MÚSCULOS DO DORSO

Prof. Ezequiel Rubinstein

Os músculos do dorso estão dispostos em grupos anterior e posterior. Os músculos do grupo anterior, pré-vertebrais, incluem músculos do pescoço e da parede posterior do abdome. Os do grupo posterior, pós-vertebrais, compreendem vários músculos dispostos da seguinte maneira:

  • mais superficialmente estão o trapézio e o grande dorsal

  • em posição média estão o levantador da escápula, os rombóides e os serráteis posteriores. Os dois primeiros foram descritos com o membro superior e os últimos serão referidos logo abaixo.

  • mais profundamente situam-se os músculos do dorso propriamente dito ou pós-vertebrais profundos, inervados pelos ramos dorsais dos n.n. espinhais. Eles atuam sobretudo na coluna vertebral e serão objeto de descrição nos itens seguintes.

Os músculos serráteis posteriores são dois músculos delgados, parcialmente membranosos e de pouca significação. O serrátil póstero-superior, coberto pelo m. rombóide, estende-se do ligamento da nuca e dos processos espinhosos da 7ª vértebra cervical e de várias vértebras torácicas superiores até as costelas (2ª a 5ª). O músculo serrátil póstero-inferior, coberto pelo grande dorsal, estende-se dos processos espinhosos das vértebras torácicas inferiores para as quatro costelas inferiores.

Músculos pós-vertebrais profundos

Os músculos pós-vertebrais situados mais profundamente constituem duas grandes massas em relevo nos lados da coluna vertebral, facilmente palpáveis, e são conhecidos também com o nome de músculos da goteira ventral. A massa muscular longitudinal, de cada lado, compõe-se de três camadas de músculos pós-vertebrais.

Camada profunda

A camada profunda é constituída por:

  • músculos interespinhais, que são pobremente desenvolvidos na região torácica ou mesmo inexistentes esta região. Unem os processos espinhosos das regiões cervical e lombar.

  • músculos intertransversais, os quais também só existem nas regiões cervical e lombar. Unem os processos transversos adjacentes. os músculos que se originam nos processos transversos e se dirigem medial e superiormente para se fixarem na lâmina da vértebra suprajacente são rotadores curtos; os músculos que, tendo a mesma origem e trajeto, passam pela vértebra suprajacente e se inserem na lâmina da segunda vértebra acima, são rotadores longos. Existem nas regiões cervical, torácica e lombar da coluna

  • os músculos levantadores das costelas só existem na região torácica. Têm origem nos processos transversos e prendem-se nas costelas subjacentes.

Estes músculos são pouco conhecidos e mal estudados. Isto, aliás, é verdade para a maioria dos músculos pós-vertebrais, principalmente os profundos, e particularmente quanto à coordenação de suas ações. Assim, presume-se que os rotadores sejam capazes de rotação e que os levantadores elevem as costelas. De qualquer modo os movimentos realizados por estes músculos são de pequena amplitude e talvez eles estejam mais envolvidos com a manutenção do alinhamento de vértebras adjacentes. Deve-se acrescentar que os músculos suboccipitais, que movem a cabeça, pertencem também ao grupo de músculos pós-vertebrais profundos.

Camada média

Os músculos da camada média cobrem os profundos e têm disposição bastante complicada, com maior grau de fusão e alguns feixes saltando vários segmentos, o que lhes valeu o nome de complexo transverso-espinhal. Seus componentes são:

  • o músculo multífido, que é mais espesso na região lombar e termina na região cervical. Na verdade, está constituído de muitos feixes musculares, sem divisão clara e, por esta razão, tem sido descrito como um músculo único. Os feixes se originam do sacro e de todos os processos transversos, dirigindo-se cranial e medialmente para se inserirem nos lados dos processos espinhosos de todas as vértebras, de L5 até o axis.

  • o músculo semi-espinhal do tórax situa-se nos dois terços craniais do segmento torácico, estendendo-se dos processos transversos das seis vértebras torácicas inferiores aos processos espinhosos das vértebras torácicas superiores e cervicais inferiores.

  • o músculo semi-espinhal do pescoço tem a mesma disposição do semi-espinhal do tórax, originando-se nos processos transversos das seis vértebras torácicas superiores e se insere nos processos espinhosos da 3ª até a 5ª vértebra cervical.

  • o músculo semi-espinhal da cabeça é a parte mais alta do complexo transverso-espinhal, estendendo-se de processos transversos cervicais à parte medial da linha nucal superior do occipital.

As ações destes músculos são bastante discutíveis. Sugere-se que tenham ação extensora da coluna e da cabeça.

Camada superficial

Os músculos da camada superficial são, denominados, em conjunto, eretor da espinha ou complexo sacro-espinhal. A porção mais inferior origina-se no ílio, em vértebras lombares e em espessa aponeurose estendida neste intervalo, de onde ascende lateralmente até a última costela. Neste ponto a massa muscular alonga-se em três colunas que sobem na parte posterior do tórax, onde se inserem nas costelas e vértebras:

  • a coluna mais lateral, denominada m. iliocostal, é formada pelos músculos iliocostal lombar, iliocostal torácico e iliocostal cervical

  • a coluna intermédia, denominada m. dorsal longo é subdividida nos músculos longuíssimo do tórax, longuíssimo do pescoço e longuíssimo da cabeça

  • as divisões da coluna medial, dita m. espinhal são os músculos espinhal do tórax, espinhal do pescoço e espinhal da cabeça

Entre os músculos da camada superficial deve ser incluído o m. esplênio que cobre os outros músculos pós-vertebrais nas regiões torácicas alta e cervical. Suas duas partes são o m. esplênio do pescoço, que ascende lateralmente dos processos espinhosos torácicos superiores aos processos transversos cervicais inferiores e o m. esplênio da cabeça, que se estende dos processos espinhosos cervicais inferiores e ligamento nucal ao processo mastóide do temporal.

Ações

Pouquíssimos músculos do dorso têm sido estudados diretamente. Isto é verdadeiro, particularmente para aqueles situados mais profundamente. Algumas ações são evidentes por si mesmas, outras foram estudadas em pacientes com paralisia, e outras, ainda, foram determinadas pela eletromiografia. Mas isto não resolveu, até o presente momento, todos os problemas e questões que se levantam em relação à função dos músculos do dorso e sua coordenação. A coordenação é, aqui, de fundamental importância pois os músculos apresentam numerosas fusões e continuidades. Se o movimento se limita a uma região, cabeça ou pescoço, por exemplo, os músculos envolvidos serão apenas aqueles que agem naqueles segmentos, embora façam parte de um complexo muscular.

De qualquer forma pode-se dizer que quanto mais longitudinal o trajeto de um músculo tanto mais estará relacionado com a extensão ou flexão da coluna vertebral (ou cabeça) e com a flexão lateral. O eretor da espinha é o principal extensor; é auxiliado pelos suboccipitais, esplênios e semi-espinhais da cabeça. Quanto mais oblíquo o decurso de um feixe muscular tanto mais relacionado ele estará com a rotação. O m. multífido é rotador do tronco, função na qual é auxiliado pelos músculos oblíquos externo e interno do abdome.