Classes de veneno, envenenamento e sintomatologia

Um dos motivos de se estudar estas aranhas é a grande quantidade de acidentes nos quais estão envolvidas. Normalmente, estes acidentes ocorrem com pessoas mais idosas ou crianças devido à inabilidade ou ao desconhecimento no trato com este animal e, se chegarem a evoluir para um caso mais grave, levam à morte por choque neurogênico. As aranhas que podem picar através da pele humana, apenas o fazem quando se sentem em situação de perigo. A aranha, sentindo-se ameaçada, reage inoculando o seu veneno em quem a molestou. Trata-se, neste caso, de uma reação de defesa. A partir daí, a pessoa pode começar a sofrer uma série de efeitos fisiológicos anormais que evoluem rapidamente de tal forma que, em alguns casos, podem ser fatais. Dependendo da quantidade de veneno injetado, do peso da vítima e do local atingido, nestes acidentes, observam-se, regra geral, em grau mais ou menos intenso ou prolongado, os seguintes sintomas: dor excruciante que se irradia do local de picada (que persiste durante horas), ccãibras dolorosas, hiperestesia, tremores, convulsões tônicas, hipersecreção salivar, nasal e brônquica, agitação, sudorese (suor frio principalmente na nuca), perturbações visuais que se manifestam como ataques de vertigem, queda das pálpebras acompanhada de deficiência de acomodação visual, dispnéia, priapismo, hipotermia, pulso rápido, por vezes incontável, filiforme, irregular; queda de pressão, retenção urinária e constipação tenaz nos dias subsequentes, segundo Vellard, 1926.

Venenos de aranhas e seus efeitos sobre o homem podem ser divididos basicamente em duas classes: neurotóxicos, afetando o sistema nervoso, e citotóxico ou necrótico, causando danos aos tecidos. Alguns venenos podem apresentar ambos os efeitos. Venenos de aranhas são complexas misturas contendo componentes tóxicos. A fração neurotóxica se caracteriza, basicamente, por uma ação de bloqueio aos impulsos nervosos para os músculos, causando rigidez e cãimbras. Isto se deve à super estimulação dos transmissores da acetilcolina e noradrenalina, causando paralisia no sistema nervoso simpático e parassimpático e promovendo um estresse súbito e severo sobre o corpo humano. No entanto, em outros animais o efeito pode ser diferente dos efeitos no homem. Venenos necróticos causam irritação na pele as quais podem levar à úlcera e enegrecimento do tecido (necrose) em volta do local da picada. Esta categoria de veneno contém proteínas com alto peso molecular. Em termos gerais os venenos neurotóxicos matam mais do que os venenos necróticos.

O envenenamento pela Phoneutria nigriventer foi primeiro descrito por Brazil e Vellard (1925). Tomando como base os sintomas observados nos pacientes humanos e os resultados obtidos por injeção subcutânea em animais experimentais, esses estudiosos concluíram que o veneno tratava-se de uma substância neurotóxica. (Vellard, 1926).