A Sacculina carcini é uma craca (veja figura com o ciclo de parasitismo deste crustáceo). À primeira vista, essa microscópica gota com perninhas não impõe respeito. Mas os biólogos estão percebendo que ela é uma usina de energia disfarçada. A saculina começa a vida como uma larva nadando no oceano. Até que a fêmea da espécie fareja, com os órgãos sensoriais das pernas, o cheiro do caranguejo. Ela vai dançando pela água até pousar na carapaça dele. Depois, sobe por um dos braços do crustáceo enquanto ele se mexe em pânico. Até que encontra, no esqueleto externo da vítima, um orifício por onde passa um pêlo. A saculina fêmea enfia, então, uma agulha oca no orifício e injeta com ela um líquido com algumas células. Na verdade, essas células são o parasita. O resto fica do lado de fora e é abandonado como uma casca vazia. Lá dentro, sobra apenas uma lesma microscópica.
A lesma penetra no caranguejo e forma um nódulo na parte de baixo da casca. Daí começa a espalhar raízes, parecidas com as das plantas, que se estendem por todo o corpo do hospedeiro. Coberta com filamentos semelhantes aos que revestem o intestino humano, essas raízes absorvem os nutrientes dissolvidos no sangue do caranguejo. Ou seja, roubam dele a comida. Por incrível que pareça, essa invasão não provoca nenhuma resposta imunológica. O crustáceo continua a passear pela rebentação tranqüilamente, alimentando o parasita com mariscos e mexilhões.
Com isso, a saculina fêmea cresce. O nódulo na casca vira uma bolota cada vez maior até que abre-se um buraco nela do tamanho da ponta de um alfinete. Um dia, uma larva macho de saculina aterrissa no caranguejo e encontra a abertura na sua carapaça. Como a passagem é pequena demais para ele, o macho faz como a fêmea: abandona parte do corpo. O que entra no caranguejo é um torpedo espinhoso, marrom avermelhado, 50 000 vezes menor que 1 centímetro. Ele penetra num canal pulsante e, depois de dez horas, vai dar dentro do corpo da fêmea. Lá ele se funde com a bolsa visceral dela e começa a soltar esperma. Cada saculina fêmea tem duas bolsas dessas e pode carregar dois machos até a morte. Os parasitas, então, se reproduzem fabricando milhares de larvas por semana.
Aos poucos, o caranguejo se transforma numa criatura que existe só para servir ao parasita. Não consegue mais fazer coisas que gastam energia – trocar de casca, crescer, recuperar garras perdidas, se reproduzir. Em resumo, só faz o que interessa à saculina: comer. A craca, então, toma emprestada a bolsa que a fêmea do caranguejo usa para carregar os futuros filhotes e guarda lá seus ovos. Se o bicho infestado for um macho, não faz mal. A craca muda o formato do abdome dele, tornando-o capaz de transportar ovos.
A vítima
cuida inocentemente da bolsa, livrando-a de algas e fungos, até
que as larvas chocam e precisam se soltar. O caranguejo, então,
acha uma pedra alta e começa a mexer-se para liberá-los.
Depois abana maternalmente as garras para produzir uma corrente que leve
os filhotes do parasita para um lugar seguro. Ou seja: o caranguejo solta
na água uma nova geração de parasitas que vão
contaminar outros caranguejos...