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Crânio do Homo floresiensis (esq.) comparado com a de um homem moderno (foto: P.Brown) |
Cientificamente classificada de Homo floresiensis,
a nova espécie foi apelidada carinhosamente de “hobbit” pelos
cientistas que a encontraram, em homenagem aos personagens de O
Senhor dos Anéis.
O esqueleto encontrado na caverna de Liang Bua é de um adulto,
provavelmente uma mulher, com apenas um metro de altura e
cérebro de
meros 380 centímetros cúbicos. Isso é um
terço inferior ao tamanho
médio do cérebro de um humano moderno e muito menor que
qualquer um já
registrado entre os primitivos Homo erectus. Apesar da baixa
estatura, os ossos dos oito indivíduos encontrados não
são de anões,
dizem os pesquisadores, mas de representantes com tamanhos regulares
para a espécie, com ossos proporcionais. Além de fabricar ferramentas e caçar
pequenos elefantes
anões e lagartos gigantes – cujos ossos também foram
encontrados pelos
antropólogos no local –, o H. floresiensis viveu na
mesma época
em que humanos modernos estavam colonizando a região no Sudeste
Asiático. De acordo com os cientistas, a nova espécie
tornaria
necessária uma reavaliação da
evolução humana. “Minha boca caiu até os joelhos”, disse Peter
Brown,
paleoantropologista da Universidade da Nova Inglaterra em Armidale, na
Austrália, e um dos líderes da pesquisa. “No
início percebemos que era
um achado importante, mas, por causa do tamanho pequeno, inicialmente
pensamos que se tratava de um indivíduo jovem ou mesmo de uma
criança.
As coisa mudaram completamente quando a equipe de Rokus Awe Due (do
Centro para Arqueologia da Indonésia)
examinou os dentes do esqueleto. Análises forenses posteriores
mostraram que se trata de uma fêmea adulta com cerca de 30 anos
de
idade. Depois analisamos a mandíbula, o cérebro e a
idade. Ficamos
achando que era impossível existir aquilo que havíamos
descoberto”,
disse em entrevista à revista.
Segundo a Nature, as
implicações da descoberta
são enormes: “Se ramificações da humanidade
totalmente inesperadas
continuam a ser descobertas hoje – e teriam vivido há tão
pouco tempo
–, então quem sabe o que mais deve estar por aí?” O tamanho reduzido da espécie indica que os
humanos
estão sujeitos às mesmas forças
evolucionárias que fizeram outros
mamíferos diminuírem de tamanho quando isolados
geneticamente e com
pressões ecológicas, como as verificadas em uma ilha com
recursos
limitados como aquela onde se deu a descoberta. Os ossos encontrados ainda não foram
fossilizados,
estando em uma condição que o grupo descreveu como do
tipo “batatas
amassadas”, resultado da idade e da umidade do local. “O esqueleto
tinha a consistência de papel molhado e um escavador menos
experiente
poderia tê-lo danificado”, disse Richard Roberts, da Universidade
de
Wollongong, na Austrália. O cientista credita o excelente
trabalho de
recuperação dos ossos a Thomas Sutikna, do Centro para
Arqueologia da
Indonésia. Os cientistas sugerem que o H. floresiensis
possa ser descendente do Homo erectus. Fósseis desse
último foram encontrados na vizinha ilha de Java, onde teriam
vivido há 1,6 milhão de anos. Para Brown, o achado, ao mesmo tempo que muda a
percepção de que o Homo sapiens não era
único também reforça essa tese. O H.
floresiensis
mostra, segundo cientista, que espécies com habilidades
cognitivas
limitadas podem desenvolver ferramentas engenhosas. “Esse é um
desafio
que temos que enfrentar. Será que o ser humano é
realmente o melhor?”,
questiona.
28/10/2004
Agência
FAPESP
- Uma nova espécie humana acaba de ser descoberta. Um grupo de
cientistas de australianos e indonésios encontrou um esqueleto
quase
intacto e ossos de sete outros representantes de uma espécie que
viveu
na ilha de Flores, na Indonésia, há 18 mil anos. “Parece
incrível
demais para ser verdade, mas isso não é um boato”, diz a
revista Nature, que traz o achado como reportagem de capa da
edição de 28 de outubro.