Turma de " Tópicos de Genética Molecular - 2000 "  - Julho de 2000
Geraldo Escolástico Cruz Neto
Rosana de Carvalho

PRODUTOS TRANSGÊNICOS,

Comprar ou não?

O que é? | Por quê produzir? | Para quê? | Testes | Exemplos | Vale a pena consumir?

O avanço tecnológico, aliado ao aumento da necessidade de incremento na produção com redução de custo e ao crescimento demográfico mundial, possibilitou a elaboração de técnicas biotecnológicas para a criação de Organismos Geneticamente Modificados (OGM’s) ou transgênicos.

A possibilidade de produção de alimentos com maior resistência ao ataque de pragas e ação de herbicidas, maior tempo de prateleira, maior valor nutricional e até melhor aspecto, tem viabilizado a intensificação de pesquisas em biotecnologia para a criação de OGM’s.

Como se trata de uma nova tecnologia (apesar de haver no Brasil estudos com técnicas de DNA recombinante desde a década de 70, após Paul Boyer ter conseguido expressar o gene da insulina humana em E. coli, em 1973) foi criado um órgão governamental, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) em 1996, afim de regulamentar os processos de produção e entrada de OGM’s no país. E foi embasada na Lei 8.974/95, regulamentada pelo Decreto 1.752/95, que a CTNBio autorizou, em seu primeiro ano, 48 liberações planejadas no meio ambiente de OGM’s afim de avaliar genótipos em condições de campo, em experimentos de pequena escala, dentre eles destacam-se:

Atualmente a mídia tem dedicado grande atenção a questões que envolvem transgênicos. No dia 20 de junho passado, a divulgação pelo Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) e Greenpeace, de uma lista contendo 10 produtos em cuja composição há traços de OGM’s, caiu como uma bomba, provocando polêmica e dúvidas. Será que é uma atitude correta, por parte dos veículos de comunicação, "lançar ao vento" algo tão delicado como a presença de alimentos geneticamente modificados? O termo delicado se refere ao fato de haver um medo natural das pessoas quando se fala de modificação genética. Falta, no entanto, um maior empenho em debater com a sociedade como ocorre este processo, suas implicações e conceitos de biossegurança.

Mas, afinal o que é um OGM?

Um organismo geneticamente modificado, especificamente o TRANSGÊNICO, é um organismo que carrega um gene exógeno incorporado de forma estável em seu genoma, tanto nas células somáticas quanto germinativas, o qual se expressa em um ou mais tecidos, e é transmitido para as gerações futuras, geralmente obedecendo as leis de Mendel. Esta é uma regra geral e como todas têm muitas exceções.

Por que produzir OGM’s?

O melhoramento genético de plantas, teve seus horizontes ampliados mediante a biotecnologia, pois em muitas das cultivares já se estavam esgotando as variabilidades gênicas de interesse comercial. A idéia, a princípio, é de buscar produtos com superior qualidade capazes de colaborar na solução da deficiência nutricional dos mais de 1,5x109 pessoas no mundo que sofrem de subnutrição, reduzir a agressão ao meio ambiente (mediante a redução de insumos agrícolas tóxicos) e, se conseguirmos ler nas entrelinhas, aumentar o lucro dos produtores e, quiçá, autenticar o monopólio de culturas básicas, como nos EUA e mais de 70% da produção argentina, tendo lucrado em 1999 US$1,2 bilhão, apenas em insumos (como o herbicida Roundup® )

Para quê, e como são produzidos os OGM’s?

Figura 1 – A) feijões infestados por Acanthoscelides obtectus. B) feijão danificado
por larva de Acanthoscelides obtectus. C) o inseto adulto.


A
B
Figura 2 – Aspecto externo (2A) e da polpa (2B) de frutos de melão (cultivar Cantaloup), controle e transformada 5 e 11 dias após a colheita, respectivamente.
 


  Como são efetuados os testes preliminares?

A legislação prevê que antes de serem liberados para o consumo, os alimentos transgênicos sejam testados rigorosamente com o objetivo de garantir seguridade ao homem, animais e meio ambiente. Tais análises envolvem testes bioquímicos , fisiológicos, alimentares, testes de impacto ambiental e finalmente, teste de campo. Tais testes, podem sofrer algumas variações dependendo do gene inserido ou da modificação realizada. Como exemplo, citamos o tomate FLAVR SAVR (desenvolvido pela Calgene e consumido nos EUA e Europa).

O fruto desse tomate foi analisado e testado quanto ao aroma, sabor, textura e cor, enquanto que seus produtos (como molho, sucos, polpas) foram avaliados para quantidade de carotenóides, vitamina C, composição de sólidos solúveis, teor de açúcar, teor de ácidos, viscosidade e consistência. Além, também foram analisados teor de gordura, proteínas, tiamina, riboflavina, vitamina B6, cálcio, magnésio, fósforo e presença de eventuais toxinas. Ao final da análise não foram encontradas nenhuma alteração nos componentes analisados, exceto os já esperados provenientes da modificação realizada.

Também foram realizados testes para averiguar se a enzima NPTII poderia oferecer riscos para o consumo humano através de uma simulação em laboratório do processo digestivo em pH ácido e básico / estômago e intestino respectivamente. Testou-se também o tomate na alimentação de camundongos além da ingestão da própria enzima purificada. Além foram realizados cálculos probabilísticos para analisar a possibilidade de ocorrer transferências gênicas entre o gene NPTII e células do epitélio intestinal ou na flora bacteriana presente no sistema digestivo. Também foi calculado possível redução na interferência na atividade antibiótica através do consumo desses transgênicos. Em todos os testes realizados obtiveram resultados negativos, liberando, assim, essa variedade para o consumo sem riscos.
 

Alguns transgênicos nacionais em aprovação:

 
  • motivo: aumentar a durabilidade pós-colheita.

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  • modificação: clones em antisense a ACC oxidase de maça.

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  • vantagem: frutos podem ser colhidos mais tardiamente, e seu prazo de mantenimento em prateleira é maior.

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  • motivo: produzir um tomate que amoleça vagarosamente durante a maturação.

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  • modificação: técnica de inserção do gene antisense da enzima poligalacturonase através do vetor Agrobacterium tumefaciens juntamente com um gene marcador que codifica para a enzima neomicina fosfotransferase II (NPTII) que confere resistência à antibióticos. O RNAm do gene antisense se anela ao RNAm do gene normal, impedindo assim, a síntese desta enzima. Esta enzima degrada a pectina (componente celular da parede de frutos imaturos). A pectina está diretamente relacionada com o amolecimento do fruto. Logo, o processo do amolecimento pode ser inibido se essa enzima for freada.

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  • vantagens: retardo no amolecimento do fruto possibilitando sua colheita tardia sem que ofereça perda na mesma, no transporte e no armazenamento. Também confere-lhe resistência à antibióticos através do gene marcador utilizado NPTII), uma enzima que inativa antibióticos do grupo dos aminoglicosídicos (canamicima e neomicina).

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  • motivo: produzir uma variedade de soja que seja resistente à herbicidas usados na lavoura no combate à pragas (como ervas daninhas)>

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  • modificação: inserção de uma bactéria que possui um gene que confere resistência ao herbicida usado pela Roundup no plantio da soja.

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  • vantagem: o herbicida pode ser aplicado sem causar nenhum dano à planta.

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    Evitando os produtos divulgados estaremos seguros?

    Os OGM’s não são inseguros, a princípio foram muito bem testados, e assim, alguns dos produtos que compramos sempre podem ter em sua composição componentes transgênicos, por exemplo, não temos produção de soja suficiente para o consumo nacional (de onde ela vem?), as bebidas lácteas em pó deixaram de ser produzidas, já a algum tempo, no país devido ao alto custo (onde são produzidas?), o sorvete, o picolé etc..., são produzidos com leite natural ou em pó? Se começarmos a analisar veremos quais outros produtos, podem estar no mercado, e sendo assim será realmente necessária tamanha preocupação com os efeitos orgânicos.

    Os produtos oriundos de técnicas de biotecnologia, obedecendo a protocolos, são exaustivamente testados, no entanto, a polêmica gerada acerca deles se deve a testes realizados por Arpad Puztai, a respeito da influência da batata transgênica em ratos, e estimativas de seus efeitos nos seres humanos.
    O maior problema é que não é fácil medir em laboratório, qual o real impacto ecológico, sobre o ambiente no "entorno" do cultivo, e talvez seja esse um motivo para se controlar a produção em larga escala, afinal a natureza sempre nos surpreende com sua capacidade de adaptação, desta forma quais serão os nossos problemas futuros?



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