ANTROPOGÉNESE DESDE PURGATÓRIUS
ATÉ KENYOPITHECUS
TRABALHO REALIZADO POR:
INTRODUÇÃO:
Ao longo de milhões de anos e a partir de um ancestral comum, que existiu à 70 milhões de anos (período - Cretácico), houve uma lenta e progressiva evolução dos primatas, dos quais descende o homem actual.
Através de vestígios fósseis, tais como crânios, maxilares, dentes, esqueletos completos ou apenas alguns ossos, conseguimos, com algumas dúvidas ainda subsistentes, traçar a árvore genealógica do homem e observar o seu parentesco com os outros primatas.
O facto mais marcante em toda a evolução
dos primatas, nomeadamente em relação à linha evolutiva
que deu origem ao homem, foi o aumento progressivo da caixa craniana e
consequentemente o aumento do cérebro, que permitiu ao homem, cada
vez mais inteligente, destacar-se dos outros primatas.
PURGATÓRIUS:
É o primata mais antigo que se conhece. Viveu durante o final do mesozóico, no Cretácico, sendo contemporâneo dos últimos dinossauros. Uma das interrogações que surgem frequentemente tem a ver com o facto dos dinossauros, animais de grande porte, terem sido extintos enquanto o Purgatórius permaneceu vivo dando origem às variadas espécies de primatas que conhecemos hoje, através da evolução das espécies. Uma das explicações para este fenómeno é, independentemente da extensão da catástrofe que levou à extinção dos dinossauros, o facto destes primatas terem dimensões reduzidas, não sendo maiores que ratos, o que lhes permitiu encontrar e adoptar um nicho de sobrevivência, que logicamente permitiu a sua permanência e evolução na Terra.
Estes acontecimentos remontam à cerca de 70 milhões de anos, idade que lhes é atribuída na escala evolutiva. A sua descoberta foi feita na região das Montanhas Rochosas, mais propriamente na colina do purgatório (purgatory hill) e noutras localidades próximas, tais como, Harbicht Hill - Garbani e Bug Creek, na América do Norte, por L. Van Valen e R. E. Sloan, em 1965.
Como já foi dito atrás, as suas dimensões não ultrapassavam as de um rato, com 6 a 7 cm, sendo animais cuja alimentação era basicamente insectívora, podendo também incluir frutos. A sua dentição era constituída por 44 dentes (dos quais conhecemos molares com apenas 2 mm) e supôe-se que viviam nas árvores.
Para alguns paleontólogos é considerado o " pai dos primatas", uma vez que é até hoje o mais antigo primata conhecido, supondo-se que por evolução teria dado origem a todos os outros primatas, quer os já extintos, quer os que subsistem actualmente.
A reconstituição do Purgatórius
é um pouco duvidosa e existem algumas reservas quanto a ela, já
que apenas se conhecem fragmentos dos ossos dos maxilares. As reconstituições
actuais não passam de suposições baseadas em animais
que existem actualmente ou cuja anatomia é conhecida, e que possuem
dentição e ossos dos maxilares semelhantes aos do Purgatórius.
PLESIADAPIS:
Com cerca de 50 milhões de anos (era Terciária, pleocénico-eocénico), aparece nas montanhas rochosas do Colorado, Montana, Wyoming e Utah (EUA) e na Europa Ocidental (Paris, Reims), o sucessor mais directo do purgatórius, o plesiadapis.
Foi descrito, em 1877, por P. Gervais e mais tarde por P. Teilhard Chardin. A descrição foi recentemente afirmada por Donald Russel.
O plesiadapis era semelhante a um esquilo, de cauda
muito comprida. Trepava às árvores das florestas temperadas
e tropicais (15/20 graus).
ADAPÍDEOS E OMOMÍDEOS:
Pela mesma altura do plesiadapis (Terciária-eocénico) surgem os adapídeos (género Adapidae) e omomídeos (género Omomydae).
Os fósseis de adapídeos aparecem na América do Norte, Europa e Ásia.
Eram pequenos animais arborícolas de cauda comprida muito semelhantes aos actuais lémures, encontrando-se provavelmente na origem destes, bem como de todos os primatas superiores.
Habitavam na floresta e à beira de lagunas.
O exemplo mais conhecido é o Adapis parisiensis, descoberta em 1821 por Geoges Cuvier.
Outro exemplo deste género Adapidae, encontrado na América do Norte (montanhas rochosas de Wyoming), é o Northarcus.
Descrito por Ceidy em 1870 como carnívoro ou paquiderme.
Para Marsh (1872), tratava-se de um primata, hábil trepador de cauda comprida.
Os omomídeos (Omomydae) surgem na mesma época dos adapídeos. Para alguns autores estarão ainda mais relacionados com a origem dos Antropóides do que os adapídeos, já que apresentam um maior desenvolvimento craniano, sinal de progresso relevante.
Apareceram exemplares na América do Norte (tipo Rooneyia - oligocénico), na Europa (tipo Necrolemur - eocénico) e na Ásia (tipo Altanius - eocénico).
Os omomídeos seriam pequenos macacos de grandes olhos que se alimentavam de frutos. Para além disto, estes macacos tinham uma certa tendência para se endireitarem frequentemente.
Muito recentemente (1990), foram descobertos, em Marrocos, uma série de fósseis de Omomídeos com datações da ordem dos 60 milhões de anos que remontam ao paleocénico.
Para os paleontólogos que os descobriram, estes são os primeiros verdadeiros primatas que teriam tido origem na África e não no Norte de América ou na Ásia.
Os adapídeos e os omomídeos integram-se dentro da ordem Prossímios.
PROSSÍMIOS E ANTROPÓIDES:
A bifurcação da ordem dos Prossímios nas suas duas sub-ordens em Prossímios e Antropóides deverá ter ocorrido há cerca de 40 milhões de anos.
Os prossímios deram origem às espécies actuais, os Lémures e os Társios (género Tarsidae).
A característica fundamental que distingue os antropóides dos outros primatas é o desenvolvimento do crânio em detrimento da face.
Dos antropóides podemos encontrar duas linhas evolutivas diferentes, uma deu origem aos macacos do novo mundo, os platirríneos que se mantiveram inalteráveis até à actualidade, e outra deu origem aos macacos do velho mundo, os catarríneos que por sucessivas e importantes transformações conduziram ao surgimento do homem actual.
Quanto aos macacos do novo mundo, conhece-se um tipo, Branisella, existente há 35 milhões de anos. Foi descoberto por Robert Hoffatetter na Bolívia em 1969. É considerado um perfeito macaco do novo mundo, de cauda preênsil, semelhante aos pequenos macacos das florestas tropicais e sub-tropicais.
Deste tipo, fazem parte 35% dos primatas actuais
vivos.
OLIGOPITECO:
É o primeiro antropóide incontestado assim como o primeiro catarríneo. Pertence aos chamados pequenos macacos. O seu fóssil foi encontrado em Fayum no Egipto e data do oligocénio, entre os 40 - 30 milhões de anos.
Apresenta uma dentição de composição idêntica à nossa, com 32 dentes, dos quais 2 são incisivos, 1 canino, 2 pré-molares e 3 molares.
Alimentava-se de frutos e insectos.
PROPLIOPITECO:
O propliopiteco é outro catarríneo importante que deverá ter surgido entre 36 - 25 milhões de anos.
A sua dentição é muito semelhante à dos homonídeos, apresentando 32 dentes com caninos e incisivos pequenos, implantados verticalmente nas gengivas. Este tipo de dentição é essencialmente adaptada a uma alimentação vegetariana.
É antepassado dos primatas superiores no velho
mundo.
EGIPTOPITECO:
Surgiu entre 30 - 25 milhões de anos, durante o oligocénio superior. É considerado o primeiro hominóide, sendo o primeiro representante da super-família à qual pertence o homem.
O seu fóssil foi descoberto perto do Cairo, Fayum, no Egipto.
Há importantes transformações cranianas e cerebrais como a ascenção do frontal (crescimento da testa) e a expansão das áreas visuais do cérebro.
A sua capacidade craniana, apesar de tudo, é ainda muito pequena comparada com a do homem (25 cm cúbicos e 1500 cm cúbicos respectivamente).
Em termos de estatura, são bastante maiores que os primatas que os antecederam.
O egiptopiteco, era quadrúpede terrestre que vivia nas árvores e também no solo, sendo basicamente hervívoro. Apresentava cauda e tinha focinho de raposa.
Crê-se que o egiptopiteco pode ter dado origem
directa ao primata seguinte, o driopiteco.
DRIOPITECO:
É um dos primatas com maior importância visto que é apontado como o antepassado comum dos pongídeos e dos hominídeos.
A sua descendência bifurcou-se originando, por um lado os antepassados directos do homem e, por outro, os antepassados dos símios como o chimpanzé e o gorila.
O driopiteco ou procônsul, surge em África no início do miocénio médio, àvolta dos 22 milhões de anos.
Possuíam estatura semelhante à de um gorila fêmea, pertencendo, portanto, já aos grandes símios.
Apresentam características evoluídas, tais como, dentição semelhante à do homem, frontal elevado com capacidade craniana de aproxidamente 150 cm cúbicos; a face é moderadamente projectada para a frente e as arcadas supra-orbitais, ténues. O esqueleto encontra-se adaptado à vida nas árvores como também à vida no solo.
É de referir um facto fundamental ocorrido ainda no miocénio, há 17 milhões de anos: o fenómeno geológico que se refere à formação da Placa Afro-árabe que irá unir a África - até então considerada geológicamente uma ilha, isolada - à Ásia.
Esta união intercontinental vai permitir aos grandes símios africanos, como o driopiteco, passarem à Eurásia adaptando-se às suas condições ambientais, as quais são bastante diversas das encontradas no continente africano.
Supõe-se que terá sido nesta altura
que terá ocorrido a separação definitiva entre os
símios africanos (gorila, chimpanzé) e os símios euro-asiáticos
(orangotango).
OREOPITECO:
É considerado o primeiro hominóide euro-asiático. É também um símio de grande estatura, tendo cerca de 1,15 m de altura e pesando cerca de 40 kg.
A sua dentição è semelhante à do homem e a sua capacidade craniana vai aos 200 cm cúbicos.
No conjunto, as semelhanças emtre o oreopiteco e o homem são mais numerosas e importantes do que em qualquer outro primata dos finais do miocénio.
O seu esqueleto apresenta ainda muitas características
primitivas, como a grande extensão dos membros superiores, o que
indica uma vida basicamente arborícola.
PLIOPITECO:
É outro hominóide importante da Europa
central e meridional do miocénio médio e superior. É
um primata que vivia quer nas árvores, quer no solo. O pliopiteco
é apresentado pelos paleontólogos como podendo, ocasionalmente,
caminhar sobre as patas traseiras; apresenta, portanto uma postura mais
vertical que as formas antecedentes. O crânio não é
ainda muito desenvolvido, mas a face é já direita e curta
(ortognata).
GIGANTOPITECO:
É um descendente directo dos primeiros driopitecídeos, sendo o provável ascendente dos actuais pongídeos, havendo uma grande semelhança com o actual gorila. Era de grandes dimensões, com alturas entre os 2 e 3,5 m.
Os primeiros fósseis foram descobertos em 1935 e apresentam datações entre os 8 e 1 milhão de anos. Isto significa que os últimos gigantopitecos foram contemporâneos dos primeiros homens.
A sua alimentação era à base
de vegetais fibrosos e sementes. Este facto é-nos fornecido pelos
grandes molares que possuíam, usados certamente para esmagar e mastigar
os alimentos.
RAMAPITECO / QUENIOPITECO:
O estudo e localização do ramapiteco é algo problemático já que a carcterísticas mais evoluídas estão associados características mais primitivas do seu esqueleto.
Vivia no solo e por vezes caminhava sobre as patas traseiras; a face é pouco projectada e a capacidade craniana é reduzida.
A sua dentição é muito semelhante à dos primeiros hominídeos, os australopitecos.
Na altura da descoberta do seu fóssil foi posto em hipótese que o ramapiteco seria um antepassado directo dos primeiros hominídeos.
Surgiu há 15 milhões de anos.
Actualmente, visto que se trata de uma espécie exclusivamente asiática, os paleontólogos põem a hipótese de ser o antepassado directo do orangotango.
O papel de antepassado dos hominídeos é atribuído, hoje em dia, ao kenyapiteco ou queniopiteco, cuja descoberta se deve a Louis Leakey, no Quénia, África Oriental.
Este primata possuía uma morfologia semelhante à do ramapiteco, tendo-se considerado a hipótese de ambos pertencerem à mesma espécie. No entanto, a conclusão final foi de que se tratavam de espécies diferentes. Isto porque o kenyapiteco surge espalhado por uma região onde alguns milhões mais tarde surgem os primeiros hominídeos bípedes, os australopitecos.
Trata-se, assim, de um factor geográfico que põe em vantagem o kenyapiteco em relação ao ramapiteco no que se refere à possível ascendência dos hominídeos.
Fazendo uma síntese do processo evolutivo, há duas tendências fundamentais que sobressaem:
- A progressiva cerebralização e consequente aumento do crânio e redução da face;
- Progressivo e gradual abandono da vida arborícola
permitindo uma postura mais vertical e a conquista do bipedismo.