente resistência, por exemplo, pode dizimar a espécie.
Causas naturais, como variações climática, também
podem ser fatais.
O geneticista
da UFMG Fabrício Santos, coordenador do estudo, acredita que as
razões para a baixa diversidade genética entre os peixes-bois
marinhos estão relacionadas ao tamanho da sua população.
“Cruzando entre si, eles acabaram se tornando parentes”, explica.
Segundo
o pesquisador, essa redução populacional é resultado
da caça, iniciada com a colonização, há 500
anos. “No início os peixes-bois marinhos eram encontrados do Amapá
ao Espírito Santo. Hoje sua distribuição está
restrita, ao sul, ao Estado de Alagoas”, justifica.
O estudo,
com financiamento da Fundação O Boticário de Proteção
à Natureza, analisou amostras de sangue e de pele de peixes-bois.
O trabalho é feito com o DNA mitocondrial, aquele proveniente apenas
da ascendência materna. O projeto, com duração de dois
anos, inclui ainda a pesquisa genética do tecido muscular, no caso
de animais mortos.
Até
agora foram seqüenciadas 35 amostras de peixe-boi marinho. Todos os
doze animais dos oceanários do Centro Mamíferos Aquáticos
(CMA/Ibama), em Itamaracá, estão sendo estudados. Como são
provenientes de encalhes ocorridos em Estados diferentes, a análise
do DNA deles estão dando uma panorâmica da variabilidade genética
aos pesquisadores. No CMA/Ibama, que abriga o Projeto Peixe-boi, há
animais provenientes do Ceará, Paraíba, Piauí, Maranhão,
Rio Grande do Norte e Alagoas.
Juliana,
orientanda de Fabrício Santos no mestrado em Ecologia, Conservação
e Manejo da Vida Silvestre pela UFMG, estima que em um ano terá
resultados conclusivos. Os dados serão empregados no manejo dos
animais em cativeiro e também vão orientar as solturas de
peixes-bois na natureza. “Os pares para a reprodução em cativeiro
devem ser feitos de acordo com o exame de DNA. A reprodução
deve ocorrer entre os machos e fêmeas que apresentem alguma diferença
genética”, diz Santos. No caso das solturas, o critério é
o mesmo.
Embora
só agora os pesquisadores tenham descoberto a baixa variabilidade
genética do peixe-boi, ele já está desde 1996 na lista
das espécies ameaçadas de extinção editada
pela IUCN, sigla em inglês para a União Internacional para
Conservação da Natureza. A lista do Brasil, publicada pelo
Ibama, também traz o mamífero marinho, integrante da ordem
dos sirênios e chamado pelos cientistas de Trichechus manatus.
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Consangüinidade
explica deformações na coluna vertebral
Consangüinidade explica deformações na coluna vertebral |
O geneticista da Universidade Federal de Minas Gerais Fabrício Santos aponta as deformações na coluna vertebral de peixes-bois como uma evidência da baixa variabilidade genética. Segundo ele, a escoliose registrada em dois animais mantidos nos oceanários do Centro Mamíferos Aquáticos (CMA/Ibama), em Itamaracá, provavelmente resulta da consangüinidade. Apresentam
o problema Xica, o peixe-boi fêmea que vivia na Praça do Derby,
no Recife, e Sheila, uma das gêmeas geradas por Sereia. O filhote
de Xica, Xiquito, que morreu há três anos, também tinha
um defeito de postura semelhante a um desvio da coluna. Enquanto Xica (quase
40 anos) foi capturada ainda filhote em Goiana, no litoral norte de Pernambuco,
Sereia (de 11 anos) encalhou em Barro Preto (CE).
Com
o estudo genético, a equipe pretende ainda comprovar se Poqui, um
peixe-boi proveniente do Amapá, é híbrido. É
que ele tem características do peixe-boi marinho (cor cinza) e amazônico
(menor tamanho e mancha clara no ventre).
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