COEVOLUÇÃO
Um dos maiores desafios para a biologia evolutiva é entender como
as interações interespecíficas influenciam as taxas
de evolução e os padrões de radiação adaptativa
e como a evolução afeta as interações interespecíficas
e, assim, a estrutura de comunidades ecológicas.
Isso requer a síntese de duas
teorias complexas: a teoria genética da evolução e a
teoria ecológica da estrutura da comunidade.
- O termo foi utilizado pela primeira
vez por Ehrlich e Raven (1964) na descrição sobre influências
que plantas e insetos herbívoros têm sobre a evolução
um do outro.
- Não há um acordo
geral sobre sua definição (Futuyma e Slatkin 1986).
Roughgarden
(1976) |
Evolução
na qual a adaptabilidade de cada genótipo depende das densidades populacionais
e da composição genética da própria espécie
e da espécie com a qual interage. |
Jansen
1980 |
Evolução
de uma característica de uma espécie em função
de uma característica de outra espécie. |
Ricklefs,
1996 |
Respostas
evolutivas recíprocas entre as populações |
Problemas:
- A evolução promove
coexistência ou desestabiliza a interação e leva à
extinção?
- Espécies antagonistas
evoluem indefinidamente em uma "luta" evolutiva ou chegam a um equilíbrio
evolutivo?
- Pode a evolução
ser suficientemente rápida para preservar uma espécie da extinção
por competição ou predação?
- TIPOS DE COEVOLUÇÃO
- Coevolução Específica:
duas espécies evoluem, uma respondendo à outra. Exemplo, relação
predador/presa.
- Coevolução
Difusa (Guilda). Grupos de espécies pertencentes à mesma
guilda geram pressões seletivas (recíprocas) sobre grupos de
espécies de outra(s) guilda(s).
- Coevolução
Tipo "Escape e Irradiação. Uma espécie de presa
pode desenvolver uma defesa que a protege da maioria dos predadores. A divergência
da presa não é necessariamente acompanhada pela divergência
dos predadores. Os predadores podem evoluir associações com
presas distintas e adaptar-se em épocas subseqüentes à
diversificação das presas".
PREDADOR E PRESA
- Considerando-se a relação
de somente um predador e uma presa, a coevolução pode:
- continuar indefinidamente em uma
escala sem fim ou corrida armamentista (race arms),
- causar um equilíbrio genético
estável,
- causar ciclos contínuos
(flutuação irregular) na composição genética
de ambas as espécies, ou
- levar à extinção
de uma ou ambas as espécies.
- A coevolução, no
caso da predação, tende a moldar predadores mais perigosos
e estratégias de defesa mais eficazes por parte das presas. Sendo
assim,
- continuamente há seleção
de boas técnicas de predação (velocidade, força,
precisão, adaptações morfológicas, etc.), já
que predadores pouco eficientes não são capazes de capturar
as presas mais adaptadas ao escape, e são selecionados negativamente
frente ao mais eficientes.
- Concomitantemente, presas tendem
a ser selecionadas quanto à capacidade de evitar a predação
(defesas melhores, capacidade de fuga, etc.).
- Porém, grande resistência
e grande eficiência predatória têm custo.
- Assim, é de se esperar
que tanto a resistência da presa quanto a eficiência do predador
sofram flutuações no tempo.
PARASITISMO
- Presumimos que os hospedeiros
evoluam defesas mais efetivas e que os parasitas podem evoluir maior virulência.
- Se o parasita deve, contudo,
ser transmitido de um hospedeiro vivo para outro, um menor grau de virulência
pode evoluir porque a morte antecipada de um hospedeiro pode resultar na
morte dos parasitas antes de serem transmitidos.
MUTUALISMO
- Espécies que interagem
mutualisticamente não contribuem propositalmente com o sucesso recíproco.
- Em vez disso, exploram uma a
outra como recurso.
- A seleção favorece
genótipos que beneficiam outra espécie se essa ação
retorna benefícios.
- Alguns mutualismos surgem provavelmente
de relações comensais. Ex. formigas que protegem plantas com
nectários extraflorais.
- Outros mutualismos parecem originar-se
de relações parasita-hospedeiro, embora nem todos os parasitas
desenvolvam para se tornarem mutualistas. Ex. Figos polinizados por vespas
agaonídeas cujas larvas se alimentam de alguns dos óvulos em
desenvolvimento.
COMENSALISMO
- Interação em que
uma das espécies é beneficiada enquanto a outra não
é prejudicada.
- Ex. uso das árvores pelas
aves para fazer ninho, peixe palhaço se esconde entre os tentáculos
das anêmonas do mar.
COMPETIÇÃO
- Respostas evolutivas à
competição entre espécies pode levar à divergência
no uso de recurso e algumas vezes na morfologia (substituição
de caracteres).
- Poderíamos esperar que
se as espécies estivessem isoladas de espécies competidoras,
elas poderiam expandir sua dieta (ou uso do recurso) e exibiria maior variação
na estrutura trófica.
- Por exemplo, Populações
de pássaros e outras espécies em ilhas, onde a diversidade de
espécie é menor, freqüentemente ocupam uma maior variedade
de habits e utilizam uma maior variedade de alimentos do que as mesmas espécies
ou espécies relacionadas onde a competição ocorre.
Por que estudar coevolução?
Controle biológico de pragas
- A compreensão de como evoluem
as interações entre parasitas e hospedeiros pode auxiliar na
busca de mecanismos eficientes de controles das pragas agrícolas.
- As culturas constituem-se de
extensos aglomerados de potenciais hospedeiros, o que, por si só vêm
a facilitar a disseminação de parasitas.
Agricultura: formação
de linhagens mais produtivas
- O melhoramento de culturas ao
longo da história de domesticação de culturas leva à
perda de resistência a patógenos. A procura por espécies
selvagens filogeneticamente próximas pode apresentar soluções
de como criar linhagens ao mesmo tempo produtivas (como as domesticadas) e
resistentes (como as selvagens).
Medicina
Neste caso também, a compreensão
da evolução do parasitismo pode ser útil no controle
de doenças.
Preservação da biodiversidade
- A diversidade biológica
não se define somente pela variedade de espécies, populações
e de genes, como normalmente se faz.
- As interações entre
espécies também tornam diverso o meio biótico. Interações
com uma história (co-) evolutiva são ainda mais ricas, devido
às adaptações das espécies participantes.
- A manutenção de
ecossistemas funcionais depende das interações entre as populações
existentes: parasitas e predadores controlam os tamanhos populacionais de
suas presas;
- competidores interferem mutuamente
nas larguras de nicho uns dos outros; e
- mutualistas aumentam a complexidade
do sistema.
Texto preparado
por Francisco A. Coutinho e modificado por Fabrício R. Santos